José Pereira Miranda
Realmente dá que pensar. Se somos todos cabo-verdianos, se todos lutamos para o desenvolvimento não só da democracia, o mais falado no nosso país por todos os partidos políticos, mas também, para justiça e desenvolvimento e, se para estar no governo, no parlamento ou nas autarquias, são precisos os votos de cidadãos, não se percebe como é que um que ganha de cento vinte mil para cima necessita de reajustamento salarial com mais x percentagem e, o que ganha menos de cinquenta mil, menos de vinte mil, menos de quinze mil ou ainda os que se encontram sem um tipo de salário, tenham que esperar porque o tempo é de crise e o país tem falta de recursos!…
Por outro lado, é de toda a justiça, que os nacionais que lutaram, física e intelectualmente para se formarem a ponto de terem a capacidade de chefiar um governo, uma câmara municipal ou representarem o povo num parlamento, tenham um vencimento, pelo menos, equiparado a um chefe de empresas, seja pública ou privada, sobretudo, o dirigente máximo do país, que é o presidente da República.
Penso que tanto os deputados que submeteram ou aprovaram proposta para o reajustamento salarial no novo estatuto de cargos políticos, como os cidadãos sem trabalho ou os que se encontram em serviços de responsabilidades, sobretudo os da carreira docente e os da saúde, têm toda razão.
Se por um lado, não é possível ter dirigentes máximos sem intelectuais capacitados, por outro lado, não há intelectuais sem professores, nem representantes das classes laborais, sem saúde.
De igual forma, para haver enfermeiro, médico, professor ou qualquer responsável para cargos públicos, é necessário que a família esteja em condições de sustentar os seus elementos uma vez que é ela que oferece as pedras básicas para formação de toda e qualquer quadrante social. E, a família em destaque, mutas vezes, é aquela que é menos vista e menos servida economicamente.
Neste caso e na minha opinião, os políticos responsáveis pelo povo, antes de tomarem uma decisão idêntica à de aprovação do reajustamento salarial em discussão, devem reflectir bem e, se possível, ouvir opiniões dos eleitores da sua área de acção.
Não podemos e nem devemos ignorar que o cabo-verdiano, mesmo dos analfabetos, muito pouco, ou mesmo nenhum, a não ser os que os que se deixam desviar por caminhos tortuosos, é ignorante.
Todos os dias, se ouve pela comunicação social, desacordos entre os partidarizados, (no poder/na oposição) no que tange aprovações das propostas, tanto nas autarquias como no parlamento. Chegando a vez da proposta de aprovação do novo estatuto de cargos políticos porque se encontra nele os artigos de reajustamento salarial, para os governantes, houve aprovação por unanimidade e sem o menor desentendimento. Só veio manifestar «acidentes» com a manifestação discordante, da população sofrida.
Eu também não penso que este momento seria a melhor ocasião para esse reajustamento salarial, não só pelo ano crítico que atravessamos como ainda porque temos uma grande massa da população inactiva; uma grande porção de pessoas a esgravatarem as ribeiras em pleno sol e pó, com cirandas no peito, por vezes, até com crianças menores a ajudarem, para arranjarem areia para o ganha-pão; mulheres a correr de polícia na procura de inertes nas praias; jovens desempregados, por falta de trabalhos servis; estudantes em casa com certificados na mão sem empregos; tudo por falta de fundo. Os senhores deputados, deveriam aconselhar o governo, para antes desse reajustamento salarial, criar postos de trabalho para os «zés e as zesas» sem trabalho.
Como sabemos, os trabalhos de frentes de serviços deixaram de funcionar porque a população estava enganada que os serviços de estado é para ganhar dinheiro e não para trabalhar. Disso também sou de acordo.
Todavia, chega altura de reabrir esses serviços, mesmo que através de uma empresa, se necessário, como se faz com as construções de estradas ou de casa para todos. Os que realmente querem serviços, vão trabalhar, recebem os salários e em troca dão os rendimentos equivalentes. Assim, se alguém pretender esperar as vagas de trabalhos mais qualificados, decerto, não dirão que o governo não deu trabalho aos desempregados.
Fala-se muito da protecção do ambiente e da conservação da natureza, enquanto as águas das cheias continuam devorando as nossas ladeiras anos por anos, à nossa vista;
Vários lugares ainda precisam de estradas, várias ruas das nossas cidades precisam de melhoramento de calcetamento e várias estradas também precisam disso e, algumas ribeiras precisam de correcções.
Seria uma grande oportunidade, aproveitar das ajudas que o Cabo Verde vem recebendo nestes anos de crise, para fazerem os trabalhos citados enquanto o povo ganhar o pão de cada dia, o ambiente é melhorado e a natureza é protegida.
Ao certo, se, se decidirem em retomar esses trabalhos, deverão ser para as pessoas sem trabalho e não para as máquinas das empresas. Deverá ser um ganha-pão e não um negócio. Quanto ao rendimento deverá ser levado à consciência e ao empenho dos que quererão trabalhar. Se alguém com necessidade do trabalho negar esse serviço agora os governantes terão desculpas. Fora disso, não há razão para aumentar salário seja a quem for. Não é justo que alguém coma à gula e outro morra por falta de pão, se todos pertencem ao mesmo país.
Por outro lado, já se aprovou a proposta de fundo do desemprego, se calhar já se está a pensar em arranjar novos impostos para arranjarem esse fundo; para o tal reajustamento, decerto, será nos magros salários dos pobres efectivos em acção que se pensará em arranjá-lo, para além de tudo que se vem descontando até agora. Se não há amor, pelo menos justiça…
Uma reflexão conciliadora entre os políticos e os cidadãos aflitos
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