Por. Nataniel Vicente e Silva
Falar de Zecky é falar, justamente, de um artista multifacetado que, infelizmente, por razões várias é ainda pouco conhecido pelo público cabo-verdiano, comparando com outros artistas da nova geração, que também vivem na Diáspora. Contudo, tem-se revelado, inconfundivelmente, nos últimos tempos, em Portugal onde vive. Vale dizer que é dono de um talento paralelo aos demais artistas da nossa praça, que estão em voga (Consulte Youtube.com Zecky Delgado, músico. Ou, nas páginas do Facebook).
Vive em terras lusas há largos anos, mas, a sua alma está em Cabo Verde, onde, aliás, está a sua raiz.
Simples, comunicativo, afável, brincalhão, alegre, de cabelos grisalhos, mas, de aspecto fisicamente jovem. Agarrado à sua guitarra, trata-a como “a menina dos seus olhos”. Aliás, confessa ser a sua companheira inseparável.
Ora!, porque não há vida sem histórias, vamos conhecer, então, um pouco do percurso do nosso “entrevistado”.
Percurso de uma vida marcada pela música
José António Delgado Santos (de seu nome de baptismo), conhecido artisticamente por “Zecky”, nasceu em Calheta São Miguel (no interior de Santiago), bem pertinho do mar, a 26 de Agosto de 1957. É o penúltimo filho da Senhora Maria do Rosário Delgado Santos, mais conhecida por Bia di Zeka. Já é falecida.
Zecky passou toda a sua infância e um pouco de adolescência, exactamente, no Porto da Calheta, brincando, nadando, estudando e respirando aquela saudável brisa do mar, como tantos garotos do seu tempo e da sua área. A fase de juventude passou-a toda em Portugal como adiante vamos verificar. “Mi era trakinu, mas rispetador di algen mas grandi. Inda N ta lenbra kel paxon ki N tinha pa orgon di Grexa. N ta spretaba oki nhu Padri Crettaz ba Praia, pan baba tokaba orgon (piano) di Grexa”, .
Assim, se depreende pois, que o “bichinho da música” já estava, efectivamente, mordendo, suavemente, o nosso Zecky; o futuro artista. Que sempre foi um menino inspirado, que tão cedo se revelara os seus dotes pela música. Assunto que vamos analisar mais à frente.
Os banquinhos da escola
Zecky conhece os banquinhos da escola, por volta dos sete anos.Estuda Cartilha, Cartilhona e 1ª Classe com o professor Velhinho Rodrigues, de quem guarda boas recordações. Já a 2ª Classe, estuda-a com um outro professor e faz a 3ª numa Escola dos Nazarenos, na Cidade da Praia.
Primeiros sinais de um sonho
Na idade dos sete a oito anos, Zecky começa a sentir paixão pela viola. Embalado por esse desejo, improvisa uma feita de lata de azeite, com cordas de visível (linha de pesca).
Mal chegava da Escola, agarra a sua viola, “remendando” alguma nota inventada, por vezes, por ele próprio, às escondidas da mãe, que não simpatizava com tal brincadeira. Conta que chegou mesmo a receber algumas tareias, mas não arriou pés, pois, a sua vocação era música e…somente ela.
E enfatiza: “Kaza di nha mai, era kaza di festa tudu santu dia. Rapazis mas grandi ta lebaba sez violon, ez ta dexaba la, aki ez da kosta, N toma konta. Asi N pasa ta mexi na viola di lata i viola propi, ti ki N bira ta fazi alguns notinhas mi so sukundidu di nha mai”.
Zecky embarca para Portugal
Na perspectiva de melhor preparar o seu futuro, embarca para Portugal em Março de 1974, com apenas 16 anos. Viria a completar os 17 em Agosto do mesmo ano. Nas terras lusas matricula-se numa Escola e conclui ali o Ensino Básico. Estuda até ao 10º ano.
O tempo foi passando e o futuro artista foi-se desenvolvendo, tanto fisico como mentalmente. E o tal “bichinho da música” foi também nele se desenvolvendo e a passos rápidos.
“Na meiu di studu, un amigu konvidan pa nu forma un grupu. N fika rei di kontenti, N larga Skola i N vereda pa muzika, pamodi N odja ma nha futuru ka sta na Skola mas na muzika. N ba pa ensaiu tudu dia. Muzika e kuza ki mas N kre na nha vida”, lembra.
Casamento
O casamento foi, desde sempre, aspiração de qualquer jovem. Uma aventura que nos dias que correm nem sempre corresponde às expectativas de muita gente.
Assim, o nosso artista decide, então, na idade de 31 anos, entrar nessa aventura com uma cabo-verdiana que, infelizmente, não foi assim tão duradoura, por razões que ele próprio justifica: “Nha prumeru mudjer sipara di mi pur kauza di muzika. É flan: o el o muzika; pan skodji. N skodji muzika”.
Coisas que acontecem. Zecky é pai de três rapazes, o último conta com nove anos.
Zecky, afora os seus dotes de tocador e cantor, é, também, compositor e produtor das suas músicas.
“Oxi mi e un arista profisional. N ta toka guitarra, viola baxu i N ta mexi na tekladus”, afiança.
Diria eu, sem nenhuma ironia: Um verdadeiro homem dos sete instrumentos.
Ficamos por aqui, formulando votos de melhores sucessos na carreira do nosso Zecky, com saúde e muita garra na vida.
Hasta la próxima.
Tarrafal, aos 14 de Outubro de 2019.