A demanda nas urgências do Hospital Baptista de Sousa diminuiu consideravelmente nas últimas duas semanas. A informação é avançada por dois funcionários dessa estrutura de saúde em São Vicente contactados pelo A NAÇÃO, que viram as suas rotinas diárias no hospital serem adaptadas à nova realidade imposta pela ameaça da COVID-19.
Em entrevista ao nosso online, esses profissionais revelam precisamente o modo como a pandemia alterou as suas rotinas nessa unidade hospitalar.
Com o diagnóstico dos primeiros casos de COVID-19, nas últimas semanas no país, foram adoptadas uma série de medidas para prevenir o risco de contágio nas diferentes estruturas de saúde no país.
A par disso, no Hospital Baptista de Sousa, um dado passou a constar dos registos – houve uma diminuição do número de demandas nas urgências.
“Temos menos trabalho por fazer, porque já não temos a grande demanda de pacientes que vêm de fora e internados. Então, há menos trabalho neste momento para fazer. A mesma coisa acontece quando se está nos serviços de urgência, pois o fluxo de pacientes diminuiu consideravelmente. Falo por experiência própria, na urgência da pediatria”, diz o médico, Bruno Alves.
Quem também revela este dado é o ajudante de serviços gerais, Marvin Raimundo, ele que trabalha diariamente no Banco de Urgência de adultos.
“Há coisas que simplesmente pararam de funcionar principalmente consultas diárias e isso fez com que passássemos a ter menos trabalho. Estamos focados nos casos de urgência. Antes eu ia ao aeroporto e ao cais, levar ou trazer pacientes, mas agora o meu trabalho é ficar no Banco de Urgência”, avança.
Em dias normais, o médico Bruno Alves trabalha na enfermaria durante sete horas. Estando nas urgências o número de horas de trabalho tende a aumentar para 12. Os primeiros casos de COVID-19 no país fizeram com que este profissional redobrasse os seus cuidados durante o horário de serviço e não só.
“Antes e depois de tocar num paciente tenho que lavar as mãos. Quando utilizo o estetoscópio num paciente, tenho que o desinfectar com álcool. Ao meu redor, na minha mesa, também desinfecto com álcool. Estou constantemente a colocar álcool nas mãos e uso máscaras adequadas para o serviço de urgência, neste caso N-95 que utilizo para me proteger e também toucas e luvas”, explica.
Os cuidados deste médico também se estendem ao vestuário que utiliza nas lides diárias.
“Tenho a minha roupa própria que utilizo no trabalho. Ou seja, trago roupa e dispo-a dentro da sala médica e visto a roupa própria de trabalho e por cima a minha bata branca. Não circulo no hospital com a minha roupa de casa e mesmo o sapato é um específico para usar dentro do trabalho. Quando saio daqui, se for possível, tomo um banho ao sair do hospital e uso álcool para desinfectar as mãos e os objectos que toco e levo para casa”, revela.
Segundo este médico, no HBS têm ao seu dispor luvas, álcool líquido e em gel, desinfectantes e sabonetes para as mãos e máscaras adequadas para o trabalho – as N95. Entretanto faz saber que no que diz respeito às máscaras, “não existem” em quantidade suficiente para todos. “Nas urgências todos usam estas máscaras, mas o pessoal administrativo e auxiliares de limpeza utilizam as normais, as cirúrgicas”.
Neste momento os profissionais das urgências do HBS aguardam a possibilidade de virem a ter ao seu dispor viseiras. Sentindo-se limitados, chamam a atenção para a necessidade de roupas EPI’s, que são as mais adequadas para os serviços de saúde no cenário actual.
O receio de contrair o vírus é uma realidade entre os vários sectores deste hospital, contudo, reconhecem as limitações do país, e por mais esforços que sejam feitos para fornecer o básico, nem sempre é possível.
“Sinto algum receio porque se qualquer coisa estiver errada, podes pôr em causa a tua vida e também a da tua família. E não há dinheiro que justifique o risco que quem trabalha na saúde corre”, conclui Marvin Raimundo.
JF