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Política

Jihadismo alastra-se pela África Ocidental: Cabo Verde imune até quando? 

As autoridades cabo-verdianas devem começar a preocupar-se com o recrudescimento de atentados jihadistas na Região do Sahel, onde, actualmente, poucos países se mostram imunes ao Islão radical. O alerta é do brigadeiro Antero Matos, que considera que o terrorismo é já uma ameaça para Cabo Verde.  A situação no Sahel chegou a um ponto tal que especialistas franceses defendem a mudança de política para essa parte de África.   
Mali, Níger e Burkina Faso foram alvos, recentemente, de violentos ataques terroristas perpetrados por grupos radicais do Magrebe.  A situação é, como não podia deixar de ser, preocupante, tendo em vista o alastramento do avanço islâmico em toda a África Ocidental. 
A presença de militares franceses nalguns dos países visados está a revelar-se incapaz de travar o avanço dos islamitas radicais, cada vez mais ousados nas suas operações. Esta semana Jean-Marie Guéhenno, diplomata e especialista francês em questões de defesa, defendeu uma mudança urgente da estratégia do seu país e da comunidade internacional para o Sahel. 
“O dilema que a França deve resolver é o mesmo que persegue os americanos desde 2001: não há vitória estratégica possível sem uma profunda transformação dos Estados envolvidos, fracos demais para combater o terrorismo…”
E Cabo Verde? – é a pergunta que se coloca.  
“Cabo Verde, directamente, por enquanto, não é alvo evidente dos grupos que actuam no Sahel”, esclarece o brigadeiro Antero Matos, na reforma, explicando que os jihadistas actuam sobre aquilo que designam de pertença religiosa islamita. 
“Desse ponto de vista não temos muito a temer. Mas, tendo em conta que temos interesses estrangeiros em Cabo Verde, nomeadamente franceses, a ameaça é real e até iminente”, acrescenta. 
O antigo chefe de Estado Maior das Forças Armadas (CEMFA) e ex-conselheiro nacional de Defesa e Segurança de Cabo Verde considera, entretanto, que o fenómeno em si não é novo e que as autoridades sempre tiveram consciência dessa ameaça. Contudo, apesar desse conhecimento, “pouco se tem feito em termos operacionais  visando preparar o país para um eventual ataque”. 
E por isso defende: “É preciso ter planos de contingência. Esse foi um dos pressupostos que levaram o anterior Governo a adoptar medidas que visassem a proteção de infraestruturas críticas, numa perspectiva de proteção contra o terrorismo”. 
Para este brigadeiro, aquela seria uma das missões da Guarda Nacional, mas esta entidade, como lamenta, “está em processo de morte lenta”. 
Para o antigo CEMFA, a Polícia Nacional “não tem condições para esse tipo de missões”. Considera, por isso, que é preciso criar uma força especial de proteção contra  o terrorismo e outras ameaças. 
Antero Matos faz questão de lembrar que “infraestruturas críticas não são apenas os órgãos de soberania” e que é preciso “muita seriedade” no tratamento dessas eventuais ameaças.
Contudo, uma fonte oficial ouvida pelo A NAÇÃO considera que a situação no Sahel é “complicada”, garantindo, no entanto, que as autoridades nacionais vêm acompanhando estes casos, em concertação com outros parceiros internacionais.
 
Movimentações antigas em Cabo Verde
Em 2010/2011, nas edições 175 e 187, A NAÇÃO dava conta da presença, em Cabo Verde, da organização islâmica radical Tabligh Jamaat (TJ), com o objectivo de estabelecer uma estratégia com vista a propagar a religião muçulmana no território nacional. 
Nessa missão que envolveu uma delegação de oito elementos do TJ foram recrutados novos seguidores  nas diversas “mesquitas” da capital, através de métodos, que, pelo menos um imã, considerou de “pouco ortodoxos”, tendo em conta a forma “ostensiva” como eram abordados durante as orações.
Os oito membros da TJ que ficaram hospedados em casa de um senegalês, situada no meio da Achada de Santo António (na Praia), aproveitaram o mesmo espaço para formarem 30 novos seguidores da religião, na sua maioria oriundos da costa ocidental africana e alguns cabo-verdianos.
Nessa segunda investida, a TJ quis, também, aproveitar o crescimento “exponencial” da comunidade muçulmana em Cabo Verde, para “marcar terreno”, tendo em conta a sua filosofia de “pregação e propagação”.
Embora não esteja provado, o envolvimento da TJ no encaminhamento de jovens para a Jihad, facto é que a investigação de diversos atentados terroristas e planeamentos de atentados têm revelado supostas ligações de terroristas às estruturas desta organização.
Os Serviços de Informação e Inteligência de países da Europa e dos Estados Unidos da América mantêm a TJ sob apertada vigilância, por considerarem que a organização que aparenta ter fins pacíficos poderá estar por detrás de esquemas de recrutamento de jovens para acções terroristas.
Entretanto, a Tabligh Jamaat descreve-se a si própria como um grupo apolítico, não-violento e interessado apenas em fazer regressar os Muçulmanos ao Islão. A presença crescente de cidadãos africanos seguidores da fé maometana faz de Cabo Verde, a médio e longo prazos, um espaço de conquistas de novos aderentes. 
Várias mulheres cabo-verdianas têm vindo a casar-se com esses indivíduos, tornando-se os seus filhos islamitas. Aliás, neste momento, é de se perguntar qual é realmente o peso do islamismo em Cabo Verde ao fim de várias décadas a receber imigrantes do continente e de outras paragens.
DA
(Publicado no A NAÇÃO impresso, nº 642, de 19 de Dezembro de 2019)

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