Sem cultura não há turismo, porque o turismo é um produto cultural. Daí, não fazer muito sentido para o Ministro Mário Lúcio Sousa falar de cultura como produto turístico.
Foi este desmistificar de conceitos que o ministro e artista trouxe ao painel que apresentou ontem ao fim da tarde no “Mindelo Meeting Point”, a decorrer até sábado,10, na ilha do Monte Cara.
“A cultura não é um produto turístico, porque a cultura em si não é um produto, mas sim a fonte de onde emana todos os produtos conhecidos, até hoje, fabricados pelo homem e até aqueles que eles não criam, mas crêem, como é o caso da religião. A cultura é sinónimo de antropologia, é tudo aquilo que o homem faz”, clarificou Mário Lúcio Sousa, perante uma plateia pouco composta, para um tema que muitas vezes passa despercebido aos grandes operadores.
Mesmo assim, o ministro foi expondo a sua tese e argumentos, realçando que o “turismo é uma dessas consequências do desenvolvimento cultural” e, por isso mesmo, defende que “é preciso decidir que tipo de investimentos fazer na cultura e no turismo, agora, e bem cedo”.
Escassez de investimentos
Até porque, “o maior investimento que o povo de Cabo Verde fez nos seus 550 anos de existência foi na cultura”, mas “de lá até cá” o “menor investimento público que o Estado tem feito em Cabo Verde por este povo é na cultura”, alertou para avançar de seguida, que assim sendo “alguma coisa não está certa” e quem “paga a factura são os pobres gestores dos ministérios, que têm 50 mil contos para gerir por ano”.
Isto para dizer que a escassez de verba tem de facto condicionado os investimentos no sector da cultura. “Nós investimos 1 décimo daquilo que custa uma barragem na cultura por ano. É o investimento que fazemos”.
Daí cada vez mais a pertinência de uma abordagem mais consciência no binómio cultura-turismo. “O turismo, assim como produto cultural, a nossa arte de receber, a nossa morabeza, a cozinha, a nossa formação, e como se disse aqui, até a forma como concebemos os nossos portos e aeroportos, os nossos hotéis e restaurantes, são produtos da nossa evolução cultural. E quem vem vem sempre por razões culturais e nós vamos ser distintos pela forma como recebemos”, defendeu.
A cultura assume assim como produtor e não um produto. “Desde a rota do chá e da seda, todas as manifestações que levaram ao comércio tiveram na base a cultura”.
Nesse contexto, quando falamos de negócio não pudemos falar como um produto, porque o negócio negoceia produtos. “Não há comércio sem uma grande produção, seja de um produto concreto como a pedra, o bloco ou um diamante, seja de coisas virtuais como a internet. Mas tem de haver uma produção base para haver negócio. Nunca haverá turismo em nenhum lugar senão houver uma produção que alimente o turismo. Todas as produções são fenómenos culturais”, sustentou. GC
Mário Lúcio: “A cultura não é um produto turístico, mas o turismo é que é um produto cultural”
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