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Economia

Praia sem capacidade de resposta para transporte turístico

Sem um terminal de turismo de cruzeiro, sem transportes turísticos licenciados para o efeito, e sem grandes ofertas culturais, a capital do país vê-se ainda a braços com a falta de fiscalização e regulação no segmento de turismo de cruzeiros. Factores “cruciais” se Cabo Verde quer deixar de ser uma mera escala técnica e passar a ser realmente um destino de cruzeiro.
Sábado, 31 de Janeiro. A azafama é grande no Porto da Praia. É dia de mais um navio cruzeiro atracar. Aida, um dos mais famosos e assíduos cruzeiros no país, chega sempre perto das oito horas da manhã. Geralmente, traz a bordo pouco mais de mil turistas, com vontade de conhecerem e desfrutarem da cidade da Praia, mas também daquilo que de melhor a ilha de Santiago tem para oferecer a quem chega. É a chamada escala técnica. Isto é, às 17horas todos que desceram à terra têm de estar de volta ao navio para contagem de passageiros e , seguida, uma hora depois, se fazerem de novo ao mar. Novo destino, nova paragem.
Mas, até lá, o que fazem os turistas de cruzeiro numa cidade como Praia e numa ilha como Santiago? A resposta não é fácil, até porque, na maioria dos casos, o pouco que sabem do país, são informações obtidas através do site da própria Aida Cruises, quando compraram o bilhete para o cruzeiro. Um facto confirmado por vários turistas com quem o A NAÇÃO teve oportunidade de conversar.
Enfim, dez horas é o tempo que o turista cruzeiro tem para conhecer, descobrir e desfrutar de Santiago e a maioria já comprou, previamente, a bordo do navio, um pacote para visitar a ilha. Pacote esse vendido pela Tui Portugal, representada pela multinternacional “Intercruise”, em Cabo Verde.
FALTAM TRANSPORTES ESPECIALIZADOS
A empresa vende vários pacotes, que podem incluir roteiros que vão desde um passeio pela capital, Cidade Velha, vários pontos do interior de Santiago e, claro, ao Tarrafal. “Os preços variam de acordo com os lugares, e as entradas incluídas. Fortaleza Cidade Velha, Museu, Campo de Concentração Tarrafal, ou almoços, entre outros”, esclarece Suelly, representante da empresa.
Só que a ilha de Santiago não dispõe de transportes turísticos, nomeadamente autocarros ou carrinhas de menor dimensão, conhecidas no mercado turístico por  “coaster”, devidamente licenciadas para o efeito e com capacidade de resposta para a demanda. “De momento temos a colaboração da Sol Atlântico, o que ajuda, e muito, a responder à demanda dos navios cruzeiros em Santigo, visto que os ‘coaster´s’ disponíveis não ultrapassam os 20”, esclarece aquela responsável.
Apesar de não ser a vocação da Sol Atlântico, uma vez que se trata de uma companhia de transportes públicos urbanos, a empresa disponibiliza perto de quatro autocarros durante a semana e entre sete e 10, aos fins de semana, para efeitos turísticos.
Já em relação às “coaster´s”, a Intercruise vê-se “obrigada” a contratar o serviço de terceiros, para poder transportar os turistas. Por isso, é normal, ver-se no Porto da Praia viaturas de instituições como Seven Stars, Acrides ou até Federação Cabo-verdiana de Futebol a fazer transporte de turistas, o que tem causado alguma estranheza, uma vez que se trata de um sector importante para a economia de Santiago e do país, em geral.
MAIOR ORGANIZAÇÃO DO SECTOR
Suely garante que às viaturas contratadas é exigida toda a documentação em dia. “Todos os carros deverão ter os documentos em dia, assim como o seguro de responsabilidade civil, assegurando não só o condutor mas também os seus passageiros”, assevera.
A estes acresce o seguro de viagem que cada turista tem. Só a título de exemplo, um “coaster” recebe entre 12 mil e 28 mil escudos, no caso de uma viagem ao Tarrafal, já com condutor incluído.
Embora admita que esta não é a situação “ideal”, uma vez não se tratar de viaturas especializadas para o efeito, a nossa interlocutora destaca que “são os meios disponíveis” na ilha e, adverte que, há, inclusive, cruzeiros que vão a São Vicente e não vêm à Praia “por falta de condições”.
