PUB

Economia

Fundação portuguesa “Oceano Azul” quer parceria com Cabo Verde para expedição científica no quadro da Economia Azul

A Oceano Azul é uma fundação portuguesa que nasceu nos Açores e tem como
objectivo implementar áreas marinhas protegidas na região da Macaronésia.
Neste momento a fundação está a discutir, com o Governo, a possibilidade de realizar uma expedição científica a Cabo Verde, à semelhança do que já aconteceu na Madeira e nos Açores, e que vai propiciar a aquisição de conhecimentos sobre o património natural do nosso mar e definir aquilo que é possível em termos de cooperação entre Cabo Verde e a Oceano Azul.
Para Tiago Pitta e Cunha, Presidente da Fundação Oceano Azul, Cabo Verde apresenta duas características determinantes para o sucesso de uma possível cooperação: um potencial enorme e uma liderança política com vontade de projetá-lo nas avenidas do futuro da economia azul e da economia de baixo carbono ou de carbono zero.
“Quanto mais trabalhamos na nossa região, mais compreendemos o quanto ela está
interligada com Cabo Verde. Este país é determinante para as mesmas espécies
migratórias que procuramos proteger na Madeira e nos Açores” explica Pitta e Cunha, para quem não faz sentido trabalhar nos Açores e na Madeira sem trabalhar com Cabo Verde, daí o interesse e realizar a expedição.
Tiago explica que, enquanto fundação portuguesa a Oceano Azul deve investir os seus recursos, primeiro, no Atlântico com prioridade na Macaronésia e não no Mediterrâneo. Desta forma, se for criada uma rede de áreas marinhas protegidas na Macaronésia, a região pode se tornar um exemplo para o mundo inteiro. E se isso acontecer, avança, os seus territórios vão se tornar altamente qualificados e ganhar marcas de prestígio, o que permite qualificar o território, as pessoas e a economia dos mesmos.
Para este especialista em assuntos marítimos, Cabo Verde é dotado de uma
estabilidade e maturidade política que permite que tudo seja possível. Na sua optica, é importante agora compreender para onde é que vai o mundo e futuro.
“O futuro vaipara a agenda da descarbonização.  Se Cabo Verde compreender isso e apostar na sustentabilidade, garanto que a marca de prestígio que vai ganhar vai possibilitar depois vender tudo com prémio e não com desconto.”
Ou seja, o país passa a cobrar mais caro para quem vier dormir num hotel ou comer num restaurante, porque estará num território sustentável e a comer comida sustentável.
A fundação Oceano Azul coloca-se ao dispor de Cabo Verde para ajudar a construir
estes rumos, mas chama a atenção para a urgência se apostar, desde já, nas gerações
futuras para que elas possam compreender a sua dependência dos oceanos e assim,
protegê-la.
Para isto, a fundação traçou uma estratégia inovadora com aposta na educação das
crianças. “Nós apostamos nisto porque compreendemos que, mesmo os Açores,
dependem muito da pesca. O Governo local fez um compromisso com a Oceano Azul
de dedicar 15% da sua Zona Económica Exclusiva a áreas marinhas protegidas No Take. Estamos a falar de 150 mil km 2 de oceano. Só que eles precisam ter algo em troca, por isso pedem-nos ajuda na educação. Se não houver sustentabilidade as pessoas não vão compreender as áreas marinhas protegidas por isso esta aposta nas gerações futuras tem de começar agora. Temos de salvar o que resta e para isso não temos vinte anos.”
A estratégia educacional implementada tem como foco crianças com idade
compreendida entre os eis e os onze anos. Mas a fundação não trabalha directamente
com estas criança. Ela desenvolve cursos de formação para todos os professores das
escolas primárias de determinados municípios e criam manuais de aprendizagem
adaptados ao curriculum oficial do Governo, no qual elas vão aprender a ler e a
escrever além de aprender várias disciplinas como história, geografia e biologia.
Entretanto, este método não se foca em fazer a criança perceber o que é uma
determinada espécie marinha como os cavalos, por exemplo, mas sim em fazê-la
tomar consciência da sua dependência e relação aos oceanos.
“Para construir este programa consultamos muitos pedagogos internacionais que nos
explicaram que quanto mais explicamos a criança o que é uma estrela do mar ou uma
tartaruga ela passa a gostar destes seres, mas não se identifica com eles, porque não
compreende a relação que ela tem com os oceanos. Neste sentido, uma das disciplinas mais importantes do curso é sobre os fluxos que existem entre as pessoas e os oceanos e sobre os serviços ecossistémicos, ou seja, explicar as crianças que elas
dependem todos os dias dos oceanos, desde a água que bebem ou peixe que comem.”
O objetivo é precisamente gerar a ideia de dependência, por acreditar que, somente se o ser humano compreender a sua dependência, é que vai poder desenvolver o respeito pela natureza que, “infelizmente nós, a espécie humana, não temos demostrado”. Essa nova relação entre as gerações vindouras e a natureza é determinante para que elas continuem a habitar este planeta.
“Acreditamos que estas crianças vão crescer de uma maneira diferente por terem tido estes ensinamentos e por terem tido contacto com a literacia dos oceanos” conclui.
Natalina Andrade

PUB

PUB

PUB

To Top