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Economia

Ilha de Santo Antão: Cultura do café novamente em queda

A Ilha de Santo Antão é rica, mas a sua riqueza está muitas vezes escondida ou pouco conhecida. À semelhança do Fogo, Santo Antão produz o seu quinhão de café, embora sem a expressividade da ilha do vulcão. Muitos não sabem, mas a ilha das montanhas gaba-se de também poder cultivar um dos produtos mais apetecidos em todo o mundo, tendo no passado, na Europa, sido muito bem avaliado nas bolsas.

As regiões altas de Lombo Branco, Pinhão, Monte Joana, Matinho de Leste (concelho da Ribeira Grande) e outras tantas no concelho do Paul, como Santa Isabel e Ribeirãozinho, foram outrora locais de grande produção do café, sendo que ainda hoje se cultiva este produto, embora de forma menos intensa.

Em muitas das zonas altas de Santo Antão ainda se notam os grandes espaços cercados por altos muros de pedra seca, onde se fazia a secagem do café. Hoje, muitos desses espaços encontram-se abandonados, em ruínas ou então são usados como estábulos para animais. A cultura do café nas zonas altas da ilha é de forte tradição, mas se perdeu, ao longo dos tempos, devido à degradação dos terrenos agrícolas, que levou ao envelhecimento das explorações.

Existem ainda cerca de 60 explorações, localizadas nos concelhos do Paul e Ribeira Grande, que vinham beneficiando, desde 2013, de um projecto sobre a valorização do seu café, que visava o relançamento desta cultura naquela ilha. Contudo, o projecto foi suspenso em 2016, com a extinção da Agência de Desenvolvimento Empresarial e Inovação (ADEI), que vinha coordenando as actividades. Numa primeira fase tal projecto permitiu a formação dos produtores e previa ainda a recuperação dos cafezais e instalação de uma unidade de tratamento do café e a criação de uma cooperativa dos produtores.

Novo retrocesso

Em 2016, o café de Santo Antão começou a ser comercializado no mercado nacional pela cooperativa PARES (Produtores Associados em Rede de Economia Solidária), criada em 2009, no âmbito do projecto de desenvolvimento rural do Porto Novo. Implementado pela organização não-governamental ‘Atelier Mar’ e com financiamento da União Europeia, a PARES comercializa vários produtos genuínos de Santo Antão.

Entretanto, a falta de investimentos e a seca que têm assolado o país contribuem para este novo retrocesso na valorização do café que é produzido em Santo Antão. As explorações do café nas zonas altas do Paul, por exemplo, estão abandonadas pelos agricultores, segundo diz Benvindo Melo, presidente da associação de desenvolvimento de Santa Isabel, zona muito conhecida pela cultura do café.

“Nos últimos anos, hão houve produção de café em Santa Isabel, por causa da seca que obrigou as pessoas a abandonarem as terras. As pessoas passavam, às vezes, até meses a transportar o café para a cidade das Pombas. Mas isso já não acontece”, lamenta Benvindo Melo.

Apesar disso, a associação comunitária de Santa Isabel, segundo aquela fonte, está em vias de conseguir um financiamento de mais de dois mil contos para a promoção turística dessa zona, no âmbito do projecto “Rota do Café”, financiado pela Cooperação Luxemburguesa. A ideia é aproveitar a história do cultivo do café nessa zona para a promoção turística de Santa Isabel, com vista a criar oportunidades para as famílias locais.

Investimentos

A demora na concretização dos investimentos previstos para o sector cafeeiro em Santo Antão preocupa os produtores locais, que anseiam pela instalação da unidade de recepção, debulha e ensacamento do café, visando o relançamento desta cultura, de grande potencial na ilha. Além dessa unidade, os produtores desejam ainda a criação de uma cooperativa, que se encarregará da comercialização do café, tanto a nível nacional como para exportação.

Por outro lado, os produtores do café em Santo Antão reconhecem também que é preciso a união e organização dos cafeeiros para o relançamento desta cultura na ilha das montanhas. O café pode voltar a ser, a par do grogue, “um produto de referência” desta ilha e “uma mais-valia” para a economia local. 

 
ACN
(Publicado no A NAÇÃO impresso, nº 615, de 13 de Junho de 2019)

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