Por isso, defende que para se obter “melhores condições de oferta”, o ideal “seria a criação de uma associação que se responsabilizasse por todos os transportes disponíveis, obtendo uma melhor organização”, para se “aproveitar ao máximo a chegada dos navios, uma vez em que Santiago tem muito para oferecer aos turistas”.
Daí defender a necessidade de “uma maior organização e colaboração” dos operadores de transportes “visto que será muito mais fácil, do que ter que contactar condutores um a um, para requisitar o serviço”. Até porque estão previstos “grandes navios” para Santiago este ano, pelo que o maior “engajamento” seria “bem-vindo”, acautela.
ISLAND TOURS
A mesma tese é defendida em certa medida por Pedro Guerra, da Cabo Verde Island Tours, empresa que detém quatro autocarros panorâmicos (dois na Praia, um no Sal e outro em São Vicente), vocacionados para o transporte e passeios turísticos.
“Deve haver uma maior aproximação dos agentes que regulam e que estão directamente ligados ao sector, para se engajarem com os operadores, de forma a que possam prestar um melhor serviço aos turistas e para o bem do destino Cabo Verde”, adverte o empresário.
Essa empresa tem instalado no Porto da Praia um posto de informações, que, além de tentar vender os seus pacotes aos turistas que não compram passeios a bordo do navio, serve também como um posto de esclarecimento para informações aos turistas – isto na ausência de um balcão de informações no local, da Direcção Geral do Turismo. Pelo menos esta é a constatação do A NAÇÃO durante a sua estada no local. “Damos mapas e guias de turismo, muitas vezes, mesmo àqueles que não são nossos clientes”, refere Pedro Guerra.
Aquela empresa tem apostado em roteiros turísticos e conteúdos programáticos que foram desenvolvidos em parceria com Lourenço Gomes, professor de História da Universidade de Cabo Verde (UniCV). Inclusive, a empresa foi galardoada recentemente com o Prémio Century International Quality ERA, atribuído pela BID Group One, organização internacional da qualidade, que certifica a qualidade, a Inovação e a excelência dos recursos humanos, equipamentos e serviços prestados. A Cabo Verde Island Tours é a primeira empresa nacional a receber esta distinção e levará o nome do país a Genebra, cidade onde decorrerá a entrega do prémio já nos dias 21 e 22 de Março.
“SUCUPIRA” PORTUÁRIO
Além da Intercruises e da Island Tours, há ainda outros profissionais dos transportes que também querem tirar partido dos benefícios económicos do turismo de cruzeiros. Os casos dos hiacistas e taxistas, não só da capital como do interior da ilha, são já presença assídua no Porto da Praia em dia de cruzeiros.
Muitos já sabem as datas em que os navios aportam e montam “fila” no porto, numa verdadeira caça ao turista. Isto porque também há turistas que preferem sair do porto pelos seus próprios pés para aventurarem-se na cidade. Só que, mesmo com a polícia a tentar manter alguma organização no processo, a verdade é que há alturas em que os turistas são confrontados com um verdadeiro ambiente de “sucupira”.
Curiosamente, muitos dos condutores não falam línguas estrangeiras e trazem, inclusive, cidadãos da costa africana para servirem de tradutores. Envergando mapas e tabelas de preços, muitos conseguem transportar pequenos grupos de turistas para dentro e fora da cidade. “Um passeio de hiace pela Praia 10 euros”, diz um hiacista gesticulando e mostrando um mapa.  E as ofertas vão-se multiplicando com muita confusão à mistura. Alguns turistas rendem-se às ofertas “efusivas” e acham alguma graça ao “ambiente”. Mas outros preferem ir a pé e seguem caminho. Uns para o Platô, outros pela marginal.
SEGURANÇA
Ao longo do caminho é possível ver vários polícias, no quadro do projecto turismo seguro. Uns de mota, outros de bicicleta, mas também em carrinhas do corpo de intervenção. Um feito a destacar pelos operadores. “É de realçar que temos tido a colaboração da Polícia Nacional para um turismo seguro, pelo que, até agora, não temos tido qualquer tipo de problemas com os nossos turistas”, atesta Suelly Cruz. A verdade é que o “aparato” policial é evidente em dias de cruzeiro. Um factor importante para a imagem do turismo nacional.

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