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Cultura

Gláucia Nogueira lança “Batuku de Cabo Verde – Percurso histórico-musical”

A jornalista e investigadora Gláucia Nogueira lança esta sexta-feira, 30, na Biblioteca Nacional, o livro “Batuku de Cabo Verde – Percurso histórico-musical”. A obra tem na sua gênese a dissertação do mestrado em Património e Desenvolvimento da UniCV, que a autora defendeu em 2011. Hoje, passados três anos dessa tese a escritora defende que o Batuku está “bem vivo” e “pujante”.
A obra representa o primeiro livro a ser lançado pela editora da Livraria Pedro Cardoso que, há seis meses atrás, aceitou o desafio de dar à estampa “Batuku de Cabo Verde – Percurso histórico-musical”.
Em entrevista ao A Nação Gláucia Nogueira mostra-se satisfeita por ter encontrado uma editora disponível, tendo em conta que não é um processo fácil em Cabo Verde, sobretudo quando se tratam de obras de investigação. “Recorde-se que nos últimos anos o IBNL deixou de publicar e quanto voltou a fazê-lo, ou a apoiar financeiramente, foi só para a área literária, de ficção e poesia, e não para trabalhos de investigação”.
A jornalista atesta ainda que, “de modo geral, tendo em conta entidades oficiais ou privadas, não é fácil arranjar patrocinadores ou editoras que assumam os custos de uma edição”.
Agora, depois da tese em 2011, Gláucia Nogueira terá a oportunidade de partilhar o fruto da sua pesquisa com o grande público. Mormente quando está em causa uma das maiores e mais antigas manifestações culturais do país.
“A principal conclusão é que as mudanças pelas quais o batuku foi passando ao longo do tempo e as atitudes da sociedade face a ele – do período colonial escravocrata aos tempos atuais – são reveladoras do percurso do próprio povo cabo-verdiano”, revela.
INDEPENDÊNCIA DO BATUKU
Na origem do tema do seu estudo sobre batuku, esteve a célebre frase de Manuel Delgado, que diz “o batuco só ganhou o direito de subir a um palco de teatro com a subida ao palco da História do povo que o criou”.
Ao longo da sua pesquisa, a jornalista chegou à conclusão que “esta frase evidencia o divisor de águas que foi a independência para o batuku (e para a cultura cabo-verdiana de modo geral” e justifica o porquê. “Se a mentalidade vigente no período colonial colocava o batuku numa situação de subalternidade face a outras manifestações musicais, a ideologia que norteou a tomada da independência elevou-o a um patamar de expressão cultural, a ser respeitada e valorizada”, realça e prossegue que “seria impensável, antes disso, que cantigas de finaçon criadas por mulheres analfabetas fossem publicadas em livros dedicados à sua vida e obra, como o foram na década de 1980”.
VIVO E PUJANTE
Outra das ilações que se podem constatar na obra é a vivacidade do batuku, enquanto estilo. “O batuku, que algumas vezes já se receou que estivesse em vias de extinção, mostra-se bem vivo e pujante, e mesmo, como diz até uma letra de Orlando Pantera, “está na moda”, atraindo as gerações recentes e mesmo artistas que antes dedicavam-se a outros estilos musicais”, explica.
Na opinião da nossa entrevistada isso mostra que o batuku ainda “é uma expressão cultural muito viva e com capacidade de adaptação aos novos tempos. Se se tivesse tornado anacrónica, desaparecia ou virava folclore”.
Mas, na verdade, não foi o que aconteceu. “Se no passado cantavam a fome ou as vicissitudes da vida no campo, hoje as letras falam de droga, de sida, das questões de género, enfim, de aspectos da vida urbana e contemporânea. O batuku continua a cantar o momento presente, como fazia no passado. Este é um aspecto que permanece”, revela a jornalista.
Actualmente, Gláucia adverte para dois aspectos interessantes do percurso do batuku que tem seguido em frente, em duas vertentes simultâneas. “Aquela dita tradicional, com as mulheres em semicírculo a fazer percussão e a cantar, e o trabalho de recriação feito por vários artistas a partir de finais da década de 1990, em que se apropriam do ritmo e o executam de formas criativas e contemporâneas, livres de amarras da tradição. Isto é a música popular em toda a sua pujança”.
Contributo
Interpelada sobre o legado desta obra para o património histórico cultural da música de Cabo Verde, a escritora destaca que o mesmo “vai aumentar o conhecimento sobre este elemento (batuku) do património imaterial” das ilhas, e não esconde que “gostaria” que o seu conteúdo “fosse lido e discutido nas escolas secundárias, nas universidades, pelos jornalistas e por toda a gente que se interessa pela área cultural”. É que o livro “partilha informações interessantes que não são do conhecimento da maior parte das pessoas”. Sobretudo quando a música, enquanto objecto de estudo na área académica “é recente”, e, daí, a importância de “trazer esta temática para a universidade – neste caso, conjugando a Antropologia e a História”.
O livro conta com apresentação de Princezito e a actuação de batucadeiras. GC

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