Por: Nataniel Barbosa Vicente e Silva
Domingos Sanches Tavares ou, se preferir, “Dimingu Biati”, como é popularmente conhecido, nasceu a 9 de Dezembro de 1934, em Ponta Lagoa, mais concretamente, no sítio de Cutelo, arredores da (então) Vila do Tarrafal onde ainda reside com a família. É primogénito de um humilde casal, Raimundo Sanches e Maximiana Tavares. Dos quatro irmãos, três rapazes e uma rapariga, apenas esta última se encontra viva.
Domingos Tavares é uma pessoa alegre, calma, simples, muito afável, mas, de poucas palavras.Suas principais preferências:
Dias de Semana: Domingo;
Mês: Dezembro;
Companhia: Mulher;
Música: Qualquer tipo;
Artista preferido: quem melhor canta;
O que mais detesta: Abuso;
O que mais gosta: simplicidade, e
Cor: Branca.
Alguns detalhes sobre a infância
Da infância do nosso entrevistado, poucas informações conseguimos, infelizmente, recolher, em virtude do seu estado físico já um pouco abalado. Isto é, está incapaz de recordar alguns factos relevantes da sua vida, em consequência, muito provavelmente das azáfamas do mar, tendo em conta que “Dimingu Biati”, segundo ele próprio nos avançou com um ar muito debilitado, na casa dos seus dez anos já acompanhava o pai à pesca, que também vivia dessa profissão. Que na infância pouco tempo lhe restava para brincadeiras com colegas do seu tempo. Hoje, é uma pessoa inactiva, não por causa da idade, mas por razões de saúde.
Em São Tomé e Príncipe…
Em 1954, “Dminigu Biati”, com 20 anos, troca a vida do mar por uma outra aventura: a emigração, à procura de novo sol. “Dimingu Biati” deixa a mãe, porque o pai já teria falecido, e embarca no navio “Ana Mafalda” rumo às terras de Sul Abaixo. Aí instala-se na Roça Porto Real, com um contrato assinado por três anos. Ali trabalha, arduamente, nas capinas e decide regressar, sem concluir o tempo estabelecido no contrato, devido a certos abusos que ali se verificavam, perpetrados pelos encarregados das roças. Apesar de aparentemente se apresentar como um indivíduo pacífico, de abusos não era homem para tal, segundo nos deu a perceber uma das filhas. Assim, nessa situação, regressa à terra antes do término do contrato.
De novo…a vida do mar
No Tarrafal, Domingos, ainda bem jovem, volta à lida do mar, como era dantes e só a deixa por motivos de saúde, como atrás foi referido.
Na Cidade de Mangui, os mais velhos consideram-no um dos pescadores mais antigos ainda vivos do Tarrafal.
O casamento
Estávamos no início de 1959, na casa dos seus 25 anos, quando muda o seu “status social”, contraindo casamento. A cerimónia ocorreu na Igreja Matriz de Santo Amaro Abade, em Fevereiro de 1959, com uma jovem rapariga de Ponta Gato, de 18 anos . A festa foi rija. Garante a mulher, sua esposa, Matilde Gomes Tavares: “Festa era bedju, sin”. E ironiza: “Ti ki katxor briga. Foi três dia di bran-bran”, conclui.
Matilde, mais conhecida por “Mamá di Ntónia”, foi, quando mais nova, uma mulher infatigável. Enquanto o marido lidava no mar, ela, de banheira à cabeça, se ocupava na venda de peixes para criar os filhos.
Hoje, uma septuagenária com os filhos todos já criados, se limita, também, por motivos de saúde, aos afazeres da casa, beneficiando, juntamente com o marido, de uma pensão social de cinco contos e 900, que ajuda a colmatar algumas necessidades da casa.
Do casamento, a conta foi bem equitativa: rendeu dez filhos, sendo cinco rapazes e cinco raparigas.
Entretanto, dos dez filhos que Deus lhes deu, dois são falecidos. Os oito vivos: três rapazes e cinco raparigas, todos já têm os seus rebentos.
Com uma certa emoção, avança Dona Matilde que o primeiro filho nasceu em 20 de Outubro de 1960 e faleceu com 44 anos e cinco dias, a 25 de Outubro de 2004. Curiosamente, cinco dias depois da morte do saudoso cantor Ildo Lobo, de quem é fã e grande admirador.
Na linhagem de Domingos Tavares e sua esposa, contam, também, 16 netos e cinco bisnetos.
Não podemos terminar este trabalho sem deixar expresso o nosso apreço e gratidão pela forma carinhosa e educada como fomos acolhidos por esta tão amável família: Domingos e esposa, filhos e netos, aos quais formulamos votos de muita saúde e muita prosperidade.
Tarrafal, aos 08-04-2019.
