As gráficas de Cabo Verde rejeitam que sejam elas as culpadas por não haver ainda os anunciados novos manuais escolares. O dedo, deixam a entender, deve ser apontado para o Ministério da Educação, que só em Agosto passado, a um mês do início do novo ano lectivo, abriu o concurso para a produção industrial dos referidos manuais.
Com a mudança dos manuais escolares do Ensino Básico, o Ministério da Educação e Desporto (MED) optou, este ano, por imprimir esses materiais didácticos em Cabo Verde. Em princípio, sabe o A NAÇÃO, essa seria uma forma de ajudar a desenvolver o parque gráfico nacional, que, neste momento, enfrenta várias dificuldades para sobreviver. Afinal, não são todos os dias que, de uma assentada, há uma encomenda de 70 mil exemplares de livros, num total de 18 mil contos.
Entretanto, não obstante tal intenção, até hoje, não se sabe ao certo quando é que os novos livros para os alunos da primária estarão disponíveis. Em mais de uma ocasião ficou no ar, através da comunicação social, que a culpa disso é das gráficas, por, supostamente, não estarem em condições de executar a encomenda no prazo estipulado.
Diante disso, segundo as nossas fontes, nem mesmo o MED consegue saber quando é que os ditos manuais estarão disponíveis porquanto o concurso para a impressão dos mesmos no país só foi aberto em meados de Agosto passado. Esta informação foi-nos confirmada pela gerente da Tipografia Santos, Luísa Lobo, ela própria incomodada com a situação.
“A proposta era para entregar a candidatura até 29 de Agosto. Embora o nosso nome nunca tenha sido mencionado, a ideia que está a circular é que são as gráficas nacionais que não estão a poder responder ao desafio de esses livros serem impressos em Cabo Verde”.
Lobo esclarece que, feito o concurso de adjudicação, que fechou em 29 de Agosto, só a 16 de Setembro passado é que chegou a resposta, através da FICASE (Fundação Cabo-verdiana de Acção Escolar), que a sua tipografia não foi selecionada, “cabendo a impressão à Imprensa Nacional de Cabo Verde (INCV)”, que é um organismo do Estado.
“Tenho por mim que a gráfica vencedora deverá ter recebido a informação que iriam imprimir os manuais na mesma época”, acrescenta Luisa Lobo.
Em cima do joelho
Para aquela empresária, o MED actuou “muito em cima da hora”, quando a entrega dos manuais no prazo que se fixou e anunciou seria humanamente impossível e que, portanto, a não entrega até, hoje, dos manuais pela empresa vencedora é algo não a surpreende.
“A adjudicação foi em meados de Setembro e a empresa vencedora teria 40 dias úteis, após a assinatura do contrato, para entregar a encomenda”, salienta. “O MED poderá ter uma justificativa por ter feito o concurso em cima da hora”.
Luísa Lobo esclarece que só para a importação do material gráfico necessário para a produção dos manuais levaria, no mínimo, uns vinte dias. “Isso dependendo dos materiais”, ressalva, “e posto isso seriam necessários outros 45 a 60 dias para imprimir os livros na quantidade solicitada”.
Por isso, feitas as contas, facilmente se conclui que os livros encomendados não estariam disponíveis em finais de Outubro, como a outra concorrente prometeu e assumiu. “São 78 mil exemplares, sendo 13 mil de cada um dos manuais”, sublinha a gerente da Tipografia Santos, tida como uma mais modernas gráficas de Cabo Verde.
Em revisão
Para o cabal esclarecimento deste imbróglio, A NAÇÃO tentou ouvir a Imprensa Nacional e o próprio MED, entidade que responde pelo problema ora criado em torno dos novos manuais. Mas sem sucesso.
Entretanto, uma outra fonte deste jornal confidenciou-nos que os novos manuais, “made in Cabo Verde”, tanto no que concerne à autoria como à impressão, ainda se encontram em revisão, pelo que nem sequer chegaram ainda à gráfica. “Soube que os manuais ainda estão a ser revistos”, precisou essa fonte.
Com o primeiro trimestre quase a terminar, e os alunos dos 3º e 5º anos sem os novos manuais, Luísa Lobo diz que seria bom, face ao atraso, que o Governo pensasse dividir as impressões para acelerar a produção dos livros.
“Apesar de o concurso ter sido nacional, e tendo em conta que só duas gráficas concorreram, o Governo deveria abrir a possibilidade de atribuir esse trabalho às duas gráficas, a Imprensa Nacional e a Tipografia Santos”, sugere.
Aquela empresária acredita que os manuais escolares podem, sim, ser produzidos em Cabo Verde e que é de louvar o esforço no sentido de serem as gráficas do país a fazerem esse trabalho. “Mas para isso as coisas têm de ser melhor pensadas”, faz saber. “São divisas que ficam no país e é a indústria gráfica que sai a ganhar”.
Entretanto, na ausência dos ditos manuais, os professores vão utilizando o programa, disponibilizado, conciliando-os com pesquisas, concertações nas escolas, enfim, aliado a um pouco de criatividade para que as aulas possam decorrer da melhor forma possível. A expectativa é que no próximo ano as coisas funcionem melhor.
Novos manuais escolares: Gráficas rejeitam culpas
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