O espectáculo de Stromae no Festival da Gamboa, este ano, pelo inusitado e pela qualidade, não será tão cedo esquecido pelo público praiense. Um artista absolutamente sui generis, apartado de tudo o antes visto. Aliás, essa capacidade de ser misterioso é uma das suas marcas. Numa tournée pelos Estados Unidos, um sugestivo outdoor pelas ruas de Austin, Texas, questionava ‘Who the hell is Stromae?’ (Que diabo é o Stromae?). Isso ilustra bem a dimensão surpresa que o músico encerra.
Sem nunca ter vivido em África, apesar de ser filho de pai ruandês, o artista montou a sua primeira tournée pelo continente africano como algo especial e incontornável para a sua carreira e sua vida. Nessa saga existencial, quis incluir Cabo Verde, e na primeira oportunidade conseguiu o seu intento. Mal fechara a agenda para estas ilhas, publicou na sua página de facebook a notícia daquilo que seria a tournée da sua vida. Sim, da sua vida.
Em Cabo Verde pôde descobrir muito de si, da mestiçagem, do multiculturalismo e do transculturalismo, e do melting polt que foi Cidade Velha na história transatlântica. A paixão por estas ilhas despertada pelas melodias de Cesária, a quem homenageia a cantar Avé Evora, com lágrimas nos olhos, estava finalmente reconfirmada. Cabo Verde foi simbolicamente a sua porta de entrada para a África e o Festival da Gamboa foi a sua rampa de lançamento para este nosso continente, apesar de antes ter passado pelo Senegal. E a emoção de Stromae prosseguiu pela África profunda. Nos Camarões e na Costa do Marfim foi recebido como um príncipe, homenageado em programas de TV. O último ponto ‘desta travessia’ do músico belga, não por acaso, será Ruanda.
Por onde passa ouve coros de Alors on Danse, e Papaoutai. Não será esquecido nestas ilhas e no Mundo, tal o encanto do reencontro – Ave Stromae!
- As rádios e TV’s anunciam mais um festival de música, desta feita na Ribeira da Barca. Chama-se Top Festival ou Festividades de 31 de Maio. O projeto é do músico Beto Dias que pretende trazer ao de cima o nome e os encantos da localidade. Há um frenesim especial à volta do evento, com os artistas a participar sem cobrar cachê. O objectivo é ajudar a localidade, começando pela melhoria da moradia das pessoas, dizem os organizadores. Que não fique pelo simples passa sabi, é o que desejamos.
- As declarações do diplomata europeu sobre o ambiente de negócios não foram bem recebidas pelo Governo que em reação boicotou a recepção da União Europeia, por ocasião do Dia da Europa. É sabido que os parceiros e as relações internacionais se regem pela não ingerência ativa. Mas aqui vale fazer um exercício de memória, e trazer à nota uma altura em que vários diplomatas residentes no país, quase que em uníssono, fizeram rasgados elogios à governação de José Maria Neves. Na época não houve qualquer reação.
Outrossim, crónicas a elevar o embaixador pelo ato e a destratar o governo, às vezes não valem só pela Mensagem, mas pelo Mensageiro. Mas como a verdade dos factos em Cabo Verde é sempre relativizada, vamos terminar como começamos: on danse!