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Guiné-Bissau: Massacre de “Pindjiguiti”  foi há 61 anos

A 3 de Agosto de 1959 – conforme escreve Sílvia Roque, professora e  investigadora do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra – em Portugal -, citada pelo  portal www.esquerda.net -, os trabalhadores do Porto de “Pindjiguiti” – por outros, chamado de “Pidjiguiti” , em Bissau – na então Guiné Portuguesa -, organizaram uma greve reivindicando um aumento de salários.

Marinheiros, estivadores e trabalhadores das docas, particularmente aqueles que trabalhavam para a Casa Gouveia, um monopólio comercial intermediário do grupo CUF (Companhia União Fabril), foram violentamente reprimidos por funcionários coloniais, polícia e militares, e alguns civis, repressão esta que viria a resultar em 50 mortos e cerca de uma centena de feridos.

 Esta não foi a primeira greve dos trabalhadores do Porto de Bissau. Já em 6 de Março de 1956 tinham existido confrontos entre a Polícia e os trabalhadores, os quais, pelos mesmos motivos, organizavam então uma greve. Nessa altura, porém, apesar de algumas detenções, a violência foi contida e os detidos acabariam por ser libertados por ordem do Governador Mello Alvim (Silva, 2006).

Segundo os relatos dos sobreviventes e de outras testemunhas – entre as quais Luís Cabral e Carlos Correia, ambos – então – funcionários da Contabilidade da Casa Gouveia e futuros líderes da Guiné-Bissau independente –, perante a irredutibilidade do gerente António Carreira, recusando atender as reivindicações dos trabalhadores, estes resolveram avançar com a greve planeada, concentrando-se no Cais e parando toda a actividade.

Segundo Luís Cabral – sempre citado por Sílvia Roque -, face à ameaça do uso da força, “os trabalhadores em greve fecharam o portão de acesso ao Cais de ‘Pidjiguiti’, apanharam tudo quanto podia servir para se defenderem e aguardaram (…) poucos minutos depois ouviam-se os primeiros tiros: os soldados e a Polícia tinham acabado de romper a frágil barragem do portão e penetravam no recinto do Cais, atirando impiedosamente contra os grevistas, que, a princípio, ainda tentaram defender-se. Cedo, porém, depois de verem cair muitos companheiros, compreenderam que, diante da cruel realidade, a única solução era procurar fugir do Cais, para escapar à morte”.

Após a repressão, vários grevistas e simpatizantes nacionalistas foram detidos, alguns torturados pela PIDE – Polícia Internacional de Defesa do Estado -, numa frenética caça aos cérebros que estariam por detrás da greve, considerada como algo impossível de ser organizado por indígenas analfabetos.

A repressão de “Pindjiguiti” acontece numa altura em que o Estatuto do Indigenato continuava ainda em vigor, mas, também, em que os movimentos nacionalistas da Guiné começam a organizar-se com maior intensidade, incentivados pelo contexto internacional mais favorável às independências africanas.

De acordo com Amílcar Cabral, o fundador do PAIGC – Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde -, “os acontecimentos do 3 de Agosto foram uma lição histórica para o nosso Povo africano e para a Direcção do nosso Partido”.

A revolta e o Massacre de “Pindjiguiti” seriam desde logo encarados e apresentados como o momento charneira que conduziria à reorientação do Movimento Macionalista, e em particular do PAIGC, para a Luta Armada e para uma acção centrada na mobilização nas zonas rurais, em lugar dos centros urbanos, onde o Poder Colonial facilmente poderia conter as acções.

A justificação da Luta Armada como única estratégia viável, em 1961-63, baseia-se na demonstração da falta de abertura do Poder Colonial que “Pindjiguiti” comprovava.

Após a independência, a Memória de “Pindjiguiti” seria mobilizada como um dos símbolos e fundamentos do Estado independente, indissociável do Partido, e, uma vez mais, da necessidade de unidade. A Independência é celebrada como uma reposição da Justiça que honra os mártires do colonialismo, com enorme destaque para as vítimas do Massacre. É assim que o 3 de Agosto é declarado Feriado Nacional e que, entre 1975 e 1980, é levada a a cabo uma série de iniciativas que consolidam a centralidade do imaginário do massacre.

Em 1979 é inaugurado o monumento aos Mártires de “Pindjiguiti” no local aproximado das ocorrências.

O lugar de “Pindjiguiti” na construção da memória da Luta de Libertação e na Fundação da Nação e da identidade bissau-guineense é, trambém, particularmente central na poesia daquele País Lusóno da Áfricxa Ocidental.

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