Por: Filinto Elísio
O nome da coisa passa a ser a coisa. Dar nome à coisa é apropriá-la. É assumirmos um património pelo seu lado material, imaterial e memorial.
A atribuição de topónimos na cidade da Praia, meio através do qual a capital faz tributos a personalidades, factos e feitos, é da responsabilidade da sua Câmara Municipal. Entretanto, a cidadania (e não apenas o cidadão local) pode e deve propor à Edilidade topónimos, devidamente fundamentados em como emprestam valor à cidade e ao País.
Isto vem a propósito da homenagem a António Mascarenhas Monteiro, reinaugurando a avenida que dá acesso à Avenida Aristides Pereira e, por sua vez, ao Aeroporto Internacional Nelson Mandela. A nova avenida dá acesso à Avenida dos Combatentes da Liberdade da Pátria, para quem vai pela zona marginal, e remete para a Av. Che Guevara, que corta ao meio o Bairro da Fazenda. Todos estes nomes, figuras de grande nomeada, são historicamente importantes. Fazem sentido topónimo o reconhecimento e o tributo feitos ao segundo Presidente da República de Cabo Verde, o primeiro Chefe de Estado da II República.
Se este caso de António Mascarenhas Monteiro foi de pleno acerto, a ocasião propicia repensarmos os critérios de seleção e de escolha, exégese para um levantamento historiográfico dos espaços e seus nomes, bem como da redefinição das personalidades, factos e feitos a inscreverem-se na capital da República.
É um exercício de cidadania, repete-se e os espaços estão aí à mão de servir. Ele há bairros, ruas, travessas e largos, becos, calçadas, rampas e escadarias, bem como baixas, achadas e achadinhas que se prestam a nomes oficiais, para além daqueles que, por tradição, já estão imortalizados pelo povo, ele há lugares que aguardam consagração oficial na lógica da república soberana e democrática, mas também da nação africana, mestiça, insular e diaspórica.
A cidade precisa de monumentos, de marcas e de marcos que contem a história coletiva dos cabo-verdianos. É certo que já assinalámos a Emigração e a Fome, mas há a Independência Nacional, Vasco da Gama, Charles Darwin, as revoltas dos escravos, as várias gerações dos ilustres (homens e mulheres, diga-se!) que remontam séculos. Há os grandes nomes da Diáspora; há-os nas ilhas, em cada ilha de Cabo Verde que agora se quer região ou, melhor, regionalizada.
Não faltarão posições legítimas a quererem escolhas mais plurais e diversas, observando vários equilíbrios, não se esgotando esta nas listas de cariz político, militar, religioso, desportivo e sociocultural. Nem será despiciendo acompanharmos, um a um, o batismo dos cantos e dos recantos da nossa cidade com novos e outros vultos da sociedade cabo-verdiana.
Já se sabe que isto de dar nome à coisa é importante. Damos nomes aos espaços da nossa cidade. Criamos nela topónimos para a nossa cidade capital de Cabo Verde. E temos necessidade de nos cuidarmos dos nomes que sejam referência para todos e que cada um projete sua pertença no que foi nomeado. Assumamos o repto da apropriação do que seja nosso…