Quem produzir aguardente a partir de açúcar destilado, nesta temporada, corre o risco de ver todo o esforço do seu trabalho ir parar ao ralo dos esgotos. Assim pensam os responsáveis do Ministério do Desenvolvimento Rural (MDR), que prometem combate sem tréguas aos contrafactores. Isto porque o novo regime jurídico, que entra em vigor a partir de Agosto, define como grogue só aquele proveniente da cana-de-açúcar.
Os produtores movimentaram-se no sentido de dissuadirem os colegas a não produzirem aguardente a partir de açúcar já nesta temporada, que se iniciou em Janeiro e vai até Julho próximo. Mas, tanto as autoridades como os próprios produtores mostraram-se conscientes da missão que têm pela frente.
Isto porque, apesar de alguns aderirem à ideia de que a aguardente à qual adicionam produtos prejudica a saúde dos consumidores, muitos produtores voltaram a cair na tentação de comprar sacos de açúcar para transformar em bebi- da alcoólica.
Da sua parte, o MDR promete apertar o cerco aos contrafatores, com uma fiscalização rigorosa em pontos de armazenagem, mas também nos portos e aeroportos. O delegado do MDR na Ribeira Grande e no Paul, Santo Antão, Osvaldo Maurício, garante que haverá fiscalização a todos os níveis de modo a impedir que a aguardente produzida a partir de açúcar entre no circuito comercial.
“Normalmente, as pessoas transportam esse tipo de produto em bidões de plástico e os fiscais ficarão atentos no porto do Porto Novo e noutros pontos para combater essa contrafação”, declara aquele engenheiro.
A ministra Eva Ortet avisa também que a partir da entrada em vigor do novo regime jurídico geral da produção da aguardente de cana-de-açúcar, em Agosto, não haverá mãos a medir. Até porque são graves as consequências do consumo da aguardente produzida com açúcar ao qual se adicionam produtos tóxicos no processo de fermentação.
Como se pode constatar no terreno hoje, em Santo Antão, há jovens consumidores desse tipo de bebida que, com 20 anos ou menos, aparentam ter 60 anos, já não conseguem trabalhar e mal conseguem manter-se de pé.
CUSTOS SOCIAIS ELEVADOS
Fora isto, o psiquiatra Aristides da Luz e médicos como Sousa Santos e Arlindo do Rosário não se cansam de alertar para as consequências psicomentais do consumo desse produto, a desestruturação das famílias e os altos custos para a saúde pública. Prova disso é que a taxa de ocupação da enfermaria da Medicina, por parte de pacientes com algum grau de dependência alcoólica, chega a um terço das camas disponíveis no Hospital Dr. Baptista de Sousa (São Vicente), ou Dr. João Morais (Santo Antão).
Os custos sociais e familiares mostraram-se elevados. Por isso, trava-se uma guerra contra a aguardente de má qualidade, produzida em condições higiénicas deploráveis.
Do ponto vista económico, os produtores já fizeram os cálculos e mostram que, em vez de uma fabricante produzir 40 garrafões, de 20 litros, de aguardente de açúcar, consegue metade dessa quantidade a partir da cana-de-açúcar e ter um rendimento igual ou superior. Ou seja, um litro da aguar- dente de açúcar custará à volta de 250$00, quando a mesma quantidade do grogue da cana pode ir ao mercado por pelo menos 500$00.
Disso resulta, desde logo, numa duplicação do preço. Aqui os mais otimistas consideram que um litro de grogue pode chegar a 1000$000, desde que seja certificado e comercializado como um produto genuíno de Cabo Verde.
Aguardente de açúcar pode ir para o esgoto
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