A cinco meses da época das chuvas, o problema da falta de pasto em Santa Cruz, ilha de Santiago, persiste, não obstantes as medidas adoptadas pelo Ministério do Desenvolvimento Rural (MDR). Uma delas, a venda de ração a preço subsidiado.
Francisco Varela, criador da localidade de Monte Negro, refere que já perdeu uma vaca. “Dizem que o MDR tem ajudado com rações, mas isso não é suficiente porque, muitas vezes, não temos dinheiro para comprar rações para os animais”, afirma.
Na Ribeira Seca, Tiago Moreira, que esta reportagem encontrou a medicar uma vaca em agonia por ter ingerido algo nocivo por falta de pasto, desabafou: “Não temos nada para dar aos animais. Se o Governo não nos ajudar, só nos resta assistir de mãos atadas à morte do nosso gado. É o caso desta vaca que comprei por 90 mil escudos e que está doente. Caso morrer, perderei o dinheiro investido nela”.
Para suprir a falta de pasto, Moreira, que é dono de um alambique, diz estar a aproveitar o bagaço da cana-de-açúcar para alimentar os seus animais. Confrontado com a proposta do MDR para a redução dos efectivos, como forma de mitigar a falta de pasto, ele responde que essa não é uma alternativa muito viável. “Com a falta de pasto, os animais não conseguem desenvolver-se; sendo assim, temos de vendê-los por um preço abaixo do que os compramos”, contrapõe.
João Monteiro tem gado em Matinho e Augusto Évora. Conta ter tido algumas perdas e receia outras mais, à semelhança de vários outros criadores da região. Também ele critica a forma como o MDR tem lidado com o problema da falta de pasto. “Na minha forma de ver, o MDR devia fazer o levantamento dos criadores e, seguidamente, a distribuição dos meios de subsistência de forma mais adequada”, afirma.
A NAÇÃO contactou a delegada do MDR de Santa Cruz, Cândida Cardoso, para responder às críticas dos criadores, mas ela declinou o convite por se encontrar de baixa médica. Contudo, o director dos Serviços de Pecuária do MDR, João Fonseca, avançou que o ministério “tudo tem feito para apoiar os criadores de gado afectados pela falta de pasto”.
Fonseca salienta que, além do programa de ração, o MDR encontra-se no terreno a realizar campanhas para informar e sensibilizar os criadores de como proceder para receber os apoios existentes. Independentemente disso, aconselha-os também a procurarem outras soluções para minimizar os efeitos da falta de alimento para os animais.
Virgínia Barros
Pasto em Santa Cruz: Criadores de gado insatisfeitos com MDR
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