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Cultura

Yara Azevedo: Menina-mulher de mil talentos

Cantora, poetisa e actriz de teatro são apenas alguns talentos que se podem apontar a Yara Azevedo. Uma jovem de 17 anos cujos “antecedentes” familiares podem justificar toda essa veia artística, sendo bisneta do grande poeta cabo-verdiano, Pedro Corsino de Azevedo.
A simpatia, meiguice e ao mesmo tempo a personalidade forte não deixam ninguém ficar indiferente a Yara Azevedo. No entanto,  parecem ser mil os atributos desta menina-mulher, natural da ilha de Santiago, mas que, desde dos três anos, vive em São Vicente.
Para começar, pode-se apontar o lado escritora/poetisa que herda do lado materno. Já que não poderia ser diferente, por ser neta do poeta e artista plástico Osvaldo Azevedo e logo bisneta do famoso poeta são-nicolauense Pedro Corsino de Azevedo, tido como um dos renovadores da moderna poesia cabo-verdiana, a par de Jorge Barbosa, Osvaldo Alcântara e outros mais.
“Quando criança morava com os meus avós e cresci lendo os textos do meu avó e vendo-o fazer aqueles bonecos lindos que só ele sabe fazer”, conta Yara, que neste momento mantém o blog “Insonhos 97”, onde, como diz,  coloca os seus “estados de alma”, através da escrita de poemas e de textos livres.
Nessa caixinha de surpresa, que é esta menina de 17 anos, cabe ainda uma cantora de gosto musical diversificado. Talento que pode ter raízes em Jotamont (Jorge Monteiro), tio da mãe, e também através do pai, xxxxxx, que “dedilha um pouco na guitarra”. Esta aptidão que levou Yara, aos 13 anos, a integrar o grupo Coral da Escola Jorge Barbosa, onde até agora estuda e que normalmente figura-se no quadro de honra. “Entrei enganada, pensando ser só aulas de canto, que me fizessem melhorar a minha performance, mas depois passei a gostar”.
O grupo que permitiu a essa estudante pisar o palco do Festival da Baía das Gatas e passar a ser uma das referências, já que o professor Valério Miranda sempre a cita como um dos melhores talentos que passaram pelo coro. Enfim, inspirada pelo ambiente musical, Yara, de forma um pouco autodidacta e com a ajuda de pautas tiradas da internet, aprendeu a tocar guitarra. Tanto assim é que acredita já ter superado o pai e tem planos de em breve montar uma dupla juntamente com a tia Ana Azevedo, irmã da mãe.
Bichinho do teatro
É a partir do coro que Yara conhece o teatro, outra das suas paixões. “Janaína Alves precisava de alguns elementos de um pequeno grupo coral para fazer parte da peça os Sete Embargos; fui uma das escolhidas”. Yara gostou tanto que nunca mais parou, inclusive até optou pela teatro quando se viu pressionada pela mãe para escolher entre a arte de representar e o coro.
Aos 13 anos integra-se no 14º curso de iniciação teatral do Centro Cultural Português do Mindelo (CCPM), para depois integrar a Trupe Pará Moss (TPM), grupo de teatro que derivou dessa formação. Desde então, no seu currículo cabem experiências como “Os Saltimbancos”, “Clound City”, “Os Cinco Sentidos”. E uma que para ela foi a mais desafiante, até porque representa o maior sucesso da TPM até hoje, “As Mindelenses”.
“Tive de usar vestido e sapatos de salto alto, algo que vai contra esse jeito maria-rapaz que tenho. Mas isso foi há algum tempo, hoje eu encaro sem problemas, porque aprendi que no teatro temos de nos despir de todos os nossos caprichos e pudores; temos que estar aberto a tudo”, confessa.
Tanto aberto a tudo que neste momento encara um dos papéis “mais fortes” do pequeno percurso como actriz com “A Lição”, em que Yara encarna o papel de uma aluna  prestes a fazer doutorado em Ciências Exactas e Filosofia, que entra em conflito com o seu  professor.
“De um diálogo inicialmente marcado pela cordialidade recíproca, surgem alguns desentendimentos por causa da incapacidade da aluna para operações de raciocínio e também pela reacção do professor que, tomado por um acesso de fúria, assassina sua aluna”, conforme a sinopse desta peça que foi apresentada pela primeira vez  em Agosto de 2014 no FestLip no Rio de Janeiro, estreou em Cabo Verde no Mindelact 2014 e volta aos palcos agora em Março Mês do Teatro (ver caixa).
A lição representa assim mais uma prova de fogo para a jovem actriz Yara Azevedo, que, como diz o encenador de peça, João Branco, “ainda vai dar muito que falar no mundo teatral”.
Yara já tacteia também no mundo da encenação, em que dirigiu uma peça apresentada na escola, sobre Amílcar Cabral. Energias desse mundo do espectáculo que ela conseguiu passar para a irmã mais nova, que faz parte do grupo de teatro infantil do CCPM, Sukrinha.
No entanto, isto ainda é pouco. Insaciável, Yara, que estuda neste momento o 12º ano, tenciona licenciar-se em cinema e, quem sabe, assim alargar ainda mais  horizontes. Já que, como diz, é preciso “atirar-se de cabeça em nossos precipícios, libertar-se das grades do próprio corpo, desafiar-se, enfrentar-se a si e ao mundo” (trecho tirado do poema Inversos, publicado no Blog Insonhos 97).

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