Sebastião Monteiro, ou simplesmente Betxinha, é um dos poucos que ainda se dedica activamente à confecção do tambor tradicional, um dos maiores símbolos das festas de romaria de Porto Novo, em Santo Antão. Hoje, senão fosse a covid-19, seria dia de festa rija na cidade.
O cancelamento das festas de São João no Porto Novo alterou os planos do tamboreiro que já tinha programado uma série de actividades. Entre elas uma formação sobre a confecção e toca de tambor que seria ministrada em toda ilha de Santo Antão e que foi cancelada.
No entanto, as consequências maiores são sentidas no número de tambores vendidos. Com hábito de vender mais de 40 tambores no país e para a diáspora, nos meses de maio e junho, por agora só consegiu vender apenas um e consertar mais dois. Todas as encomendas foram canceladas.
“Eu tinha encomendas de Portugal, Estados Unidos de América, Boa Vista e foram todas canceladas, apesar de os tambores já estarem prontos. É uma situação terrível. Eu como artista esperava alguma atenção tendo em conta o cancelamento das celebrações”, diz Betxinha.
Internacionalização
Betxinha teve o primeiro contacto com a confecção de tambores em 1983, mas foi só a partir de 1994 que se “profissionalizou” quando viu-se “obrigado” a aceitar um pedido do Senegal de quatro tambores.
Os tambores do artista são internacionalmente conhecidos. Há poucos países, conforme diz, que não
têm uma dessas obras de arte. Internacionalização impulsionada por alguns políticos que divulgaram o
trabalho do tamboreiro no exterior.
São João passou a fazer parte da história desse artista que diz ter um compromisso com o santo. Tanto assim é
que não vai parar o fabrico de tambores mesmo com o cancelamento das celebrações deste ano.
Contudo, Betxinha brinca que tem medo do que poderá acontecer com a cidade no dia 23 de junho caso a “ira” do santo volte contra as pessoas, mas diz que estará nesse dia com o tambor às costas por mais que a dinâmica
do tocar dos tambores esteja interrompida.
Ricénio Lima
*Estagiário