A cultura, apresentada na maioria das vezes pelos governantes como o principal activo de Cabo Verde, tem para o ano de 2020 uma verba de 600 mil contos da fatia global do Orçamento de Estado estimado em 73 milhões de contos, e que já foi promulgado pelo Presidente da República, Jorge Carlos Fonseca, no último dia de 2019.
Aliás, a verba destinada ao sector da cultura nos últimos dois a três anos não sofreu grandes alterações, continuando muito longe do desejado um por cento do OE.
Espelho ele próprio da frustração que vai pelo sector, o ministro Abraão Vicente diz que é “um mito” pensar que é possível implementar o programa para a cultura “com a estagnação a nível do Orçamento do Estado”. Pois, como lamentou, “basta ler para perceber que a cultura não cresce a nível de Orçamento do Estado”.
O orçamento para a Cultura, este ano, estará centrado na implementação do plano de salvaguarda da Morna Património da Humanidade, tendo em conta a necessidade de se trabalhar para se criar activos que preservem por um lado a Morna e o seu estatuto e, por outro, contribuam para o desenvolvimento económico da indústria da Morna.
Jair Fernandes, presidente do IPC, já chamou a atenção para a necessidade de se criar um Museu da Morna e uma Casa da Morna, não se sabendo para já onde ficará localizada. Como tirar partido turístico de forma sustentável será outros dos desafios em relação ao novo Património Mundial de Cabo Verde – a Morna.
O mesmo do mesmo
Fora isso, a Cultura & Entretenimento deverão continuar centrados nos eventos regulares anuais, como o AME e Krioll Jazz Festival, que acontecem em Abril. Mas antes, em Fevereiro, Cabo Verde e especialmente São Vicente e São Nicolau deverão aguardar com expectativa milhares de visitantes para as festas do entrudo.
As atenções da agenda cultural estarão igualmente voltadas para os festivais de música: Gamboa (Maio), Baía das Gatas (Agosto) e Santa Maria (Setembro), todos a cargo dos respectivos municípios, Praia, São Vicente e Sal. Sem contar com os festivais associados a outras festas de romaria e celebrações do Dia do Município um pouco por todo o país.
Da agenda anual para 2020, constam ainda dois festivais literários, o Morabeza, da responsabilidade do Governo, e o Literatura Mundo, a cargo da autarquia local com a Rosa de Porcelana.
À semelhança de 2019, 2020 deverá ser um ano de boa produção editorial e literária. O jornalista Carlos Gonçalves deve lançar, agora em Janeiro, o seu livro sobre a Rádio Barlavento, “Bá da´l na rádio”. Vários outros títulos, de várias outras editoras, sabe o A NAÇÃO, estão neste momento na forja para abrilhantar o ano de 2020.
Em termos de lançamentos de discos, aguarda-se com expectativa o novo disco de Cremilda Medina e Nish Wadada, e certamente um EP de Dino d´Santiago, dedicado a Barlavento, depois de ter lançado no final do ano passado um dedicado a Sotavento. O cantor já está também a trabalhar num novo disco. No cinema, dois festivais se perfilham, o Plateau, na capital, e o Festival Internacional de Cinema do Sal, o mais antigo.
Santo Antão: Porto Novo ganha Museu e Centro de Artes e Ofícios em 2020
O Museu das Romarias e o Centro de Artes e Ofícios são dois espaços culturais e serem abertos no primeiro semestre de 2020, no Município do Porto Novo, em Santo Antão.
As infraestruturas que vão albergar o Centro de Artes e Ofícios já estão concluídas. Falta agora dotá-la dos equipamentos necessários ara a sua inauguração que, segundo a Câmara Municipal do Porto Novo, deve acontecer no início de 2020. Trata-se de um espaço de experimentação, produção e divulgação do artesanato e visa criar melhores condições de trabalho e novas oportunidades aos artesãos locais.
O Centro, cuja construção foi iniciada ainda na gestão camarária anterior, dispõe de uma sala de formação, duas oficinas de produção de artesanato e uma galeria de exposição e venda dos produtos.
Já o Museu das Romarias, cujas obras de construção estão suspensas, há pelo menos cinco anos, a edilidade garante que o projecto vai ser retomado no início de 2020 e espera-se que em Junho o espaço esteja apto a receber os primeiros visitantes.
O Governo já garantiu o financiamento das obras de conclusão deste espaço cultural, que rondam entre 11 a 12 mil contos. Além do museu, o Ministério da Cultura e Indústrias Criativas vai reabilitar ainda as capelas de São João, em Ribeira das Patas e na cidade do Porto Novo.
Os investimentos previstos na cultura para este município para o ano de 2020 são de cerca de 32 mil contos, com destaque para a criação de uma Escola de Música e montagem de um laboratório experimental de arte e design.
(Publicado no A NAÇÃO impresso, nº 644, de 02 de Janeiro de 2020)