Chama-se Ecobus e já tem uma pequena frota de hiaces a circular nas estradas da ilha de Santiago movidos à base de óleo alimentar reciclado. Um dos seus donos, Fáron Peckham, é um canadiano com antepassados da ilha do Fogo. Estudante ainda de economia descobriu que há Cabo Verde excelentes oportunidades de negócios.
Fáron Peckham diz que a Ecobus está a operar em fase experimental há três meses, com três hiaces na rota Praia/Assomada/Praia. Brevemente, mais duas viaturas entrarão em serviço, logo assim passarem pelo processo de adaptação do combustível: óleo vegetal reciclado como combustível.
Independentemente de ser uma empresa “amiga do ambiente”, a Ecobus quer, acima de tudo, prestar um serviço regular e de qualidade aos seus utentes. “Os nossos carros saem sempre no horário certo da cidade da Praia (na zona do Centro Social 1 de Maio) com destino à Assomada”. E vice-versa.
Segundo Peckham, os resultados conseguidos até agora demonstram que o projecto tem “pernas para andar”. “Com a colocação de mais dois veículos no circuito, no próximo mês de Junho, a nossa intenção é melhorar a qualidade de serviços do transporte colectivo de passageiros na frota Praia-Assomada-Praia”, sublinha.
Com esse reforço aquele empresário conta responder às necessidade dos utentes que se deslocam diariamente entre essas duas principais cidades da ilha de Santiago, e que, quando a trabalho ou outros motivos, sempre precisam chegar ao destino na hora cerca e sem stress. “Mas infelizmente, muitas vezes, não conseguem devido à desorganização e indisciplinas existentes nos serviços prestados pelos hiacistas particulares”.
MELHORIA DOS SERVIÇOS
Fáron Peckham salienta que a intenção da Ecobus não é acabar com a concorrência, mas sim oferecer um serviço organizado e com qualidade aos passageiros e que no final do trajecto todos saiam a ganhar. “Num país de Rendimento Medio é inaceitável alguém sair da sua casa ou serviço, na cidade da Praia, às 9 horas, para ir resolver um assunto às 11 horas, na Assomada, e não ter certeza se vai chegar à hora certa ou não. Ou então chega tão cansado que perde a vontade para resolver o seu assunto. Isso devido a dezenas de voltas que é obrigado a dar dentro de um hiace até este encher antes de partir para o destino final. Além disso, muita gente sente teme viajar nos hiaces entre Praia-Assomada devido às voltas que os hiaces dão, ou por causa da superlotação”.
Sabendo disso, as viaturas da Ecobus trabalham com horário certo de saída e de chega. O primeiro carro sai da cidade da Praia, às 7 da manhã e chega à Assomada às 7h55; o segundo sai às 8 horas e chega às 8h55, ou seja, um carro por hora, até ao encerramento dos serviços às 20 horas. Mas há outras novidades.
Ao embarcar o passageiro recebe um cartão que regista, através de GPS, o local onde entrou no veiculo, assim como o percurso que acabou por fazer. E, ao descer, o cartão é passado numa máquina existente no carro que atribui o “preço justo” pela viagem. Por exemplo, o percurso Praia-Assomada custa 200 escudos; Praia-Órgãos 100 escudos; Órgãos-Assomada 100 escudos…
Conforme Fáron, quando a Ecobus for lançada oficialmente e com mais veículos vai-se introduzir passes para os utentes que se deslocam todos os dias entre Praia-Assomada.
PONTOS DE RECOLHA DO ÓLEO
O óleo vegetal usado pela Ecobus é recolhido junto de restaurantes e hotéis da cidade da Praia, num total de 40, que usam boa quantidades desse produto. Conforme relata, no início, houve alguma resistência da parte de alguns restaurantes em entregar-lhe o seu óleo.
“Outros houve que abraçaram logo a ideia do nosso projecto”, afirma. “Até porque o óleo usado para fritos não pode voltar a ser consumido nem lançado ao solo, dado que é prejudicial para a saúde e ao ambiente. Nós deixamos os baiões de 25 litros em cada fornecedor e fazemos recolha de 15 em 15 dias, de cerca de 250 litros desse resíduo líquido para posteriormente ser tratado e reciclado. Basicamente é assim que a coisa funciona”.
EMPREGOS
A Ecobus, nesta primeira fase, emprega 11 elementos, na sua maioria condutores. Conforme o seu proprietário, há outras funcionários que prestam serviços nas áreas de mecânica, eletricidade e informática.
Fáron Peckham diz que os investimentos feitos neste projecto até agora ronda os seis mil contos, sendo que a maior parte das viaturas foi adquirida em segunda mão no mercado interno. “As nossas viaturas foram readaptadas com a ajuda de um técnico alemão. Não precisei sequer de recorrer ao banco para pôr de pé a empresa”, diz optimista e seguro do sucesso da Ecobus.
DESCOBERTA DE CABO VERDE
Fáron Peckham, 30 anos, é formado em economia. Nasceu no Canadá, viveu nos EUA. Um seu bisavô, que morreu nos anos setenta, era natural da ilha do Fogo. Conta que chegou a Cabo Verde, pela primeira vez, em 2005, como turista, numa viagem de fim de curso, no sentido de descobrir oportunidades de negócios em África.
“Ao passar por Cabo Verde constatei que há aqui muitas oportunidades de negócios, nomeadamente na área de transporte de passageiros. Regressei aos EUA para juntar dinheiro e sócios. A nossa primeira tentativa foi em 2006. Na altura éramos quatro, dois voltaram mais cedo e ficamos eu e um outro sócio que regressou recentemente aos EUA”.
Utilizar óleo de cozinha reciclado como combustível automóvel era um sonho que Peckham trazia desde os seus tempos de estudante universitário. “Ao chegar a Cabo Verde percebi que isso era possível devido às condições climatéricas existentes aqui e ao baixo índice de aproveitamento do óleo de cozinha utilizado para fritar alimentos. Estou a trabalhar neste projecto há nove anos e sinto-me confiante”, finaliza.
Empresa abre frota de hiaces movidos a óleo de cozinha reciclado
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