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São Vicente

São Vicente: 2019, um ano com altos e baixos

São Vicente sai de um ano marcado pela deficiente ligação marítima e aérea com o resto do arquipélago, no rescaldo de uma concessão pouco abonatória para os transportes marítimos. Um ano em que o povo, mais uma vez, mostrou a sua indignação para com a situação da Ilha do Monte Cara, que, como fizerm questão de lembrar, arrasta-se há muito. 2019 foi também um ano de cultura e arte e que acaba voltado para os negócios e promessa de vários empreendimentos turísticos e hoteleiros para os próximos meses.
 
Carnaval
O carnaval 2019 ficou marcado pelo braço de ferro entre a Liga Independente dos Grupos Oficiais do Carnaval (LIGOC-SV) e o grupo Estrelas do Mar, que acabou por vencer a disputa e entrar para o desfile oficial da festa do Rei Momo. 
No rescaldo deste contratempo, o Vindos do Oriente foi quem acabou por ficar à margem do desfile oficial, por decisão da mesma e por não compactuar com decisões e directivas da Liga que os representa. 
Entretanto, parece que o ano foi suficiente para repensar as decisões e acalmar os ânimos e o grupo já confirmou a sua presença no carnaval 2020, para disputar o título de campeão com o Cruzeiros do Norte que, este ano, levou o título para casa. 
Nas posições seguintes ficaram os grupos Monte Sossego, Estrela do Mare e Flores do Mindelo, respectivamente.
 
 
Kavala Fresk Feastival 
O Kavala Challenge foi o foco da edição 2019 do Kavala Fresk Feastival, que aconteceu a 13 de Julho, no Mindelo. A ideia foi sensibilizar a população para dar nova vida aos resíduos sólidos ou materiais transformáveis.
Com foco na preservação ambiental, a Mariventos, empresa organizadora, optou por substituir o tradicional prémio “Kavala mas sab” pelo “Restaurante mais eco”, como forma de incluir os participantes na campanha para a preservação do ambiente e do oceano. 
A sétima edição reuniu, como de costume, famílias ao longo da Avenida Marginal para degustar a cavala, dar um passeio de bote, apreciar um desfile de moda, ouvir música, ente varias outras actividades.
 
 
Manifestação 5 de Julho
A 5 de Julho de 2019, o Movimento Sokols 2017 e milhares de mindelenses voltaram às ruas do Mindelo para exigir autonomia e descentralização para São Vicente. 
Um simbólico cartão vermelho foi levantado, em unanimidade, para os governantes da ilha e do país, no dia em que se comemora a independência de Cabo Verde. 
A manifestação, pelo segundo ano consecutivo, na mesma data, veio mostrar, para além do desagrado da população, alguma maturidade e sentido crítico que tem ganhado expressão nos últimos anos. 
Na altura, logo a seguir à manifestação, o Sokols 2017 mostrou-se disponível para o um encontro com o Primeiro-Ministro de Cabo Verde, desde que a iniciativa partisse do governante, na sua próxima visita à ilha. Tal não chegou a acontecer.
 
 
Concessão transportes marítimos: problemas e mais problemas
Em Fevereiro era assinado o contrato de concessão dos transportes marítimos nacionais, entre o Governo e a portuguesa Transinsular. 
Depois de um concurso de todo controverso, alvo de denúncias de irregularidades, nomeadamente, por parte dos dois maiores partidos da oposição (PAICV e UCID), mas também da sociedade civil, tomava posse, a 15 de Agosto, a nova empresa concessionária do serviço público de transportes marítimos de passageiros e cargas entre as ilhas, para os próximos 20 anos. 
Com 51% das quotas, a CV Interilhas iniciou as viagens com recurso a quatro navios de armadores nacionais que já operavam nas rotas interilhas e detentores dos restantes 41%. 
Os quase cinco meses de operações foram pautados por vários percalços, nomeadamente a falta de navios para corresponder a demanda de circulação entre as ilhas, cancelamentos de viagens e sucessivas avarias que levou as docas, de uma sentada, três dos navios em operação. 
A empresa tentou resolver o problema com recurso ao aluguer de um navio catamarã de bandeira estrangeira, em Outubro, mas sem muito sucesso. 
O canal entre São Vicente e Santo Antão, a linha mais movimentada do país, conheceu dias de penúria e filas intermináveis, com passageiros e carga a ficarem em terra todos os dias. 
Tal estado de coisas fez exaltar os ânimos dos condutores que trabalham na rota e levou a um encontro com o Governo. Este, por sua vez, ameaçou cassar o contrato à CV Interilhas caso esta não cumprisse com as clausulas do contrato, mas não passou de mais uma jogada política. 
 
 
Mindelact
2019 foi o ano das Bodas de Prata do Festival Mindelact e, como não poderia deixar de ser, o certame esteve à altura. 
Foram 11 intensos dias de muito teatro em que São Vicente assistiu a um total de 72 espetáculos, de mais de 150 artistas e 50 companhias de teatro. 
Este foi também o ano em que o festival atingiu o seu recorde de candidaturas, com demostrações de interesse de cerca de 32 países, todos baseados no conceito de “Economia dos Afectos”. 
Por outras palavras, os espetáculos foram todos oferecidos a Cabo Verde e ao Mindelact, pelo que, para o director, João Branco, os ganhos que o país tem tido com o certame são infinitamente maiores do que o investimento feito. 
O Mindelact 2019 aconteceu entre 06 e 16 de Novembro, distribuído por sete palcos da cidade do Mindelo. Contou com a presença de países como Portugal, Brasil, Guiné-Bissau e Angola. Constam ainda grupos de Espanha, Itália, Alemanha, França, República Checa, Japão, Dinamarca e uma representação dos Estados Unidos.
 
