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Covid-19

Covid-19: Artur Correia defende prolongamento do Estado de Emergência mas diz que “não pode ser eterno”

Artur Correia, director nacional da saúde defendeu hoje o prolongamento do estado de emergência “por mais algum tempo”, para “consolidar a contenção” do novo coronavírus no país. Mas alertou que esse estado  “não pode ser eterno”. Correia teceu esse comentário “pessoal” durante a apresentação de dois estudos de projecção sobre a COVID-19 em Cabo Verde, na manhã desta sexta-feira, na Praia.

Um estudo é da OMS, e foi apresentado por Hernando Agudelo, realizado com base num modelo de transmissão comunitária, que não é o caso de Cabo Verde. Pois, não existe ainda transmissão comunitária no país, e outro estudo “mais adaptado à realidade do país”, assente num modelo de projecção de função exponencial, com base em dados matemáticos, levado a cabo por  José Augusto Fernandes.

O primeiro estudo de projecção da OMS, recorde-se, com base no modelo de transmissão comunitária, aponta para 102.291 pessoas infectadas no país até Março de 2021, ou seja, num horizonte de um ano, mas com sintomas na maioria ligeiros, sendo 83% assintomáticos. Cerca de 85 pessoas poderiam chegar a precisar de ventilador e no “pior cenário”, com o registo de 40 mortes.

O segundo estudo, “adaptado à realidade do país”, e feito com base no dia em que se deu o sétimo caso positivo no país, revela que, se até agora, “não tivesse sido feito nada”, em termos de medidas de contenção, inicialmente como encerramento das fronteiras e quarentena, e, depois, estado de emergência, teríamos uma projecção de 165 mil infectados. Isto numa perspectiva para um horizonte de 27 dias a contar desde o passado dia 19 Março.

Já numa perspectiva a quatro meses, mas tendo como base o cenário de contenção vigente actualmente, de estado de emergência, com 74,1% de confinamento social do total da população, os dados projectados são menores, e apontam para entre 39 a 40 mil infectados, mas com 430 mortes (no pior dos cenários).

Assintomáticos

As preocupações residem nos assintomáticos, entre elas as crianças, que são na verdade o desconhecido, pois não se sabe se existem e quantos são. “Teoricamente o vírus pode estar por aí, nos assintomáticos”, revelam os especialistas.

No final das apresentações, Artur Correia esclareceu que os “modelos teóricos têm de ser doseados com a realidade, com os contextos de cada país, que variam”, isto para dizer que as projecções são importantes para traçar estratégias de combate e orientar as autoridades para estarem cada vez mais bem preparadas, mas são projecções.

“Cabo Verde, para além dos números, tem um contexto social e geográfico diferente pelo que o comportamento das pessoas, a densidade populacional das pessoas, também varia de ilha para ilha e de cidade para cidade. Tudo isso influencia e pode contribuir para modelar as projecções que fizemos”, elucida.

Os dados revelados diariamente, diz, vão contribuir para que o “modelo seja cada vez mais real”.

Como referimos anteriormente, a previsão de aproximação do estudo que se fez com base na realidade do país, teve  como base o dia em que tivemos sete casos acumulados. “Mas há medida que o tempo passa vamos tornando o modelo mais real e assim vamos planificando e vai servir para tomarmos as decisões de acordo com esse modelo”, explicou Correia.

Confinamento

Face à incapacidade de se testar toda a população e descobrir quem são os eventuais assintomáticos que podem existir ou não no país, só resta a contenção e confinamento, por enquanto, que, dizem, tem-se revelado eficaz.

“Nós não podemos ficar eternamente no Estado de Emergência. O país não pode ficar fechado eternamente, por muito tempo. Há-de ser limitado no tempo, mas, neste momento, já vimos que é fundamental o confinamento domiciliar para conter a evolução e permitir o melhor planeamento no tempo, para adiar eventuais picos e permitir que o sistema de saúde esteja cada dia melhor preparado para fazer face a eventuais demandas extraordinárias que possam vir a acontecer”.

Sem alarmismos, Artur Correia reitera que tudo estás nas “nossas mãos”. Da população, do Governo, dos jornalistas. “Se soubermos sensibilizar bem a população de Cabo Verde, estou convencido que continuaremos a ganhar todos os dias e é essa a nossa meta. Consciente de que não podemos fechar o país para sempre. O estado de emergência há-de terminar”, disse, tomando como princípio a sua opinião pessoal, como técnico de saúde pública.

“Se me perguntarem pessoalmente o que é que eu acho, tenho a minha opinião pessoal e acho que não devíamos terminar agora (o estado de emergência). Devíamos prolongar um bocadinho mais para podermos consolidar a fase de contenção em curso”.

Ilhas sem casos

Questionado se se justifica o estado de emergência em ilhas que ainda não registaram casos, nem suspeitos, nem positivos, Correia admite pode ser uma questão a ter em conta.

“O estado de emergência deveria levar em consideração essas nuances que temos nas ilhas porque a dinâmica epidemológica varia de uma ilha para a outra e de facto temos ilhas diferentes, com situações diferentes, mas não sei se juridicamente isso é possível. Tudo isso tem de ser balançado”, defende. Em questão estão ilhas como Maio, Fogo, Brava e até São Nicolau que até agora não têm casos positivos.

Questionado se até dia 17 de Abril não aparecer mais casos em Santiago, se poderia ser uma ilha onde se poderiam refletir essas “nuances”, é mais ponderado.

“Santiago é uma ilha mais complicada, porque é uma ilha grande que tem maior população onde os eventuais assintomáticos seriam maiores do que nas outras ilhas. Então temos que jogar com tudo isso”.

Entre hoje e amanhã deverão ser conhecidos os resultados de São Vicente, cujas amostras já chegaram esta madrugada à Praia.

“Durante o dia de hoje os técnicos de laboratório vão ter um trabalho árduo para poderem diagnosticar todos os casos suspeitos que chegaram ainda da Boa Vista, Praia e espero que ainda no final do dia de hoje ou amanhã, já tenhamos os resultados”.

Artur Correia lembra que “quanto maior for o confinamento menor é a taxa de transmissão”.

Cabo Verde regista 7 casos positivos. Três turistas Boa Vista (1 morte e dois evacuados), três cabo-verdianos (1 curado na Praia, 1 activo na Boa Vista e 1 outro na Praia) e 1 caso em São Vicente, de uma cidadã chinesa.

GC

 

 

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