Por: José Valdemiro Lopes
“… para Mira, Lisa, Bruna e a mãe Cília Lopes …”
As Nações Unidas celebram, neste ano de 2020, o seu 75º aniversário, em plena crise sanitária mundial, enfrentando também a crise crónica permanente da luta pelo desenvolvimento, (problema dos países pobres os mais numerosos), mais os efeitos perversos do sobreaquecimento planetário, que inspira a necessária tarefa urgente de salvar o mundo contra o desastre ecológico, interpelando todas as nações para a prática e exigência planetária de uma diplomacia “verde”; e ainda a materialização das alternativas e numerosas metas da Agenda 2030, integrando a “justiça do género”, mormente como política “interior e exterior”, “feminista”.
Elisabeth Moreno: franco-cabo-verdiana Ministra em França
Nesta área, Cabo Verde regozija-se em modelo, imagem e formato exterior, com a nomeação na França, segunda potência económica e política europeia, como Ministra-adjunta ao Primeiro-ministro, Elisabeth Moreno, um quadro técnico da sociedade civil, na área de igualdade de género e integração social. A Elisabeth Moreno, de 46 anos, é franco-cabo-verdiana e nasceu na localidade e município do Tarrafal da nossa ilha de Santiago …
Se a escolha da França honrou e aumentou a nossa autoestima, aqui entre nós, a realidade é que continuamos com a cabeça profundamente enterrada na areia nesta área da Lei de Paridade do género que, embora legitimada, navega, na prática, em plena “ligeireza”. Dos “cabeças-de-listas” para as autárquicas neste famoso ano de 2020, não se aproveitou a excelente oportunidade para se materializar a mudança de atitude colocando em destaque a liderança feminina.
Isaura Gomes e Vera Almeida: dois casos de sucesso
Na área autárquica, Cabo Verde guarda um activo de dois casos de sucessos materializados por duas emblemáticas figuras políticas “femininas” ganhadoras das disputas municipais, num passado recente em dois municípios cabo-verdianos; citamos: Isaura Gomes, Mindelo e Vera Almeida, Paul, (que garantiram as escolhas feitas, pelos dois maiores partidos políticos destas ilhas).
Nestas vizinhas autárquicas, os “políticos domésticos”, de maneira conservadora, decidiram colocar, segundo interpretações várias, a novel lei da paridade, em “banho-maria”, não abrindo a mão ao acesso à liderança política feminina em nenhum dos vinte e dois municípios cabo-verdianos, enquanto que, “externamente”, verifica-se “caboverdianamente” falando, que, quem brilha em cargos de liderança governamental e institucional, de alto nível, elevando o nome de Cabo Verde, orgulhando todos os patriotas desta nação, nas ilhas e na Diáspora, são as mulheres crioulas filhas deste arquipélago e estamos referenciando: “Elisabeth Moreno, Helena Semedo e Cristina Duarte”
Rivalidade entre EUA e China
O mundo está à beira da rota de colisão devido à crise “Covid-19” e à própria gestão da pandemia acresce-se perigos de conflitos abertos na cena internacional caracterizando um clima geral de desconfiança e rivalidade económica e tecnológica e mesmo desajustes ideológicos, diplomáticos e também militar. Todos esses fenómenos desreguladores do frágil equilíbrio internacional entre nações em competição permanente, tiveram lugar durante este primeiro quadrimestre deste ano de 2020 da pandemia do Covid-19 e a rivalidade é mais acentuada, intensa e agressiva, entre os dois gigantes, os USA e a China.
Diante desta “confusão generalizada” e vivendo todos neste mundo, os “maus feitos” sanitários e económicos deste novo coronavírus, especulativamente pode-se pensar se haverá ou não problemas no acesso à eventual vacina e medicamentos, em primeira mão para Cabo Verde, quando se vê o ”imbróglio” reinante entre “grandes e pequenos estados”, quando até nas relações internacionais, em tempos normais, prevalece a distinção convencional entre estados grandes e pequenos. Os grandes são por definição, aqueles com maior massa crítica, extensão territorial, população, recursos e sabemos, é a experiência corrente, que os grandes procuram alterar ou preservar o status quo, egoistamente, para seu próprio beneficio.
Mas no terreno, as coisas, não são tão simples, como isso. Por um lado, encontramos pequenas cidades e estados que foram e são imensamente influentes (caso Singapura) e, por outro, grandes estados que passaram por fases de extrema fraqueza face a esta pandemia e até se enquadraram na categoria de estados sanitários frágeis solicitando ajuda e intervenção de equipas de especialistas de Cuba, um país pobre!
Singapura e Cabo Verde: comparação impossível
Falando de Singapura, lembro-me do dizer do prémio nobel da paz Ramos Horta do Timor Leste, (CPLP), que comparou a resiliência deste pequeno país-cidade, à resiliência cabo-verdiana, mas não devemos nos embalar na sombra desta semelhança, acautelando a nossa autoestima, porque Singapura é mais que um peso-pesado, embora sendo um país-cidade de 600 quilômetros quadrados. É o terceiro maior centro financeiro do planeta (comprou o gigantesco Belgacom, nos fins dos anos 90 do século passado); ocupa o sexto lugar do mundo no Índice de Desenvolvimento Humano; e graças ao seu fundo de “pensão-poupança”, é o maior investidor estrangeiro em países como China, Índia, Indonésia ou Vietnam; mais, ainda, em termos de infraestrutura marítima, possui o segundo maior porto comercial do mundo; recebe vinte milhões de turistas por ano e duas de suas universidades estão entre as quinze melhores do planeta, só para citar alguns factores da “in comparação”.
As Universidades cabo-verdianas, estão classificadas em termos de qualidade a mil e qualquer coisa e a extinta TACV, onde fui quadro, perdeu muito, não se inclinando para aprender ou familiarizar-se com a companhia aérea de bandeira da Singapura, ao contrário da feliz decisão da melhor companhia aérea africana, a transportadora pan-africana de bandeira etíope que foi beber dessa experiência e traduziu na prática, com sucesso o bom exemplo de gestão técnica operacional e comercial da companhia Singapore Airlines…
PS.: valor do distanciamento físico, nesta nova normalidade – Infos gerais Covid-19
miljvdav@gmail.com
(Publicado no A NAÇÃO (digital), nº 675, de 06 de Agosto de 2020)