As candidaturas à presidência do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), estão fechadas. Oito personalidades, entre elas a cabo-verdiana Cristina Duarte, disputam a sucessão do ruandês Donald Kaberuka, numa corrida em várias voltas. A cada volta, o menos votado fica pelo caminho… até o apuramento final do vencedor.
A disputa pela presidência do BAD, a acontecer em Maio, continua a sua marcha, entrando agora na sua fase mais crítica. O Comité Director do Conselho de Governadores, com sede em Abidjan (Costa do Marfim) fechou, na passada sexta-feira, 20, o processo de candidaturas, fixando em oito os candidatos aceites. Do grupo consta Cristina Duarte, ministra das Finanças e do Planeamento de Cabo Verde.
Posto isso, os concorrentes continuam, no terreno, a mobilizar apoios, sem esquecer que o processo, além de um acentuado lado técnico, tem também um lado político e diplomático bem acentuado. Desde logo porque, além de pessoal, as candidaturas são também do país de onde cada concorrente é oriundo.
José Brito, antigo ministro da Economia e membro do “staff” da candidatura de Cristina Duarte, explicou ao A NAÇÃO que o processo entra, a partir de agora, numa fase particularmente sensível, com a diplomacia a jogar, mais do que nunca, um grande peso. “Desde já”, começa por referir, “cada país membro do BAD vota em função do seu peso como accionista”.
Isto é, ao contrário de outras organizações regionais ou internacionais, no BAD, o voto não corresponde ao princípio “cada país um voto”, como acontece, por exemplo, na Assembleia Geral das Nações Unidas ou na União Africana.
“Do conjunto de países, a Nigéria tem quatro por cento do capital social do BAD, o que lhe dá direito a mais votos do que Cabo Verde. Sucede também que os EUA têm seis por cento”, refere José Brito, o que dá a esse país, também, o direito a voto, à semelhança de outros estados sócios daquele banco africano.
PROCESSO ELEITORAL COMPLEXO
Aliás, no geral, os estados africanos possuem 60 por cento (%) do capital social do BAD, sendo os restantes 40% de países e entidades não africanas. Isto tudo faz, explica José Brito, o processo eleitoral naquele organismo algo bastante complexo. “Há quem, à partida, possa aparecer como sendo mais forte e não passa sequer da primeira fase. A Nigéria, por exemplo, apesar do seu peso, nunca conseguiu impor os seus candidatos”, ilustra.
Sendo assim, será, pois, em função das mais variadas engenharias que o vencedor acabará por ser apurado, em Maio, depois de um processo de várias voltas em que a cada volta o menos votado vai sendo excluído. E é aqui, acreditam os apoiantes de Cristina Duarte, que ela poderá impor-se sobre os seus adversários.
De resto, a influente revista “Jeune Afrique”, por exemplo, recorda que, além de economista, a candidata cabo-verdiana é poliglota – fala fluentemente francês, inglês e português – e foi vice-presidente do Citibank (EUA) em Angola. Ao contrário, boa parte dos restantes candidatos apostam no seu peso político. É o caso do nigeriano Akinwami Adesina, ministro da Agricultura e Desenvolvimento. Mas, há também, entre os concorrentes, economistas e financeiros. Caso do maliano Birama Boubacar Sidibé, que foi vice-presidente operacional do Banco Islâmico de Desenvolvimento, ou ainda do zimbabweano e economista Thomas Sakala que surge como o candidato da SADC (África Austral).
FAZER A DIFERENÇA
O certo é que esta disputa surge numa altura em que o BAD é chamado a desempenhar um papel acima de tudo técnico e financeiro no que toca ao desenvolvimento de África. E é precisamente aqui que José Brito acredita que Cristina Duarte pode fazer a diferença.
“Dos oito concorrentes, a nossa candidata é considerada como um dos que pode ganhar. É certo que estamos em África e os geoestratégias jogam um peso importante. Mas, tirando isso, a nossa candidata é quem tem o melhor perfil para dirigir o BAD que o continente neste momento precisa”.
Por isso, dos oito concorrentes, Brito não se mostra particularmente preocupado com nenhum. “A Nigéria, pelo peso que tem, procurou impor o seu candidato como sendo de ‘consenso’ da CEDEAO, mas isso foi rejeitado pelos outros países, nomeadamente o Senegal e a Costa do Marfim, que nos apoiaram nessa luta, logo, ao contrário do que A NAÇÃO chegou a escrever, só isso foi uma grande vitória diplomática de Cabo Verde”.
Por isso, até 20 de Março, tal como os demais candidatos, Cristina Duarte vai apresentar a sua plataforma eleitoral, clarificando que presidência pretende para o BAD. “Depois disso”, explica José Brito, “os candidatos serão sabatinados pelo Conselho dos Governadores, tudo gente com larga experiência, onde, uma vez mais, as qualidades de cada concorrente serão postas à prova”.
Aquela fonte salienta que em África são poucos os organismos que possuem tal tipo de escrutínio. “Tirando o BAD, em todos os demais organismos e entidades, os critérios são mais políticos do que técnicos, logo, as regras raramente são claras”.
NOVOS TEMPOS
Fora isso, aquele antigo governante cabo-verdiano recorda que o actual quadro mundial mudou bastante, pelo que o BAD tem também ele de se adaptar aos novos tempos. “Os principais contribuintes do BAD são países ocidentais, todos hoje em dia com graves problemas financeiros, por isso mais ciosos na aplicação dos seus recursos”.
“Neste quadro”, acrescenta, “o BAD tem de encontrar novas formas de financiamento para ajudar nos grandes desafios de desenvolvimento que o continente africano tem. Daí também que o próximo presidente do BAD tem importantes desafios pela frente, desde logo a reforma profunda da instituição para ser, cada vez mais, um banco internacional no pleno sentido da palavra”.
Isto, no dizer de JB, passa pelo recrutamento de quadros abalizados, “gente das altas finanças”, por exemplo, o que de novo deixa a candidatura cabo-verdiana bem posicionada face aos restantes concorrentes. “É claro que todos os candidatos são bons. Mesmo assim, estamos confiantes na nossa candidata. Ela tem recebido reacções muito positivas, sentimos esse estimulo nos contactos que temos estado a fazer. Acima de tudo, porque Cristina Duarte representa alguém capaz de fazer as reformas que o BAD necessita”, conclui José Brito.
Disputa pelo BAD em fase crítica
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