Por: José Valdemiro Lopes
2020, Ano das autárquicas em Cabo Verde, em termos de desenvolvimento social local, os ganhos destes últimos anos não são tão impactantes e todos os 22 municípios, apresentam um atraso preocupante, relativamente às metas dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável, (ODS das Nações Unidas), programadas, para serem alcançadas, em 2030.!
O acesso a financiamento pela classe empresarial e as necessidades em matéria de infraestruturas é ainda crucial, no arquipélago, e se Cabo Verde “… tem dinheiro que nunca mais acaba …”, parafraseando o Sr. Ministro das Finanças; existindo, este “dinheiro” deve estar nos cofres dos bancos!…, Se estivesse no seio das famílias cabo-verdianas, a “economia nacional” seria mais dinâmica, com menos desemprego, mais justiça social, beneficiando pela positiva a redução da pobreza…
Também é verdade que o PIB, finalmente nestes últimos anos, cresceu, á volta de 5%; um milagre, comparado com os magros resultados contínuos dos 15 anos da governança do anterior regime político que não conseguiu fazer crescer o PIB a dois dígitos, como prometido, que pelo contrário, estagnou-se, sempre á volta do débil 1%…
Observou-se em absurdo vindo sempre pela mesma via de comentário do pseudo intelectualismo político partidário hoje, oposição, de fraca e baixa representação politica (presença apenas em 2 dos 22 municípios), que não compreende como e por que razão, se a economia cresceu, 5%, não houve impacto significativo na redução do desemprego e diminuição da injustiça social?
A resposta é simples e salta á vista: A economia cresceu, é verdade, gerou mais-valia; mas será que nestas ilhas, a economia e as estruturas produtivas, são verdadeiramente controladas por nós, os autóctones quando na sua maioria os grandes investimentos privados em Cabo Verde, são todos estrangeiros! É natural que a “mais-valia” regresse às origens e o capital que saiu, não foi reinvestido nestas ilhas. Os ganhos criados aqui, foram repatriados e não se pode criar nem hipóteses nem perspectivas de verificação de baixa expressiva de desemprego…. O investidor privado, investe onde é rentável. Semeia o grão para colher a espiga…
Se a economia cabo-verdiana, fosse controlada pelos nacionais, mais seguramente que as probabilidades de reinvestimento, seriam maiores, a mais de 80% e migrariam supostamente para áreas diferentes, criando mais riqueza, mais emprego e diversificaria esta pequena economia de subsistência, ancorada na indústria turística, que precisa desta vitalidade, para realizar mudanças.
O Estado, tanto o central como o local tem de continuar a praticar, ainda, é uma necessidade, uma politica “assistencialista”, intervindo onde for necessário, preservando o interesse colectivo, protegendo mais e melhora a classe social mais frágil, assumindo com vontade politica, o seu papel “insubstituível” de promotor, regulador e incentivador da economia, com cara voltada sempre, para a economia produtiva, não subestimando a macro economia mas tendo em conta os parâmetros desta com os da economia real, como forma, sobretudo, entre outros de se poder criar condições para o surgimentol, não vejo outra expressão, do “capitalismo autóctone”, pujante, com capacidade para controlar os factores de produção e a economia.
Salta-nos á cara, neste pequeno país de parcos recursos uma fossa profunda que se desenvolveu exponencialmente depois da crise de 2008, que persiste… há uma desconexão entre o lucro humilhante de um punhado de individos, enquanto a maioria dos cidadãos vivem a realidade existencialista de situação de “desenrasco” e pobreza alarmante.
Todas estas fragilidades deviam servir como lição, motivo e razão para o aceleramento dos processos de transferência de poder e meios para a governança local, em todos os 22 municípios sob a forma de “descentralização administrativa”, acreditamos que a solução ideal é a instalação defacto, da Regionalização, no interesse colectivo, nacional para fazer, diminuir assimetrias, apoderando o poder local, a governança perto das pessoas, a estrutura pública, que conhece melhor que ninguém, as necessidade e as potencialidades das suas regiões.
Cabo Verde, neste ano 45 pós independência, deve de mudar a sua configuração e status quo, de governação de influência da agenda politica partidária… Vivemos uma época de mudanças e incertezas, mas também, vivemos, no quotidiano, como está a acontecer em todas as latitudes os protestos a insatisfação e a indignação, com manifestações, culpabilizando o sistema e os actores políticos que prometem mais do que realizam na prática… os denominadores comuns apontam contradições sociais, crises de governança, corrupção, insegurança, crise de valores, problemas institucionais, e a exacerbação das desigualdades, o mal de todos os males que neste país, empurra a juventude para a violência, álcool e estupefacientes…
O mundo inteiro está em transformação, e instalados, que estamos, na era da pós-privacidade, das redes sociais, das moedas digitais (isto é fisicamente inexistentes)… este país, deve estar preparado para novos desafios como o desenvolvimento das novas tecnologias: Rede 5G, Big Data, Inteligência Artificial e Robótica, que avançam a passos gigantes sobrepondo, muitas vezes, temos que reconhecer isso, a ética mais elementar e aos valores democráticos… Aqui, na Praia Capital, estamos já habituados a ser vigiados e filmados pelas camaras vídeo vigilancia e a boa-fé diz que é para a nossa proteção… Aproveito para formular votos de sucessos, neste ano de 2020, a todos os cabo-verdianos, nas nove ilhas…
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2020: Ano das transformações, da pós-privacidade e das autárquicas
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