O grande desafio de Cabo Verde é que os cidadãos assumam o país real com sentido das possibilidades, defendeu hoje, na Praia, o ex-Presidente da República (PR), Pedro Pires, em resposta ao primeiro-ministro durante o II Diálogo Estratégico.
O Chefe de Estado entre 2001 e 2011 respondia às perguntas que lhe foram formuladas por José Maria Neves no ponto “Conversa com Pedro Pires” para saber do primeiro chefe do Governo cabo-verdiano como foi quando assumiu essas funções em Julho de 1975 e que desafios abraçaria hoje se estivesse no cargo.
Segundo o ex-PR, não basta ter ideias se não forem exequíveis e reconheceu, por outro lado, que os cabo-verdianos exigem mais do que o país pode efectivamente dar.
Na sua visão, nesta sociedade mais complexa, informada e exigente, a educação peca porque não transmite a exacta dimensão das fraquezas e limitações do arquipélago, pelo que aconselhou a se fazer uma reflexão sobre os conteúdos ministrados desde a escola primária, passando para os restantes sub-sistemas de ensino.
Para atender a essas expectativas, que qualificou de “muito acima das possibilidades do país”, entende que se deve criar mais, produzir mais, num compromisso de cada cidadão com Cabo Verde.
Pedro Pires criticou o facto de a nova geração não dar suficiente valor às facilidades que teve, salientando que uma aposta forte deve ser feita na democracia participativa, enquanto democracia responsabilizadora e onde cada cidadão tem direitos sim, mas tem deveres.
O reequilíbrio entre direitos e deveres deve ser a grande preocupação de todos os cabo-verdianos, declarou o ex-PR, que confessou ter sentido “um grande vazio” no dia seguinte à independência nacional, já que deixou de ter adversários e inimigos.
E tinha que mudar de atitude passando de contestatário e revolucionário para um homem de Estado, um percurso que começou meses antes durante as negociações, com Portugal, para a independência nacional que chefiou em 1974.
Justificou muitas decisões tomadas e que estão plasmadas no programa do primeiro Governo do país, em que a prioridade foi dada à mobilização de todos para a construção de um país com melhores condições de vida para todos, destacando-se mais saúde, educação e segurança social.
Nesse recordar dos 40 anos depois do 05 de Julho, Pedro Pires não se furtou a justificar porque nunca teve uma mulher neste que é hoje um país de ministras. “Não era uma prioridade”, admitiu, dizendo que com isso não quer dizer que não era importante ou que não houvesse cabo-verdianas capazes.
Preferiu falar das conquistas alcançadas na libertação da mulher da tutela e do comando do homem e do marido, do código de família aprovado que reconhecia a igualdade dos dois no espaço e governo do lar e mesmo da lei do aborto, que foi manipulada para fazer política contra o regime de então, mas que ainda nenhum Governo decidiu mudar ou alterar.
“Mas não foi uma dádiva”, garantiu para sublinhar que se trata de conquistas das próprias mulheres cabo-verdianas, na base das quais está sobretudo o investimento feito na escolarização e educação das raparigas.
O II Diálogo Estratégico, promovido pelo Instituto Pedro Pires para a Liderança terminou, esta tarde com a conversa entre o ex-PR e o actual primeiro-ministro, depois de debater os temas: “Inovação social, inclusão e qualidade de vida” e “A inovação enquanto motor do crescimento económico”.
Fonte: Inforrpress
O grande desafio dos cabo-verdianos é assumirem o país real – Pedro Pires
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