FIC despede-se da Laginha
O ano termina voltado para o mundo dos negócios, com a realização, no Mindelo, da Feira Internacional de Cabo Verde (FIC), a última nas instalações da Laginha, que vão em breve ganhar um empreendimento turístico de grande envergadura. 
A feira decorreu entre 13 e 16 de Novembro, sob o lema “Cabo Verde, uma economia de circulação no Atlântico médio” e a edição deste ano contou com a participação de 88 expositores, de mais de 10 nacionalidades, distribuídos em 180 stands. Cerca de 69 por cento era de direito cabo-verdiano. 
Esta foi uma edição “especial”, que mereceu um balanço positivo dos empresários, visitantes e organização e que volta a Mindelo em 2021, agora para a sua nova casa, no Parque Industrial do Lazareto.
 
Cabo Verde Ocean Week
A cidade do Mindelo permaneceu agitada, desta vez, voltada para a economia azul que foi o mote da segunda edição da Cabo Verde Ocean Week, teve lugar de 25 a 29 de Novembro.
Foi uma semana dedicada a pensar o oceano, reforçar a consciencialização e sensibilização sobre a sua importância, de forma a também criar uma cultura voltada para a conservação da saúde do mar e exploração, de forma sustentável, dos seus recursos.
O evento esteve intimamente ligado ao cumprimento da Agenda 2030 sobre os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável, tendo como um dos maiores desafios combater os efeitos das mudanças climáticas e a perda de biodiversidade. 
No final do certame, o secretário adjunto para a Economia Marítima, Paulo Veiga, considerou a mobilidade elétrica na pesca artesanal como um dos maiores ganhos da edição. O próximo passo, avançou, será no sentido de estender estes ganhos a nível nacional nos transportes marítimos. 
Do programa figuraram temas ligados à monitorização dos oceanos, políticas para a promoção e sustentabilidade ambiental, capitalização das oportunidades da economia azul, formação e investigação marinha, desenvolvimento tecnológicos, saúde dos oceanos, administração, segurança e proteção marinha. A CVOW 2019 acolheu ainda a feira EXPOMAR, Feira das Actividades Económicas Ligadas ao Mar.
 
URDI
São Vicente é uma ilha que respira arte. E para Irlando Ferreira, director do Centro Nacional de Arte, Artesanato e Design (CNAAD), assim como Cabo Verde é 99% mar, São Vicente é 99% cultura. 
Foi com base nesta premissa que aconteceu a quarta edição da URDI (Feira Nacional de Artesanato e Design), entre 27 de Novembro e 01 de Dezembro, no coração de Mindelo, sob o lema “Música – Poéticas Visuais”. 
O foco desta edição esteve voltado para uma discussão sobre o presente e o futuro do artesanato cabo-verdiano, que abrangeu o reconhecimento desta arte como profissão e a entrega do Cartão do Artesão a artesãos acima dos 65 anos de idade. 
Estes artesãos ficaram igualmente qualificados para actuarem enquanto formadores e o cartão lhes garante ainda o acesso à pensão social. 
Durante esta edição da URDI, que contou com a presença do Ministro da Cultura e Indústrias Criativas, foi ainda apresentado o processo de certificação do artesanato nacional e a sua regulamentação, o que vai permitir, segundo Abraão Vicente, eliminar o artesanato de má qualidade das ilhas turísticas. 
 
Ambiente
Na vertente ambiente, o destaque vai para a organização Biosfera que durante o ano promoveu várias campanhas de limpeza em regiões costeiras da ilha. 
“Soncent d’costa limpe” foi o nome da campanha que retirou cerca de 50m2 de lixo (equivalente a seis camiões) na encosta da Praia Grande ao Norte da Baía e envolveu cerca de 300 voluntários. 
Ainda na vertente ambiente não podemos deixar de mencionar iniciativas que foram ganhando forma ao longo do ano, como o Movimento Maramor Polution Care, que propõe a construção de contentores de lixo derivados do plástico e vidro para serem afixados nas praias mais afastadas da ilhas e do OIA PLAST, uma iniciativa de dois jovens que tem produzido pequenas peças artesanais através do plástico recolhido nas praias da ilha. 
 
Feira das Micro e Pequenas Empresas
Depois da FIC, o pavilhão com o mesmo nome, na Laginha, recebeu a primeira edição da Feira das Micro e Pequenas Empresas de Barlavento, de 13 a 14 de Dezembro. 
A feira, promovida pela Facetur, surgiu como uma oportunidade para empresas de pequeno porte que não conseguem participar nas grandes feiras de negócio realizadas no país. 
Pequenas empresas no ramo do agro-negócio, economia digital, turismo, energias renováveis, inovação e tecnologia e a indústria ligeira foram o foco desta iniciativa.
 
NA
(Publicado no A NAÇÃO impresso, nº643, de 26 de Dezembro de 2019)

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