Yara dos Santos*
Quando se fala dos profissionais de Relações Públicas (RP) em Cabo Verde, da situação que os envolvem e, principalmente, das perspectivas que se lhes apresentam no futuro, importa destacar duas questões essenciais:
Tenho para mim que, prima facie, se revela imprescindível legitimar uma actividade que, no meu entender e fruto de experiência profissional, não goza de muito prestígio social, concretamente, porque a imagem que exibe se acha sobremaneira ofuscada por ideias erradas.
Ademais, existe uma manifesta indefinição acerca do que é e em que consiste a sua actividade, quer junto da opinião pública, quer junto do mundo empresarial.
Ser Relações Públicas em Cabo Verde significa, mais do que nunca, “desafiar desafios”, passe o pleonasmo! É-o quando dizemos “sou relações públicas” e arriscamo-nos a ser mal interpretados pelas pessoas. Nesta esteira, vêem-nos como personalidades de festas, de organização de beberetes, de promoção de futilidades e não de uma verdadeira estratégia de comunicação empresarial.
Muitos pensam que, para exercer a profissão de Relações Públicas, basta ter bom relacionamento, ser simpático e estampar sempre um sorriso nos lábios.
Permita-me, caro leitor, partilhar consigo uma breve história: recentemente, um amigo meu, dirigente de uma instituição, liga-me a dizer que necessita de um bom Relações Públicas para trabalhar na área de comunicação e organização de eventos, mas que essa pessoa terá de ser muito bonita, para não dizer mulher. Eu, sem delongas, respondi-lhe que não vejo como a beleza, por si só, pode ser condição sine qua non para um profissional bem-sucedido.
Este engraçado episódio, mas real, espelha muito bem o desconhecimento generalizado sobre a actuação das Relações Públicas. É uma visão redutora, muito comum e que, infelizmente, tende a fazer escola entre nós. Ser Relações públicas é ser muito mais. Sê-lo é ser perito em comunicação: comunicação entre pessoas, empresas, instituições, grupos, meios de comunicação; é ter dinâmica que nos permite gerir meios e canais de comunicação nos contextos mais variados.
É um desafio, por igual, concorrer num mercado que ainda não tem uma noção clara das Relações Públicas, a qual não passa de um simples envio de curricula para empresas que ainda não entendem o valor da profissão.
Grande parte dos responsáveis pela selecção e contratação de profissionais nas empresas não sabem por onde começar quando falam de Relações Públicas. Para não dizer que amiúde quando um profissional se dirige a uma empresa em busca de emprego vê-se, por assim dizer, obrigado praticamente a dar uma verdadeira aula sobre a sua formação, o sector e a importância deste para as organizações.
Por outro lado, muitas organizações, mesmo com um Relações Públicas na sua estrutura, demonstram ainda dificuldades na compreensão da sua actividade.
Não há clareza suficiente quanto às funções específicas do que faz um profissional de Relações Públicas, muito menos ainda da actividade que desempenha. Por isso, a imagem que se tem do profissional é difusa, instalando-se, o mais das vezes, alguma confusão acerca da sua real e verdadeira função.
A segunda questão que importa reter vai no sentido de mostrar que é ingente que, em Cabo Verde, os profissionais de Relações Públicas conquistem o merecido reconhecimento e dignificação social.
Se é verdade que, na sociedade cabo-verdiana, ainda paira sobre as Relações Públicas um desconhecimento generalizado do seu papel, não é menos certo também que urge reconhecer, mesmo entre os estudantes e os profissionais da área, a complexidade da actividade de relações públicas em todos os ângulos.
A formação generalista e abrangente dos recém-formados em Relações Públicas não deverá ser motivo para que estes profissionais se acomodem às suas funções nas organizações. Em alguns casos, desaproveitam as suas capacidades e a potencialidade do seu trabalho.
As Relações Públicas, enquanto guardiões da imagem das instituições, não podem negligenciar a sua própria imagem.
O que está em causa não é, em exclusivo, uma formação académica de base. Não poderemos ignorar que se, até há bem pouco tempo, não havia no nosso panorama formativo cursos de Relações Públicas, não podemos agora virar costas a todos os que, numa perspectiva de autoformação, se valorizaram e se converteram em exímios relacionadores públicos.
Reconheço que existem numerosos exemplos de autodidactas que representam com toda a dignidade a profissão, enquanto outros, dotados de uma formação académica que os certifica como especialistas na área em causa, não apresentam um perfil consonante com a actividade, a exemplo do que acontece noutras actividades.
Cabe a todos desta área, estudantes, professores e profissionais de Relações Públicas, divulgar amplamente os conceitos, o mercado de trabalho e os campos de actuação da mesma a fim de estabelecerem com a sociedade e com o empresário empregador uma comunicação mais eficiente e eficaz.
O reconhecimento da profissão passa, por isso, pela conquista e reforço de um prestígio social, que esclareça a opinião pública sobre as Relações Públicas e fortaleça o perfil dos profissionais. Simultaneamente, passa por um reconhecimento oficial que contribua para a dignificação profissional face aos próprios organismos públicos.
*Licenciada em Comunicação Empresarial e Relações Públicas, presidente da Associação de Relações Públicas de Cabo Verde