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Economia

Moeda única da CEDEAO: Cabo Verde em cima do muro

Com alguma resistência da Nigéria, é certo, os países que integram a CEDEAO vão passar a ter uma nova moeda, o ECO, que vem substituir o chamado franco CFA. Cabo Verde, por enquanto, continua de fora. Enquanto o Governo tarda em se posicionar em relação ao Eco, o Banco de Cabo Verde adverte que uma eventual adesão não evidencia, de “forma inequívoca”, que os ganhos superariam os custos. 

A moeda única da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) será lançada em 2020, mas, até este momento, não há uma posição oficial do Governo de Cabo Verde sobre o Eco, que vai substituir o franco CFA e outras sete moedas nacionais dos países-membros dessa comunidade, dentre elas o nosso escudo, CVE. 

Em Setembro de 2018, na Conferência Internacional comemorativa dos 20 anos da assinatura do Acordo Cambial entre Portugal e Cabo Verde, o governador do Banco de Cabo Verde (BCV), João Serra, emitiu uma “opinião técnica”, defendendo a não adesão do país à moeda única da CEDEAO: “Nós quase não temos relações económicas com África: quer com a CEDEAO, quer com África, no seu todo”. 

O vice-primeiro-ministro, Olavo Correia, e o primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, que presidiram, respectivamente, as cerimónias de abertura e encerramento dessa conferência internacional, não se pronunciaram claramente sobre as reservas de João Serra em relação à uma eventual adesão de Cabo Verde ao Eco. E, até hoje, não há um posicionamento oficial da cidade da Praia sobre esse assunto.  

Segundo uma fonte bem posicionada, a indecisão do Governo, que, quando confrontado com essa possibilidade diz que “vamos estudar”, acaba por criar uma certa expectativa por parte da CEDEAO em relação a este estado-membro. Tirando a Nigéria que coloca uma ou outra reticência em relação ao Eco, Cabo Vede, ao que tudo indica, vai ser o único país a não aderir ao Eco. No caso cabo-verdiano, tendo em conta as privilegiadas relações do arquipélago com a União Europeia, através do acordo de parceria especial com Portugal. 

Contudo, o nosso interlocutor defende que não se deveria entrar nessa “aventura muito arriscada”, porquanto Cabo Verde “tem uma paridade fixa que funciona”, uma “moeda estável”, uma taxa de inflação “muito boa”, uma moeda “reconhecida internacionalmente”, o que, segundo a nossa fonte, “é um importante activo do país”.   

A decisão de aderir, ou não, à moeda única da CEDEAO “será sempre política”, mas, “até este momento não há uma posição clara de entrar, ou não entrar. O Governo, quando confrontado com esse dossier, diz que está a estudar e vai mantendo essa ambiguidade que não favorece as partes”. O nosso interlocutor defende, porém, que Cabo Verde tem de se posicionar, mais cedo, ou mais tarde. 

“É importante que haja da nossa parte uma posição clara sobre o que queremos da CEDEAO, da mesma forma que é legitimo que a CEDEAO possa saber em que domínios não pode contar com Cabo Verde. Estar na CEDEAO apenas onde podemos retirar dividendos poderá não ser um bom princípio”, adverte uma outra fonte, para quem Cabo Verde se comporta em relação à sua comunidade sub-regional como a Inglaterra em relação à União Europeia. “O resultado vê-se”, conclui. 

Implicações 

O economista Agnelo Sanches reconhece que Cabo Verde procura uma melhor integração na CEDEAO, nomeadamente pela via do desenvolvimento do comércio com a sub-região, “mas a nova moeda pode não ter implicações de maior na economia nacional”. 

E a razão é, uma vez mais, os vínculos deste arquipélago com a União Europeia.

“Cabo Verde tem um coeficiente de integração elevado de mais de 70% na europa (UE). A UE é o principal cliente e fornecedor de Cabo Verde (80%) e acolhe a metade da diáspora cabo-verdiana e é a origem de mais de 80% das remessas. É também origem de mais de 80% dos turistas que visitam Cabo Verde. Considera-se que a moeda do país, o escudo, esta muito bem com a paridade fixa em relação ao  EURO”, esclarece. 

Este economista considera, no entanto, que uma moeda única para região de que Cabo Verde faz parte “será mais benéfico para a nossa economia que deixará de estar exposta a relações económicas suportadas por um conjunto de pelo menos seis moedas”

Agnelo Sanches admite que o ECO será um importante mecanismo para a alavancagem da economia da CEDEAO, defendendo, porém, que Cabo Verde nas suas transações com a sub-região e com todo o mundo usa duas principais moedas mais utlizadas no pagamento internacional (o Dólar americano e o Euro), sem necessidade de utilizar as moedas nacionais dos respetivos países, que aliás não são cotadas pelo Banco Central de Cabo Verde. “Acho que o país continuará seguramente a privilegiar as duas moedas”, conclui. 

DA

(Publicado no A NAÇÃO impresso, nº643, de 26 de Dezembro de 2019)

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