Por: Adriano Miranda Lima
Um correspondente meu, ligado ao Conselho Português para a Paz e Cooperação (CPPC), enviou-me a imagem em baixo, centrada na página. Nem de propósito, dada a presente quadra, respondi-lhe que a imagem faz lembrar uma Árvore de Natal, tal a simetria colorida da disposição e configuração gráficas dos elementos que a integram, a iluminam e a carregam de ideais humanísticos. Mais lhe observei que, sendo a Árvore de Natal uma criação da mitologia cristã, esta sua “árvore”, contudo, é uma idealização que não pode ter religião nem pátria e que, por isso mesmo, merece ser plantada em todas as geografias, liberta dos proselitismos. Depois, a ironizar, disse-lhe que, infelizmente, ela está tão carregada de enfeites que provavelmente terá dificuldade em manter-se de pé, airosa e exuberante, porque ainda não há suficiente força mental para fortificar e segurar as suas raízes. Na verdade, o que lhe quis dizer é que o nosso destino universal dependerá da capacidade de o homem vencer os seus medos e angústias e perceber que apenas depende de si, e não de qualquer divindade, para dar o último salto na escala dos seus atributos cognitivos.
Está bom de ver que esta conversa nos remete ao filósofo alemão Ludwig Feuerbach (1804-1872) e ao seu pensamento expresso no seu livro “A essência do Cristianismo”. Adiante-se desde já que, quando se lê Feuerbach sobre esta temática, fica nítido que o seu objectivo é mais promover a ascensão do homem do que professar o ateísmo como uma finalidade em si mesma.
Com efeito, a filosofia feuerbachiana tem em vista valorizar o homem e despertar-lhe a consciência sobre as suas potências e as suas virtudes. Isto porque a maioria das religiões, e notoriamente o cristianismo e todas as crenças monoteístas, baseia-se na ideia de que o homem não consegue maximizar a essência da sua humanidade senão socorrendo-se de uma entidade imaginária, tida como omnipresente, omnipotente e omnisciente, em quem delega a última palavra sobre o seu destino. Porque é mais cómodo ser-se libertado e redimido por outro do que arrostar-se com as agruras da própria emancipação.
A consequência é que o homem nega, assim, a sua condição de criatura cognoscente, na medida em que se reconhece incapaz de interiorizar a circunstância da sua materialidade e de conformar-se com a sua finitude, daí ansiando identificar-se com esse ser imaginário que mais não é que o homem pretensamente universalizado e supostamente expurgado das suas limitações. Tudo porque o sentimento mais perturbante que o assola advém da consciência da sua morte, donde é lícito concluir que não haveria religião se o homem fosse imortal.
Ora, o que Feuerbach propõe não é propriamente eliminar a religião em si mas procurar o que devolve o homem à plenitude da sua condição existencial de ser consciente de si mesmo e da responsabilidade, intransferível, que lhe cabe como ente racional e dominante no planeta. Por outras palavras, o que Feuerbach propõe é inverter essa relação de dependência, construindo uma filosofia do homem, fazendo com o Homem-Deus desça à Terra.
Esse meu correspondente ligado à CPPC pendurou nesta sua “Árvore” palavras grandiosas de significado como Paz, Amor e Solidariedade, trilogia a mais badalada nesta quadra natalícia.
O meu desejo, o nosso desejo, é que elas possam ostentar-se como realidades concretas e cintilantes em todas as árvores do mundo e a toda a hora, sem calendários e sem liturgias.
Feliz Natal e Bom Ano Novo.
Tomar, Dezembro de 2019
Árvore de Natal
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