“Kretcheu” é o primeiro livro da cabo-verdiana, Dicla Gonçalves, natural da ilha de Santiago e residente em Portugal, lançado recentemente nem plataforma online.
A obra, escrita em crioulo, inspira-se na vivência do interior de Santiago e em situações discriminatórias vividas pela autora, nomeadamente por causa da forma de falar e de agir diferente.
“As pessoas não queriam conhecer verdadeiramente quem éramos. Já traziam um título para nós e um preconceito bem formado sobre quem eramos. Eu participava em vários encontros da minha escola e não só e via o “choque” na cara das pessoas quando afirmava que eu era do interior”, recorda a autora, que agora diz-se orgulhosa em vestir a camisola do seu país e assumir as suas origens.
Escrito em crioulo, o livro traz poemas que retratam a mulher do interior, com traços e expressões que só existem nestas comunidades e pretende encorajar outros jovens a assumir a sua própria cultura.
“Procurei me focar mais em aspectos positivos que, de certa forma, facilitariam o leitor a ter uma visão diferente sobre o que é ser do interior, focando nas nossas singularidades e nas nossas vivências”, explica Dicla Gonçalves.
Segundo a autora, ter assumido a sua identidade lhe fez conhecer melhor a sua cultura e a forma peculiar de ver o mundo “com os olhos de quem cresceu numa pequena cidade, sem muita coisa para se fazer, ainda assim muito feliz”.
Lançar o livro em crioulo, num país que fala português foi outro desafio travado pela autora, entre o orgulho em vestir a camisola do seu país e o medo de não ser compreendida pelos leitores.
“Foi pensando precisamente nesta questão que pretendo sempre criar uma relação estreita com o leitor de modo a ajudá-lo nesta questão da própria interpretação do texto, que também passa muitas vezes pela tradução do mesmo. Tenho colegas e amigos que aprenderam a falar o crioulo, lendo o meu livro. Eu não poderia estar mais feliz”, declara.
O lançamento físico da obra estava agendado para o início de Abril, em Portugal. Devido a pandemia do coronavírus, o evento teve de aguardar uma nova data. Entretanto, já foi lançado nas plataformas digitais.
É desejo da autora lançar a obra também em Cabo Verde, ainda este ano.
