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Sociedade

Estudante morto em Bragança. Pai de Giovani garante que a PSP não o queria deixar apresentar queixa

O pai do jovem cabo-verdiano que não resistiu aos ferimentos provocados por uma agressão em grupo, dos quais outros três jovens foram também vítimas, diz que agora não consegue ficar mais tempo calado. “O Giovani já não volta mais, mas isto não pode voltar a acontecer a mais nenhum cidadão, ainda por cima Portugal é um país desenvolvido”.

Já passaram treze dias desde que Rodrigues se despediu do seu filho Giovani, no Hospital de Santo António, no Porto. Mas só domingo, de madrugada, é que o corpo do jovem de 21 anos chegou à cidade da Praia, em Cabo Verde. O funeral está marcado para o próximo sábado, em Mosteiros, na Ilha do Fogo. “Já estou mais descansado, mas estou muito desagradado com muitas coisas que aconteceram ao longo deste processo e exijo explicações”, afirmou ao telefone com o Contacto.

Rodrigues, que ficará em Portugal por mais alguns dias, aguardou que se desenrolasse o processo de transporte do corpo de Giovani em silêncio, contudo o comunicado lançado pela PSP veio acelerar a vontade de falar. “Eu exijo uma investigação desde a chamada da policia aos bombeiros até à entrada no hospital, quero saber tudo o que se passou naquele espaço de tempo que os miúdos me garantem ter sido extenso”.

O pai do jovem cabo-verdiano que não resistiu aos ferimentos provocados por  uma agressão em grupo, dos quais outros três jovens foram também vítimas, diz que agora não consegue ficar mais tempo calado. “O Giovani já não volta mais, mas isto não pode voltar a acontecer a mais nenhum cidadão, ainda por cima Portugal é um país desenvolvido”.

“Ele tem seis meses para apresentar queixa”

Rodrigues garante que a PSP negou aos três jovens cabo-verdianos que se apresentasse queixa, quando estes se dirigiram, no dia seguinte, à esquadra para denunciar o caso ocorrido, já depois de Elton Barros ter sido testemunha do auto da queixa feita no hospital.  “Os miúdos estavam aflitos, não são de cá, fazem o que lhes mandam. Quando eles foram apresentar queixa à esquadra da PSP negaram-lhes que apresentassem queixa. Disseram-lhes que tinha de ser o próprio a apresentar queixa e que Giovani tinha seis meses para o fazer. Claro que os miúdos voltaram para trás”.

O mesmo se terá passado no dia 27 de dezembro, quando Rodrigues viajou do Porto para Bragança, acompanhado por Paulo que o acompanhou ao longo de todo processo. Dirigiram-se à PSP de Bragança para apresentar uma queixa crime mas garante, e Paulo confirma, que foi “muito mal recebido pela polícia” e que não o queriam deixar apresentar queixa.

Rodrigues repete o diálogo que terá tido com as autoridades: “vim apresentar queixa crime do meu filho que foi brutalmente agredido”, ao que o agente terá respondido “sobre este caso só o ofendido pode apresentar queixa”. O pai de Giovani terá insistido: “mas o meu filho está em coma profundo!”. Do outro lado responderam: “Ele tem seis meses para apresentar queixa”.

Rodrigues descreve a situação exaltado. “Aí eu já estava furioso”, respondi e disse “o Giovani está em coma profundo e nem sequer sabemos se vai sobreviver ou não. Ele pode não ter seis meses!”.

Terá sido aí que os mandaram aguardar, sendo então recebidos por um outro elemento. “Entrei no gabinete, identifiquei-me, disse-me que tiveram ocorrência da situação e em vez de registar queixa-crime, fez um reforço da queixa apresentada no hospital em que eu quis acrescentar que levou com bastão na cabeça e que o estado em que se encontrava era de coma profundo. Não me foi dada nenhuma cópia”.

Versões contraditórias

Rodrigues, que “aguentou este tempo todo calado”, agora não se poupa em detalhes. “Os miúdos contaram-me sempre tudo. Os rapazes encontraram o Giovani com a polícia, na rua, e ele tinha a camisa desabotoada e estava deitado de lado”, descreve. “Eles ouviram a polícia telefonar duas vezes para vir a ambulância e disseram em frente a eles que era caso de álcool, ao que eles corrigiram logo dizendo que Giovani tinha levado uma paulada. Só isto em si já é inadmissível, que um agente policial faça esse tipo de comentários sem haver um teste”.

Rodrigues prossegue “mas ainda há mais: quando a ambulância chegou e os rapazes disseram que ele tinha levado com uma paulada, foi-lhes dito para não mencionarem isso, para dizerem que caiu no chão, ou teriam de pagar 150 euros, que eu não percebo do que está a ser falado aqui”. Por ser domingo, não se apresentava ninguém no posto da PSP de Bragança capaz de comentar estas afirmações.

O comandante dos Bombeiros Voluntários de Bragança, José Fernandes disse este domingo ao Contacto, que está muito orgulhoso do trabalho desempenhado pela sua equipa. “Fizemos um excelente trabalho em tempo recorde”. Não acredita que nenhum dos seus homens “se meta nessas conversas” e garante que receberam “o alerta via CODU- INEM  às 4h da manhã tendo chegado ao local às 4:03 da manhã.”

Em sete minutos Giovani terá sido socorrido sendo que a ambulância “saiu do local às 4:10 e chegou ao hospital às 4:19 da manhã”. Segundo o comunicado da PSP a assistência médica do INEM foi acionada às 03:48, pelo que terão passado 15 minutos entre a chamada da PSP e a chegada da ambulância. É sobre este espaço de tempo que o pai de Giovani quer ser esclarecido.

A PSP, em comunicado, refere que  foi ativado o INEM pelos polícias que estavam no local, tendo o jovem sido transportado pela ambulância dos Bombeiros às urgências da Unidade Hospitalar de Bragança. E que só mais tarde é que a PSP foi contactada pela unidade hospitalar, que a informou que este jovem tinha sido vítima de agressão. Segundo o comunicado, a identidade do jovem foi fornecida por amigos, “que compareceram no local”, sem referir qual o local em questão.

Porém, os três jovens em questão falaram ao Contacto e disseram que encontraram o Giovani com a polícia, tendo informado que ele havia sido agredido. Rodrigues garante que a polícia esteve com Giovani e os rapazes agredidos na rua, porque “um dos rapazes foi também na ambulância”, informação que foi confirmada por José Fernandes, comandante dos Bombeiros Voluntários de Bragança.

Segundo Rodrigues, o primeiro erro desta investigação foi ter esperado tanto tempo para ser iniciada a investigação “eles nem quiseram registar queixa. Se me disseram a mim na cara que tinha de ser o próprio a apresentar, imagine. A investigação só começou com a Polícia Judiciária, quando o meu filho morreu”. O pai do estudante cabo-verdiano garante que com a ajuda do “advogado do Instituto Politécnico de Bragança vai ficar tudo explicado”.

O Contacto pediu esclarecimentos ao porta-voz da PSP ao final da tarde de domingo, mas até à hora da publicação desta notícia não foram apresentadas respostas, uma vez que “se apresentaram novas informações e aguardam resposta de Bragança”.

Fonte: Contato

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