Por: Alex Semedo
1- Acalmia
Depois de dois dias de explosão, eis que chega a bonança.
Pelo menos, aparente.
Na parte que nos toca, torcemos para que seja pela positiva.
E que se perdure no tempo.
Aliás, alegria maior será quando se estabilizar na estaca zero.
Mesmo assim, por agora, tudo o que seja número de novos casos menor do que o do dia anterior, é motivo para (quase) júbilo.
Para regozijo.
Quanto mais não seja, quando se vem à memória, de que, em dois dias seguidos – na segunda e terça-feiras desta semana! -, os relatos, aliás, o Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde e Segurança Social (MSSS) deu conta de 54 e de 40 novos infectados, respectivamente.
E com a Ilha do Sal (sempre) à cabeça.
Nestes dois aziagos dias.
Felizmente, a situação amainou (em termos comaparativos!) ao terceiro dia – nesta quarta-feira! -, na data consagrada a São João Baptista – 24 de Junho -, um dos mais populares e internacionais santos da Igreja Católica.
Coincidência ou não – com o Dia de “Sandjon”! -, o certo é que baixou-se para 16 novos casos.
Repartidos por Praia (dez); Santa Cruz (um); e Sal (cinco).
O primeiro caso de novo Coronavírus em Cabo Verde, foi notificado a 19 de Março, na Ilha da Boa Vista.
Num turista inglês, de 62 anos, que veio a falecer.
Mais sete pacientes, todos cabo-verdianos, também morreram.
De Março a esta parte – 98 dias bem contados, até quarta-feira, 24! -, COVID-19 já se “espalhou” pelo Arquipélago.
À excepção das ilhas do Maio, Fogo e Brava.
Na Ilha de Santiago, reportam-se casos positivos em sete dos nove concelhos, estando fora da lista, São Lourenço dos Órgãos e São Miguel.
Com os dados actualizados de casos confirmados, Cabo Verde conta – até esta quarta-feira! -, 999 casos acumulados de COVID19.
A roçar o milhar.
2- “Apelo ao bom-senso”…
Sem papas na língua.
E numa linguagem entendível – para quem quer ouvir!
É assim que se pode classificar o “apelo ao bom-senso”, feito pelo delegado de Saúde do Sal.
Num dia desses.
José Rui Moreira – em conversa com a Inforpress -, alerta os salenses – numa mensagem que pode ser extensível a todos os cabo-verdianos! – de que como “não há estrutura que aguente”, não resta outra escapadela: os patrícios têm que colaborar no combate à COVID-19.
“As pessoas estão ociosas, fazem festas, frequentam as praias-de-mar, juntam-se em aglomerações (…). A Ilha está a passar por uma situação de transmissão comunitária e as pessoas não estão confinadas. Nós estamos a fazer a nossa parte, mas se a população não se acautelar e o vírus se alastrar mais, não teremos lugar para acolher infectados. Fica difícil!”, avisa o médico, diagnosticando que não se poderá “controlar a situação”, sem o envolvimento e a activa participação e colaboração da população.
Como “quem avisa, amigo é”, fica o repto de quem entende da saúde.
Em face deste lancinante apelo, que mais parece uma conclamação, o TPC é matutar e…tomar tenência.
Para o bem de todos…
3– Jogar na antecipação
Para se evitar derrapagens…
A estratégia deve ser a antecipação e o encontro de resposta, em tempo oportuno, para levar de vencida o novo Coronavírus e, jamais, jogar na retranca, para, depois, fazer a sua perseguição.
Pelo menos, é o que defendem várias vozes entendidas – em linguagem chã! -, apontando como exemplos práticos, diversas situações do quotidiano da vivência humana.
Incluindo a cabo-verdiana.
Que não se pode descurar, já que o Mundo virou, de há muito, uma Aldeia Global.
Cá vai um…
“Se deixarmos o ladrão levar os nossos pertences, para, depois, persegui-lo, estamos tramados”, sustentam, defendendo “pró-actividade” e, também, “urgente investimento e aposta” na “desconstrução” e “desmontagem do discurso muito politizado”, para um outro que “seja tragável, absorvível e entendível” pelo receptor.
Se se quer “derrotar”, em tempo oportuno, COVID-19.
