A Presidente da república (PR) interina da Bolívia, Jeanine Áñez, disse, neste domingo, 17, que vai anunciar, “muito em breve”, a convocação de novas Eleições “transparentes”, após a renúncia de Evo Morales, num novo esforço para pôr fim às manifestações que já deixou 23 mortos em quase um mês.
Áñez fez este anúncio, após se reunir com um delegado da União Europeia, León de la Torre, que também se disse optimista sobre os “avanços na Mesa de Diálogo” entre o Governo interino e sectores leais a Morales, que não especificou.
Quanto às eleições, De la Torre reforçou o que foi dito por Áñez aos jornalistas de que a convocação a novas Eleições, após acordo com o Partido Movimento ao Socialismo (MAS), de Morales –, que tem maioria no Congresso -, ocorrerá “em breve”.
Segundo a Constituição, é o Congresso que deve eleger seis dos sete titulares do Tribunal Supremo Eleitoral (TSE). Os anteriores foram postos em prisão preventive, pelas irregularidades registadas nas Eleições de 20 de Outubro, que deram a reeleição a Morales, mas que ele mesmo anulou horas antes de renunciar à Presidência há uma semana, em meio a protestos e após perder o apoio de policiais e militares.
Por sua vez, Jean Arnault, enviado do secretário-geral da ONU, o português António Guterres, começou a entrar em contacto com autoridades do Governo de Áñez e organizações sociais, numa tentativa de restaurar a paz naquele País Latino-Americano.
Os protestos de rua permanecem e o principal foco se concentrou em Cochabamba (no Centro), onde, na sexta-feira, camponeses cultivadores de coca entraram em confronto com o Exército e a Polícia, deixando nove mortos, segundo a Comissão Inter-Americana de Direitos Humanos (CIDH), que elevou para 23 o número de vítimas, em um mês de confrontos.
O Governo reconheceu, oficialmente, cinco mortos, e o ministro do Governo, Arturo Murillo, sugeriu que os próprios camponeses atiram uns nos outros para produzir vítimas, pois, pelo menos, um morto “aparece com um tiro na nuca”.
Contudo, Thomas Becker, advogado americano da Clínica Internacional de Direitos Humanos de Harvard, disse que foi ao Necrotério da cidade de Sacaba, onde os nove cocaleiros morreram: “Todos morreram por impacto de bala”.
O ex-Presidente Morales, asilado no México desde terça-feira passada, após renunciar, no dia 10, escreveu no “Twitter” que “as Forças Armadas não estão isentas de sua responsabilidade”, ao denunciar “crimes de lesa-humanidade”, que “não devem ficar na impunidade” e que considera terem sido cometidos em repressão aos protestos.
Morales fez alusão em seu tuíte a um polémico Decreto do Governo interino, aprovado na quinta-feira e divulgado extra-oficialmente, no sábado, que exime de responsabilidades penais as Forças Armadas na manutenção da Ordem Pública.