O ex-primeiro-ministro e antigo ministro da Coordenação Económica considera que a política monetária do Banco de Cabo Verde (BCV) é “ilusionismo”. Gualberto do Rosário insta as organizações da sociedade civil a continuarem com “as suas armas em riste” para reivindicarem medidas “clarividentes” e “efectivas” para financiar a economia. E deixa a entender que quem manda realmente no mercado financeiro cabo-verdiano é o BCA (Banco Comercial do Atlântico) e não o Banco Central.
Num texto, que A NAÇÃO teve acesso, o economista Gualberto do Rosário considera que o anúncio feito, há duas semanas, pelo Banco Central, sobre medidas de política monetária com vista a estimular o financiamento do investimento privado, “ditou o contrário”.
“Seria fácil e bonito se tudo fosse verdade”, enfatiza o presidente da Câmara de Turismo de Cabo Verde (CTCV), questionando se a redução das taxas de juro e a redução das reservas obrigatórias determinarão realmente o aumento de liquidez no sistema bancário e a queda das taxas de juro nas operações activas.
“Neste caso esperaríamos o aumento do financiamento à economia, a melhoria das condições do dito financiamento e o consequente aumento do investimento privado. Esperaríamos, no limite, maior crescimento económico, mais emprego e mais rendimento disponível à disposição das famílias”, enfatiza.
“Só que não é assim”, contrapõe Gualberto do Rosário, afirmando que os administradores do BCV, tal como as demais autoridades responsáveis pela política económica, “têm a obrigação de saber (e sabem-no, de certeza)” que essa medida é “inócua”.
BCA É QUEM MAIS ORDENA
Aquele economista e empresário considera que, em Cabo Verde, o mercado financeiro “se parece com tudo, menos concorrência perfeita”, daí questionar a medida do BCV, que, do seu ponto de vista, se adequa e é “válida” para mercados financeiros que funcionam “à imagem do mercado, teórico, da concorrência perfeita. Porém, não para mercados imperfeitos” como o deste arquipélago.
“O mercado financeiro cabo-verdiano, incluindo o bancário, é um mercado imperfeito”, enfatiza, lembrando que “temos um país com uma única empresa de capital de risco, com duas companhias seguradoras, uma empresa de leasing, seis pequenos bancos (excluí o Novo Banco por razões óbvias), sendo que no caso dos bancos há um líder destacado (o BCA) e um ‘líder complementar’ (a Caixa Económica de Cabo Verde)”.
Perante este cenário, o presidente da Câmara de Turismo diz que é “evidente” que a regulação das taxas de juro é feita pelo BCA e não pelo Banco Central. “E este líder não altera as taxas de juro sem fazer contas, para saber se, no limite, o crescimento do crédito trazido por uma eventual alteração das taxas de juro compensa mais do que proporcionalmente as perdas que a redução das taxas de juro para o crédito concedido e em carteira determinam”.
INCONSISTENTE
Essa medida do Banco Central é “inconsistente”, porque, na óptica daquele antigo governante, o sistema financeiro bancário apresenta excesso de liquidez e, por isso, “não faz sentido nenhum bancos sobrelíquidos o BCV para se refinanciarem, pagando um custo adicional para terem, nos seus cofres, recursos ociosos. Ou seja, o argumento utilizado pelo BCV para reduzir as taxas de juro e as reservas obrigatórias de caixa “não colhe, é paradoxal, inconsistente e hilariante”.
O ex-primeiro-ministro diz ainda que as recentes decisões tomadas pelo BCV comportam um risco “dramático”. “É o risco de todos pensarmos que está tudo bem, ou que tudo vai passar a caminha bem, quando tudo está mal e vai continuar a caminhar mal. É o risco de qualquer ilusão”, assevera.
Gualberto do Rosário finaliza o seu texto afirmando que é “fundamental” que a comunidade cabo-verdiana, as suas instituições e as organizações da sociedade civil “continuem com as suas armas em riste e reivindicar, com cada vez mais firmeza, medidas clarividentes e efectivas para financiar a economia”.
Gualberto do Rosário diz que medidas do BCV é “ilusionismo”
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