PUB

Cultura

Cabo-verdiano pede remoção de monumentos pró-esclavagistas em Cabo Verde

Um cidadão cabo-verdiano, radicado na diáspora, endereçou uma carta ao Presidente da República, Assembleia Nacional e Governo, solicitando a remoção de monumentos considerados pró-esclavagistas, entre eles a estátua do navegador português Diogo Gomes, na Praia e vários outros no Fogo e em São Vicente.

Segundo Gilson Varela Lopes, Diogo Gomes, foi um navegador que também traficava escravos em part-time, tendo participado da invasão de 1445, liderada pelo comerciante de escravos Lançarote de Freitas, na ilha de Arguin, na costa da Mauritânia, de onde eram enviados cerca de 800 escravos por ano a Portugal.

Por este motivo, diz, o mesmo não pode ser celebrado nem idolatrado, citando ainda excertos do livro “The Slave Trade: The Story of the Atlantic Slave Trade: 1440-1870” de Hugh Thomas, onde Diogo Gomes terá descrevido como capturou escravos e os conduziu aos barcos “como se fossem gado”.

Estamos a viver um período histórico de contestação racial, prossegue, onde o sofrimento causado por estes comerciantes de seres humanos negros remexem feridas profundas de “traumas vividos, discriminação e injustiça que ainda sofremos”.

“Como tal, não podemos mais homenagear pessoas nem sistemas baseados na compra e venda de seres humanos, logo Cabo Verde e os cabo-verdianos têm de dar o exemplo”, considera Gilson Varela, que se espelha em remoções, forçadas e oficiais, de estátuas ou bustos de esclavagistas e genocidas em vários países.

É o caso de Edward Colston (UK – Bristol), Cristóvão Colombo (EUA – Los Angeles), Robert E. Lee (EUA – Virgínia), Rei Leopoldo II (Bélgica), Victor Schoelcher (França -Martinica) entre outros.

Assim como a estátua de Diogo Gomes, localizada no Plateau, Cidade da Praia, Gilson sugere igualmente a retirada dos bustos de “exploradores coloniais” como Alexandre Albuquerque (Plateau), Serpa Pinto (Fogo), Diogo Afonso e Sá da Bandeira em São Vicente (Mindelo).

“Sugiro que a estátua de Diogo Gomes seja substituída pela estátua de Amílcar Cabral – que foi o arquiteto da nossa independência – que infelizmente está muito solitária na Várzea, apesar deste ter sido o local da proclamação da Independência de Cabo Verde”, atira.

O jovem ainda cita o escritor e moralista francês Jean de La Bruyere, que diz “Não construas estátuas aos vossos heróis, é melhor erguer estátuas às vossas vítimas”.

A retirada destes monumentos, reconhece, poderá causar nostalgia, devido ao seu valor “histórico-cultural”, e diz que urge fazer uso da mesma coragem com que se mudou a bandeira, a moeda e o hino nacional, para retirar estes monumentos.

A par desta carta, Gilson pretende lançar uma petição pública, para o mesmo efeito, dirigida ao Presidente da Assembleia Nacional.

PUB

PUB

PUB

To Top