Por: José Manuel Sanches*
Gostaria de partilhar com os cabo-verdianos a minha reflexão da política partidária no que concerne a coragem para traçar metas de forma objetiva, podendo, no final da caminhada, dar lugar a assunção de responsabilidades perante o ‘cortar’ a meta ou ficar aquém da meta traçada.
1 – Estamos em ano eleitoral em Cabo Verde. Na verdade, este ano terá lugar as eleições autárquicas para escolhermos os eleitos locais para as Câmaras e Assembleias Municipais. Centenas de pessoas estarão a ser escrutinadas, milhares de propostas estaremos a ouvir, muitos municípios e munícipes terão a oportunidade de acreditar em sonhos antigos ou o renovar da esperança de que amanhã será melhor do que ontem e que o mensageiro do futuro trará boas novas de que não foi capaz de ver nem ouvir durante os 4 anos que passaram. Enfim! Será o tempo de termos esperança e de acreditar.
2 – Em ano eleitoral, vários argumentos estarão a ser colocados na arena política, mas o mais importante, serão aqueles que o eleitor for capaz de acreditar que mudará a sua vida e que trará transformação acompanhada de desenvolvimento para os municípios e os munícipes. Um dos argumentos que já começamos a ouvir é o do ‘ovo e dos cestos’. Contudo, as eleições autárquicas não são questões de ovos, cestos e galinha e nem do carregador do cesto, porque senão este argumento seria frágil. Senão vejamos: podemos não colocar nenhum ovo no cesto, se este for roto e não der garantia de segurança, podemos colocar vários ovos no cesto, se mesmo roto, sabemos que o buraco é pequeno e que os ovos não cairão. Outrossim, mesmo com cestos sem nenhum furo, podemos não colocar nenhum ovo se não tivermos a garantia de que quem transporta o cesto seja portador de confiança e que levará os ovos ao destino almejado. Ora, tudo isto é questão de garantia que o cesteiro nos oferece não só na construção dos cestos, mas também no transporte dos cestos e consequentemente dos ovos neles colocados. Penso, que em Cabo Verde, a questão deve ser colocada com muito mais cientificidade, ou seja, para as eleições autárquicas devemos escolher os candidatos que melhor programa de desenvolvimento do município apresente e quero crer que estes programas estão sendo contruídos na base de uma análise criteriosa não só dos problemas dos municípios, das equipas que as lideram e das alternativas que se quer apresentar para ganhar as eleições.
3 – Cabo Verde assistiu nestes dias o 1º ministro e presidente do MPD a traçar as metas dele enquanto Presidente daquele partido para as eleições autárquicas de 2020. Legítimo e muito ambicioso. Legítimo porque ele é o presidente do MPD, ambicioso, porque na verdade, além dos 18 que já tem neste momento e que não coloca a hipótese de perder, almeja conquistar mais 2 atingindo desta forma 20 Câmaras Municipais governados pelo MPD. Ao colocar esta meta de manter as 18 Câmaras e conquistar mais 2, Ulisses Correia e Silva arrisca-se a ser avaliado no final das eleições autárquicas pela meta que ele traçou. Se não conseguir conquistar 18 Câmaras, falha a 1º meta e consequentemente o objetivo final que são 18 mais 2, se conseguir manter as 18 Câmaras não cumpre a meta na totalidade, sendo assim, deverá assumir as suas responsabilidades. O que podemos destacar nas palavras de UCS é a ousadia de 4 anos depois de ganhar as eleições legislativas e 3 anos depois das eleições autárquicas de forma categórica traça uma meta que aproxima querer instalar em Cabo Verde a hegemonia política do MPD. Não sei as bases que ele sustenta para traçar tal meta, mas os cabo-verdianos devem manter vigilantes.
4 – Política combina com o traçar de metas de forma objetiva e um líder destaca-se pela coragem que tem de assumir as suas propostas de forma clara e objetiva e em conduzir o partido sempre com metas a tingir. No final do Congresso do PAICV, numa entrevista na TCV, a Presidente do PAICV, Janira H. Almada, confrontada com a META para as eleições autárquicas respondeu com meias palavras, dizendo que as eleições autárquicas no PAICV vem sendo preparada há mais de 2 anos e que a estratégia não poderá ser revelada ao público, Contudo, que a meta é equilibrar o poder, porque o MPD governa o país, tem quase a totalidade das câmaras municipais e um Presidente da República que eles apoiaram. Ela retorquiu que os Cabo-verdianos não devem colocar ‘os ovos todos no mesmo cesto’. As metas da Presidente do PAICV é equilibrar e não colocar os ovos no mesmo cesto. Estranho! Metas vagas e sem ‘metas a atingir’. Frases Soltas sem correspondência na tabela de verdade. O mesmo será dizer que o PAICV que neste momento tem 2 Câmaras municipais a governar, passados 4 anos e com 2 anos de preparação das eleições autárquicas de 2020, não tem um número mais ousado e objetivo para apresentar aos cabo-verdianos como sendo a sua meta?
5 – Entendemos a presidente do PAICV. Ao não fixar a meta de forma objetiva, qualquer resultado servirá na noite eleitoral para um discurso de vitória ou de justificação da derrota. O PAICV deveria exigir na noite do Congresso que a META autárquica desta nova direção será recuperar as 8 Câmaras Municipais que o PAICV tinha quando a JHA chegou à liderança deste partido. Aliás, seria um compromisso ético devolver o partido o número de autárquicas que tinha em 2014-2016. Não me refiro às mesmas câmaras municipais, mas aos mesmos números. Refletindo, embora muitos não queiram refletir, se nas próximas eleições autárquicas o PAICV não recuperar o número de câmaras que tinha em 2016, não alargará a base social e eleitoral. Os desafios são deverás gigantesco, mas não é aceitável que um líder como o presidente do MPD afirme que quer conquistar 20 câmaras e a líder do maior partido de oposição esconde-se atrás da tese de EQULIBRAR o poder é “NÃO COLOCAR OS OVOS NO MESMO CESTO”.
6– É tempo de traçarmos metas e deixar de navegar às apalpadelas. Os candidatos às eleições autárquicas não devem navegar na incerteza. Temos de recorrer a métodos científicos como é o exemplo de sondagens para escolhermos os melhores para as disputas eleitorais nas próximas eleições autárquicas. Todos somos ‘pouco’ para os desafios da nação e a política deve ser feita com espírito de responsabilidade, fugir do club de amigos, sacrifício, honestidade, cientificidade, rigor, transparência e muita ousadia. Vamos ousar mais e acreditar que é possível traçarmos meta a atingir, dentro da nossa heterogeneidade, dos desafios e das dificuldades da coletividade. Só assim teremos líderes, autarcas e autarquias competitivos.
* Deputado do PAICV
Cabo Verde: O traçar de metas nas eleições autárquicas
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