A Direcção-Geral dos Desportos tem em preparação uma ampla reforma no sistema desportivo cabo-verdiano. A ideia passa por adequar a época desportiva, regulamentar as leis existentes, introduzir novos mecanismos de financiamento e prestação de contas das federações. Um outro ponto, não menos importante, é definir as políticas relaciona- das com a rede de infraestruturas.
Gerson Melo, que assumiu o cargo de diretor-geral dos Desportos há cerca de um ano, diz-se determinado em introduzir reformas no sistema desportivo para que o sector possa, finalmente, acompanhar o desenvolvimento das outras áreas.
Aquele responsável considera que houve uma evolução “técnica” no desporto nacional, com atletas formados e a evoluir no exterior, alguns dos quais conseguiram representar o país trazendo resultados desportivos “satisfatórios”… “Mas, infelizmente”, sublinha, “as estruturas não conseguiram acompanhar essa evolução. Se queremos voos mais altos teremos que fazer uma mudança de mentalidades”, avisa.
A “adaptação” da época desportiva é uma das principais reformas que a DGD pertente implementar, quanto antes, como forma de adequá-la ao continente africano. “Se, culturalmente, podemos dizer que estamos ligados à Europa, a realidade dos factos é que, no campo do desporto, competi- mos em África”, alerta.
“Quando falamos em adaptar o nosso calendário competitivo não é só fazer coincidir a nossa época desportiva com o ano civil. Estamos a falar em ter mais tempo de competição e com mais rigor”, acrescenta.
Cultura de prestação de contas
Em relação aos recursos financeiros, Gerson Melo diz que, aqui, é preciso mudar urgentemente o paradigma da gestão do desporto. “Não podemos continuar numa de só pedir dinheiro. Temos que dar credibilidade ao desporto, introduzindo princípios de transparência” frisa o diretor-geral, considerando que para tal é preciso adoptar mecanismos de prestação de contas.
Para já, o que a DGD propõe é, primeiro, uma relação mais próxima com as federações. Para a assinatura dos contratos-programa solicita, além da prestação das contas do valor disponibilizado através do Orçamento do Estado, a disponibilização dos estatutos e dos regulamentos das competições.
“Se queremos ter mais recursos no desporto, temos que demonstrar, e passar para fora, uma maior credibilidade, uma maior transparência, e isso só será possível com a apresentação de contas claras e agir dentro da legalidade”. E salienta: “Nenhuma empresa privada vai querer apoiar o desporto se não houver essa transparência”.
Legislação
O sistema desportivo cabo-verdiano dispõe de várias leis dispersas e, quase todas, sem regulamentação. Entretanto, desde 2011, com a aprovação da Lei de Bases do Desporto, ficou-se a saber que o sistema precisa ainda de mais 24 diplomas legais.
“Estamos a falar de leis que vêm de um passado longínquo e daí a sua desatualização. Temos já para a publicação cinco diplomas: a Lei do mecenato, o Regulamento jurídico das associações desportivas, o Estatuto de utilidade pública desportiva e o Estatuto do dirigente desportivo”.
Infraestruturas
Houve ultimamente uma “febre” de campos de relva sinestética em quase todos os municípios do país, mas pouco ou nada se fez em em relação às infraestruturas para as modalidades de salão. Ciente disso, o DGD diz que em relação às infraestruturas especializadas, ou seja, de salão, “muitas vezes, se pensa no ideal, no perfeito… Não tendo o prefeito podemos trabalhar no que temos, por- que existem várias placas desportivas espalhadas pelo país que estão a ser subutilizadas”.
Em relação ao Pavilhão Vavá Duarte, alvo recorrente de várias críticas no tocante à sua gestão, Gerson Melo garante que se está a trabalhar no sen- tido de reformular todo o sistema do seu funcionamento. “Como forma de libertar o pavilhão de outras práticas, estamos a criar centros de treino com o aproveitamento das infraestruturas escolares”, assegurou.
Atleta 2022
A DGD pretende implementar o programa “Atleta 2022” virado para treinos de jovens seleccionados com vista à qualificação para os Jogos Olímpicos de 2024. O projecto, segundo a nossa fonte, obriga o evoluir do nível dos técnicos e dos atletas das diferentes modalidades, a criação de um corpo de formadores nacionais capacitados para a estruturação de selecções competitivas nos Jogos da CPLP de 2016, que Cabo Verde vai acolher.
Pretende-se com este projeto, fazer com que, em 2022, Cabo Verde possa ter um lote de atletas capazes de se qualificarem para os Jogos Olímpicos de 2024.
Gerson Melo revelou que a escola terá de ser, “obrigatoriamente”, a base do recrutamento do desporto cabo-verdiano, para que no futuro o país possa estar em condições de ter atletas de alto rendimento para o representar nos grandes palcos continentais e mundiais.
A metodologia, explica, terá de ser centralizada no atleta e nos técnicos. Aqui, a aposta vai para os jovens dos 13/14 anos, mediante treinos de especialização e de rendimento, para que nos próximos seis/oito anos Cabo Verde tenha atletas com uma certa maturidade desportiva, de modo a representarem o país ao mais alto nível.
DGD prepara grande reforma no sistema desportivo cabo-verdiano
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