O ano de 2019 fica marcado a nível cultural, em Cabo Verde, por inúmeras iniciativas em diferentes áreas, a mais relevante das quais a eleição da Morna a Património Imaterial da Humanidade, a 11 de Dezembro, pela UNESCO. Este é, para o A NAÇÃO, o Acontecimento do Ano, por tudo o que esse género musicial significa para Cabo Verde e, agora, para o Mundo.
Morna Património da Humanidade
Morna tornou-se Património Imaterial da Humanidade, um feito na história desse género musical e toda a nação cabo-verdiana.
A distinção da UNESCO aconteceu a 11 de Dezembro, em Bogotá, Colômbia, aquando da reunião desse Comité, testemunhada por uma delegação nacional liderada pelo ministro Abraão Vicente.
Depois dessa consagração, as atenções estão voltadas para os desafios futuros da conservação e divulgação da morna.
O Primeiro Ministro, Ulisses Correia e Silva, realçou a necessidade da implementação do plano de salvaguarda, mas também das medidas agregadas à potenciação turística da Morna enquanto Património Mundial, como um Museu da Morna. Veremos o que 2020 reserva.
Arte Urbana
E por falar em potenciação turística da Morna, que teve na figura de Cesária Évora a sua maior projecção internacional, o mural artístico de mais de 15 metros, de Cize, no Mindelo, da autoria de Vhils, transformou-se, já, num “ex libris” dessa cidade.
O mural integra, a par de um outro, erguido na cidade da Praia, e que retrata Amílcar Cabral, o roteiro turístico mundial de arte urbana daquele artista português cuja obra está espalhada por vários países.
Cabo Verde é aliás o segundo país africano, depois da Serra Leoa, a ter uma obra de Vhils.
Música & Madonna
O ano que finda e fecha mais um século marca o momento do que se poderá chamar de renascimento e projecção internacional do Batuco.
Depois de se ter rendido à txabeta e à força da mulher cabo-verdiana quando conheceu em Portugal um grupo de batucadeiras, a rainha da Pop music mundial, Madonna, decidiu incorporar um batuco no seu novo álbum Madame X, ao qual chamou “Batuka”.
Rendida aos sons africanos do batuco e às batucadeiras, Madonna decidiu convidar para o seu tour mundial um grupo de 12 batucadeiras e coristas cabo-verdianas que integram, neste momento, o staff de artistas da digressão e são agora peças chave dos seus espectáculos.
Em parte, tudo isto se deve a Dino d’ Santiago, que, pode-se dizer, tem vindo a transformar-se numa das grandes estrelas da música cabo-verdiana.
Em 2019, conquistou vários prémios, incluindo Melhor Artista Solo, Melhor Álbum e prémio da crítica nos Prémios Play da Música, em Portugal, onde arrecadou também na Gala GQ, o prémio de personalidade na música.
A ele juntam-se Mayra Andrade e Lucibela Freitas, a primeira num registo mais afro-pop, a segunda na música tradicional, que tiveram um ano em alta com inúmeros concertos internacionais.
25 anos Mindelact
O festival internacional de teatro do Mindelo, o Mindelact, comemorou este ano as suas bodas de prata, de 6 a 16 de Novembro, e com isso a ilha do Monte Cara voltou a estar no centro das atenções das artes cénicas e da lusofonia.
O festival bateu o recorde de candidaturas, com mais de 350 solicitações, de 32 países de várias partes do mundo.
Com uma programação de 11 dias, com 72 espectáculos, 50 companhias e mais de 150 artistas, o Mindelact teve a honra de receber o actor Brasileiro Chico Dias.
Sempre com casa cheia, registando-se um sucesso na venda de bilhetes por antecipação, o Mindelact continua, há anos, há espera de uma nova casa capaz de dar resposta à demanda do público.
Entretenimento & Festivais
Seguindo a tendência dos últimos anos, o entretenimento tem conquistado cada vez mais terreno no país, especialmente no que toca a festivais dos municípios e de festas de romaria
Pese embora o nível de organização tenha melhorado, de forma geral, é de destacar o facto de se verificar que são praticamente sempre os mesmos artistas em cartaz, quer nos pequenos, quer nos grandes festivais do país, salvo uma ou outra excepção de artistas internacionais.
Artesanato
2019 é um ano que ficará marcado também na memória dos artesão nacionais, especialmente daqueles que há muitos anos se dedicam ao artesanato.
Integrado na reforma do sector de artesanato que o Governo vem levando a cabo, cerca de duas dezenas de artesãos, com idades a partir dos 65 anos, receberam o seu cartão do artesão que certifica e oficializa o artesanato como profissão, durante o URDI que decorreu em São Vicente.
Estes profissionais, todos com uma longa caminhada no sector, estão agora habilitados para também fazer parte do sistema de ensino formal e informal e ministrar formações por iniciativa própria.
Para muitos é o reconhecimento do trabalho de uma vida.
Previsão
Esta foi a nossa previsão no início de 2019: “Se tudo correr como o planeado, a Morna deverá ser eleita Património Imaterial da Unesco, no próximo mês de Dezembro, na Colômbia, durante uma reunião desse comité. Esta será, muito provavelmente, a novidade maior do ano que ora começa”.
Literatura
2019 ficou marcado, em termos editoriais, pela inúmera produção literária registada por autores cabo-verdianos dentro e fora do país, desde romances, livros infantis, passando pela poesia, mas também contos e muita ficção.
Mário Lúcio Sousa, Jorge Carlos Fonseca, Oswaldo Osório, José Luiz Tavares, Vera Duarte, Ailton Moreira, Daniel Soares, Clara Silva e Maria de Lourdes Jesus, entre muitos outros, foram alguns dos autores que lançaram obras este ano.
Tal como tem sido apontado nos dois principais festivais literários de Cabo Verde – o Festival Internacional de Cinema do Sal e o Morabeza Festival – a internacionalização dos autores cabo-verdianos e a tradução das suas obras continuam a ser os principais desafios para os autores nacionais.
Um desafio que irá certamente continuar a merecer a atenção dos escritores e editores “made in” Cabo Verde.
GC
(Publicado no A NAÇÃO impresso, nº643, de 26 de Dezembro de 2019)
2019, o ano da Morna Património do Mundo
Por
Publicado em