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Sociedade

Ângela, a mecânica da Assomada

Ângela Teresa da Veiga é uma jovem mecânica, das poucas existentes em todo o Cabo Verde. Natural de Banana Semedo, no concelho de Santa Catarina, esta empreendedora abriu, em 2018, a Mecângela, uma das primeiras oficinas de mecânica-auto moderna e de referência na cidade da Assomada.

Angela Teresa Lopes da Veiga, 30 anos, é uma jovem Engenheira Mecânica, formada pelo ex-Instituto Superior de Engenharia e Ciências do Mar (ISECMAR), em São Vicente. É,seguramente, uma das primeiras mulheres mecânicas de Cabo Verde, no seu caso, proprietária de uma das mais modernas oficinas de mecânica-automóvel em Santa Catarina.

Em conversa com o A NAÇÃO, Ângela conta que, muito cedo, teve paixão pelos ofícios dominados pelos homens. “Gostava de participar nos trabalhos de construção civil, fazer casa para os animais e consertar aparelhos. Portanto, tenho a mecânica no sangue”.

Ângela da Veiga avança que, em 2003, matriculou-se na Escola Técnica Grão Duque Henri, em Santa Catarina, e escolheu a área de mecânica.

“Quando concluí o 12º ano de escolaridade fui fazer o curso de engenheira mecânica no ISECMAR, em São Vicente, e terminei o curso em 2013. Depois, fiz estágios em várias empresas, mas não consegui emprego. Inclusive, em 2015, fui para o serviço militar com o intuito de ingressar na oficina mecânica das Forças Armadas, mas sem sucesso também”.

A nossa interlocutora avança que, longe de desistir, resolveu criar a sua própria empresa, em Assomada.

“Quando terminei o curso eu já tinha o projecto. E, por ser um projecto grande, precisava de financiamento, o que só consegui junto da Pro-Empresa, em 2018. Em Janeiro de 2019 abri a Mecângela, a primeira oficina de mecânica automóvel criada e liderada por uma mulher em Santa Catarina”, diz com orgulho.

Poucas mulheres na área

Ângela da Veiga sublinha que ao longo da caminhada como estudante, formadora e mecânica, reparou que há um número muito reduzido de mulheres na área da mecânica. “Na Escola Técnica éramos sete meninas e no curso no ISECMAR apenas quatro”.

E, enquanto profissional, confessa que sempre trabalhou junto com mais homens do que mulheres.

“Em vários casos sou a única mulher no meio dos rapazes, mas nunca tive problemas e sempre fui muito bem tratada pelos meus colegas. Até sinto que tenho espírito para trabalhar mais com os homens do que com as mulheres. Porém, gostaria de ver mais mulheres nesta área porque nós somos capazes. Precisamos apenas de mais incentivos”, sublinha.

Oficina de referência

Ângela avança que o serviço prestado pela sua empresa é baseado num aparelho de diagnóstico certificado a nível da Europa.

“Na Assomada há muitas oficinas de reparação de automóveis, mas a Mecângela trouxe algo que não existia e que fazia muita falta em Santa Catarina. Fomos os primeiros a trazer um aparelho de diagnóstico de última geração a nível da Europa e funcional para todas as marcas de carros”.

A jovem mecânica assegura que na sua oficina só começam a reparar as viaturas depois do diagnóstico feito pelo referido aparelho.

“Através dele conseguimos identificar, em 15 minutos, qual é o problema e como reparar. E isso dá confiança aos clientes e segurança ao nosso trabalho. Hoje em dia, os carros são quase todos electrónicos e os proprietários não aceitam que os mecânicos desmontem os seus carros de qualquer maneira para tentar descobrir a avaria. Isto era antigamente. Com o aparelho vamos directo ao ponto e desmontamos apenas a parte necessária.”

Efeitos da pandemia

A jovem empreendedora revela que a Covid-19 afectou muito o negócio da sua empresa, sobretudo no período de Estado de Emergência. “Fechamos no dia 26 de Março e voltamos a abrir a 16 de Maio. Tivemos que fazer milagres para manter a empresa de pé para não despedir e nem colocar os funcionários no Lay-off e nem ficar à espera do INPS. Apesar de ter entregue os documentos necessários para receber os apoios financeiros prometidos pelo Governo, até agora não recebemos nada. E, mesmo assim, conseguimos liquidar todos os nossos compromissos”
Ângela avança que se não fosse a pandemia a sua oficina estaria cheia de carros, sobretudo dos emigrantes.

“De Julho a Setembro, e depois no mês de Dezembro, é a época alta para nós. Muitos emigrantes, quando chegam, trazem os seus carros para resolver algum problema, uma vez que os carros electrónicos, quando ficam muito tempo parados, alguns acessórios acabam por oxidar ou sofrer outras avarias. Infelizmente, com o encerramento das fronteiras, este ano os emigrantes ainda não vieram. Mas também estamos a ter dificuldades na importação de
peças. É por isso que temos neste momento muitos carros na oficina à espera de peças”.

Silvino Monteiro

*Publicado na edição Nº 675 do semanário A NAÇÃO

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