No seu sentido bíblico, Natal representa o nascimento de Jesus. No seio das famílias, Natal simboliza a alegria, a partilha e a união. Em Cabo Verde, e um pouco por todo o mundo, esta quadra é também sinónimo de consumo, de ofertas ou de solidariedade diante daqueles que não reúnem as condições para celebrar e/ou não há com quem partilhar a data.
No mês de Dezembro, o centro do Mindelo é palco para um grande frenesim de pessoas que correm para comprar presentes a tempo ou fazer as compras para a grande ceia de natal antes que os seus produtos de eleição se esgotem no mercado.
No meio deste clima de consumo, a Associação para a Defesa do Consumidor (ADECO), na pessoa da sua coordenadora geral, Alizia Zego, recomenda que se tenha contenção e atenção ao orçamento mensal e, se possível, que se diminua o consumo, tanto de presentes, como de bebidas e mesmo de alimentos, de modo a evitar grandes desperdícios. “O preferível é fazer uma lista das compras de natal antecipadamente. Este planeamento vai diminui o impulso no momento da compra e evita gastos desnecessários”, afirma.
No tocante aos direitos do consumidor, a ADECO faz enfâse a casos de venda casada, prática abusiva que acontece quando o consumidor é “obrigado” a comprar um determinado produto para poder adquirir outro. Esta técnica recorda ainda que é preciso ter atenção ao tipo de presentes/brinquedos que oferecemos às crianças, levando em conta se os mesmos são adequados a sua idade e desenvolvimento.
Entretanto, não se trata apenas da segurança física da criança. Brinquedos que demandam utilização da internet devem ser evitados ou então monitorados, sob pena de colocar em causa a segurança e privacidade da criança.
Neste sentido, e enquadrado na Operação Natal e Fim de Ano em Segurança da Polícia Nacional, o Comandante do Corpo de Intervenção e Piquete do Comando Regional de São Vicente, Madelino da Luz, assegura que o efetivo estará atento a venda de brinquedos que possam colocar e causa a integridade da criança. Estes, quando não obedece as normas de segurança ou é interditada a sua venda, são apreendidos e posteriormente destruídos.
Economia solidária
E por falar em presentes, porque não ofertar pessoas especiais com presentes especiais, de produção local e artesanal. Uma forma de ajudar a economia local e ainda surpreender os sorteados com peças/produtos singulares e com um toque de cabo-verdianidade. Neste sentido, a loja Art Kretxeu, sediada no Centro Cultural do Mindelo reúne produtos de diversas marcas e empresas nacionais num único espaço. Desde cosméticos naturais á iguarias da nossa culinária, artes plásticas, cerâmica, design, bijuterias e muito mais, oriundos de Santo Antão à Brava.
Infelizmente, diz a responsável da loja, estes produtos são mais procurados por pessoas que querem enviar um presente especial a um amigo ou familiar fora de Cabo Verde ou então por emigrantes em férias e que querem disfrutar de uma coisa “terra-a-terra”.
Questionada se a tendência está relacionada com o poder de compra e considerando que o produto artesanal é mais custoso, Eliana Gomes diz que mesmo as pessoas com maior poder de compra ainda preferem, na sua maioria, recorrer as grandes lojas, entre elas chinesas e boutiques, para adquirir os seus presentes. “Ainda não há uma sensibilidade para os produtos locais e para a economia solidária. Da valorização daquilo que é nosso.”
Oferecer sorrisos
No tocante a ações solidárias, um leque actividades estão sendo desenvolvidas pela autarquia e instituições locais, com o objectivo de proporcionar um natal feliz e menos solitário, nomeadamente para aqueles que não podem celebrar a data no ceio das suas famílias.
As actividades desenvolvidas pela Câmara Municipal de São Vicente, através do pelouro social a cargo da vereadora Lídia Lima, começara no dia 14 do mês corrente, com uma festa de natal para pouco mais de mil idosos e se estendem até o último dia do mês, com uma agenda cultural diversificada. Entre as actividades programadas figuram uma campanha de recolha de alimentos, festa de natal para crianças com vulnerabilidades especiais em centros de acolhimento, jardins infantis públicos, doentes mentais e lares de idosos.
A MOAVE é uma das instituições que, todos os anos, apoiam iniciativas do género, não só em São Vicente, as em outras ilhas como Santo Antão e Santiago, segundo explica a Directora, Vera da Luz. “É uma forma de ajudar os outros, mas também de ajudar a nós mesmos, pois é algo que nos faz bem e dá muito prazer em realizar.”
Além de apoiar iniciativas externas, os trabalhadores do MOAVE possuem agenda própria e, todos os anos, proporcionam momentos e sorrisos as crianças da pediatria do Hospital Baptista de Sousa, Casa dos Doentes Mentais, lares de idosos, entre outros.
Criminalidade sofre ligeiro aumento nesta época
Dado o aumento do fluxo de pessoas, alteração de hábitos da vida noturna, comércio de bens e a adesão reforçada aos vícios da droga e do álcool, a PN já colocou em ação o plano de segurança desta quadra festiva, que vai de 16 de Dezembro a cinco de janeiro de 2020, recorrendo a todo o efetivo de cerca de 235 agentes.
Segundo o comandante Madelino da Luz, durante esta época, regista-se uma ligeira tendência para a ocorrência de alguns crimes, nomeadamente contra propriedade e com destaque para roubos e furtos, aliados ao aumento do tráfico e consumo de estupefacientes e ainda o aumento da condução sob efeito do álcool.
Assim, explica, são aumentadas consideravelmente as operações de rusgas, buscas e fiscalizações, visando a redução de ocorrências criminais. É intensificada igualmente a presença das forças policiais nos locais de grande circulação de pessoas e bens, o controlo de zonas urbanas sensíveis, áreas e estabelecimentos de diversão noturna e fiscalização rodoviária intensiva nos fins-de-semana e vésperas de natal e fim de ano.
Estará igualmente inserida neste plano operacional, o controlo de bebidas alcoólicas na via pública, tendo em conta a recente lei do álcool implementada. A PN deixa assim algumas recomendações que devem ser levadas em conta pelos comerciantes, condutores e população em geral.
Para os condutores recomenda-se o não consumo de bebias alcoólicas quando se vai dirigir, evitar o uso de telemóveis ao volante, o respeito pelos limites de velocidade nas estradas e respeito pelas normas no transporte de cargas e passageiros.
Aos comerciantes, por ser uma época de muita movimentação de dinheiro, pede-se atenção redobrada no momento de encerramento dos seus estabelecimentos e que se evite acumular grandes quantias nas caixas.
A população em geral as recomendações são no sentido de evitar circular com objectos valiosos ou grandes quantias em dinheiro e, para compras, optar pelo sistema de pagamento eletrónico. Evitar igualmente circular em zonas pouco movimentadas e mal iluminadas.
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(Publicado no A NAÇÃO impresso, nº 642, de 19 de Dezembro de 2019)
São Vicente: Consumo, solidariedade e segurança
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