Fica o recado.
4– Esconjurar o relaxe…
Muito se tem falado, por estes dias – dentro e fora de portas -, dos “danos”, usos e abusos do desconfinamento.
Do desregrado.
Não são bem “danos”, mas sim, desleixo e sede de ir ao pote.
De uma só vez.
Mas como a culpa nunca fica no chão, nem morre solteira, atribuem-se os tais “danos” ao pós-confinamento.
À pretensa necessidade de desestressar-se e…de dar asas à imaginação.
Por culpa dos dias passados no confinamento.
Só que isso sempre traz malefícios.
E exemplos não faltam.
Em 22 dias – 1 a 23 de Junho! -, Cabo Verde mais que dobra o número de infectados.
Relaxe, descuido, irresponsabilidade, incoerência, incongruência, desrespeito às autoridades, ameaça à saúde do próximo – e, por arrastamento, à Saúde Pública! -, e outros que tais, agravados a maus exemplos e/ou a posturas e comportamentos dúbios e contraditórios vindos de cima – muitas vezes! -, têm levado, infelizmente, a recuos e a medidas – quase! – dolorosas e drásticas em alguns rincões desta nossa Aldeia Global.
Também está em pauta em Cabo Verde.
E não são só de jovens, a que, muitas vezes, atribui-se-lhes comportamentos de risco.
De irreverência.
Desviantes.
Vários são os ecos de festas ilegais e despropositadas – de dia e de noite! -, idas a praias, jogos de cartas/biscas, ouril, damas e…até “seca peli”, em algumas modalidades colectivas…
Para não se ecoar do flagrante incumprimento dos protocolos e directivas dadas pelas autoridades sanitárias.
A começar pelo não-uso – ou uso defeituoso! – de máscaras.
Tudo à luz do Astro-Rei, mas…também à noite, altura em que vários filhos-de-cristão entendem ser “o momento sagrado” de recolha, de descompressão, de relaxe e de recarregar de baterias para a jornada do novo raiar.
Que – a bem da verdade! -, de muitos, começa bem cedo.
Como o desconfinamento desrima com afronta e invasão à liberdade do semelhante, irresponsabilidade e pândegas mil, é curial, salutar, aconselhável e oportuna a adopção de comportamentos condizentes com a sã-convivência e vida em sociedade.
Aliás, está-se na hora de não se esconder a faca ao “bodeco”.
Que é o mesmo que dizer: ou adoptamos e cultivamos a prevenção e a antecipação na luta contra COVID-19, ou…haverá graves derrapagens.
Para não se dizer outra coisa.
E não é radicalismo, não.
Nem profecia da desgraça.
5– Exaltação
Está tudo dependente.
Tudo condicionado.
Programado.
Conectado.
Tudo por culpa do novo Coronavírus, cognominado COVID-19.
Nem mesmo o Aniversário 45 da Independência de Cabo Verde, proclamada, no Estádio da Várzea – na Cidade da Praia -, naquele 5 de Julho de 1975.
“Dia do Nosso Orgulho”, o evento merece e reclama que seja do Povo.
Que há muito espera que lhe seja devolvido.
O protagonismo.
À semelhança daquela manhã de 1975.
Tomara que, vencida a “guerra” contra COVID-19, “o Povo seja chamado, tido e achado” em semelhantes celebrações, momentos de exaltação e…de recordações mil.
De todo o modo, e estando em maré de restrições impostas pela Situação de Calamidade – em que se encontra o País, após o Estado de Emergência -, a par das normas sanitárias a serem observadas, os Presidentes da República e da Assembleia Nacional, respectivamete, Jorge Carlos Fonseca e Jorge Santos, já acertaram as agulhas para o Acto Celebrativo dos 45 anos.
“Vamos ter a nossa Sessão, no modelo reduzido em número de participantes, mas com todas as instituições e personalidades, sejam estatais, nacionais e locais, mas, também, representantes da própria Sociedade Civil”, garantiu à Imprensa, Jorge Santos, realçando, todavia, que será “um momento de reflexão e de exaltação nacional”.
Lá estaremos…
Mesmo que virtual.
(Publicado no A NAÇÃO(pdf), nº 669, de 25 de Junho de 2020)