Terminou com chave de ouro a primeira noite da VII Edição do Kriol Jazz Festival. O camaronês Richard Bona pôs toda a gente a dançar e a cantar “Sodade”, em homenagem a Cesária Évora.
O festival arrancou perto das 20h30, mas a noite começou “fria”, na Praça Luís de Camões, não só pelo vento que se fazia sentir mas pela falta de público ainda para prestigiar Dany Silva, o homenageado deste ano do Kriol Jazz Festival. “Uma homenagem simbólica” como o próprio afirmou, onde ele fez questão também de homenagear dois compositores “que ajudaram” a fazer da sua carreira aquilo que ela é hoje. B.Leza, com Lua Nha Testemunha e ainda Ano Nobu. Dois momentos muito aplaudidos pelo público e que deixaram Dany Silva muito emocionado e feliz, por ainda ter sido homenageado “com vida”.
O artista da diáspora, abriu o palco para o primeiro concerto da noite – Dino d´Santiago, que foi recebido com um forte aplauso, já com uma moldura humana muito mais composta. O jovem que alia a música tradicional ao soul e jazz começou por interpretar “Nos África”, um tema que irá constar já do seu novo álbum, assim como “Nos crença” e “Jorge com Andresa”, uma música dedicada aos pais, ambos da ilha de Santiago. Mas houve ainda espaço para grandes sucessos conhecidos do público. “Ka bu tchora” e “Monte Graciosa” dois temas do seu primeiro trabalho, “Eva” também muito aplaudidos. Dino d´Santiago trouxe uma surpresa, a jovem portuguesa Fábia Rebordão, uma das novas vozes do fado português da nova geração.
Mostrando a Lisboa criola e cosmopolita, Fábia Rebordão, cantou e encantou em dueto com Dino o famoso “Petit pays” de Teofilo Chantre e imortalizado por Cesária Évora.
Cesária muito lembrada
Cesária Évora que foi aliás lembrada várias vezes ao longo da noite, inclusive pelo senhor que se seguiu Jowee Omicil. Um jovem haitiano, mestre dos sopros que contagiou a plateia ao som do seu saxofone e do clarinete. Interventivo e muito interactivo com o público. “Cabo Verde, boa noite. Este show é para vocês”, interpretando “Angola” de Cesária, no meio do público ao som do seu saxofone. Um dos momentos mais carismáticos da noite. “Onde quer que a gente vá como músicos, devemos honrar o público, as origens.”
Jowee mostrou-se radiante por poder conhecer a terra de Cize, e trouxe uma mensagem de amor e paz, “através da música”. O haitiano distribuiu ainda pulseiras de “peace & love” entre o público, gritando várias vezes “Paz to you” – paz para vocês!
Já o público estava em êxtase quando subiu ao palco Richard Bona, numa verdadeira ovação. Mas uma ovação maior estaria para vir quando Bona presenteou a plateia repleta, com um momento muito especial. Ao palco subiram Caco Alves, Tó Alves, Zé Paris e Rob Leonardo para acompanharem Bona, que pôs de lado a sua guitarra para ousar cantar “Sodade” em homenagem a Cesária.
“Quem me dera que ela estivesse aqui. Ela perguntou-me duas vezes quando é que eu viria para Cabo Verde, finalmente vim cá, mas infelizmente ela já não está aqui. Mas, provavelmente ela ouviu-me esta noite, onde quer que ela esteja”, disse ao A Nação.
O momento foi sentido e vivido pelo público, que se pôs de pé para dançar e cantar com Bona, que se diz muito feliz em Cabo Verde e inspirado pela nossa música e artistas.
“Os músicos cabo-verdianos também me inspiram. Antes do espectáculo estive no hotel a ensaiar com os músicos que me acompanharam. Eles queriam que eu tocasse cavaquinho (risos)…mas disse que não, que ia só cantar. Mas a música é isso mesmo, um processo de partilha”.
E foi mesmo um concerto de partilhas, muito boa música e muitos pés de dança, com o público a terminar o show a pedir bis e mais bis. Até Mário Lúcio Sousa, Ministro da Cultura e a cantora Maria de Barros se renderam à energia de Richard Bona.
Hoje, a segunda noite promete também. Será preenchida com Lura, (Cabo Verde), Reis Demuth Wiltgen Trio (Luxembourg), Céu (Brazil) e a tão aguardada Esperanza Spalding (USA).
Mas antes, as 17h há masterclasse com Richard Bona no Palácio da Cultura.
GC
Kriol Jazz: Praia rendida a Richard Bona
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