Por: Filinto Elísio
Ao pequeno-almoço
Tomo o café da manhã qual ritual religioso. O meu corpo dá graças de se incorporar ao pão de cada dia e, ouvindo as notícias (de cá e de lá, como dirias!), sei que os bem-aventurados são os mansos em espírito. Tenho fé que move montanhas por cada fruta mastigada e, em comunhão àquela mais proibida, ajoelho-me à terceira margem para além do tempo. Seja este templo (com todos seus paramentos de lar) para a subversão essencial, minha liturgia…
Escola do Senhor Filinto
Aniversário do meu pai, Anastácio Filinto Correia e Silva (nome que o poeta Gabriel Mariano, seu antigo colega no Liceu “Gil Eanes”, considerava “quase alexandrino”). Faz 89 anos, bem contados, o filho dos meus avós António Leão Correia e Silva (Nho Ntoni Leon) e Ernestina Elvira Pereira Barros (Nha Elvira) e o marido (em verdade, viúvo) da minha mãe Herminia de Almeida Nunes de Aguiar Cardoso. Tem oito filhos – Antero Simas Correia e Silva, Flávio Correia e Silva, Osvaldo Correia e Silva, Elina Correia e Silva, Benilde Filomena Correia e Silva, Filinto Elisio Correia e Silva, António Correia e Silva e Alberto Correia e Silva. E esta “carruagem” de filhos, permitiu-lhe uma série de netos e bisnetos. Não vou entrar em detalhes, até porque quem haveria de gabar um pai extremoso senão um filho agradecido a Deus por ser da “escola do senhor Filinto”. Agradeço-lhe também o amar o livros, o jazz, o cinema e Cabo Verde. O mais, que é muita coisa, terei a fineza de um dia colocar em livro. Não me falte engenho e arte…
Rizocárpicos “nós”
As opiniões por cá não se fazem rogadas, dando largas aos ‘europeistas’ e ‘africanistas’ na ‘sinapse’ do sexo dos anjos. Dia da Europa (9) e do Dia da África (25), maio, com estas duas efemérides, ao invés dos enunciados e das proclamações bipolares, pedir-nos-ia aprender, aprender sempre; pensar (criticamente) com as nossas próprias cabeças (para estas e outras questões). O devir coletivo, que importa construir em consciência de si, soberania e democracia, reclama, também e antes que tarde, mais encontros e menos encontrões. Uma opção, firme em raízes, mas ousadamente rizocárpica. Equilibrarmo-nos pelos fios de arame da conjuntura internacional, afinal ‘destino de crioulo’; e fazê-lo, in between salvo seja, com alguma rede de proteção.
Bilingues
O bilinguismo é um ganho, ponto e basta. Sem muitos “poréns”. Tanto mais é se o sujeito porta-o de modo funcional, operatório e equilibrado. E se o faz com excelência, na fímbria da arte, melhor ainda. Ajuda a ativar o potencial cognitivo e neurológico como está cientificamente provado. Esta permanente alteridade e complementaridade linguísticas é um dos grandes ativos antropológicos, históricos e culturais da crioulidade, nossa definição primordial. Por conseguinte, é uma grande vantagem para Cabo Verde que assumamos (de corpo e alma) as duas línguas – a Cabo-verdiana e a Portuguesa -, corolário da nossa identidade compósita e complexa. Impendem-nos, tanto quanto possível neste tempo histórico, políticas (sim, políticas públicas) que garantam mais competência comunicativa e mais habilidade na fala, escuta, escrita e leitura das nossas duas línguas nacionais. Dominar este capital cultural, de molde à potenciação e ao seu perfeito “code switching”. Uma questão de soberania e de democracia. E, olhando sem complexos que acanhem (nem radicalismos que ceguem), uma questão de desenvolvimento.
Grande é a poesia
Há eventos que nascem na quietude da beleza e assentam suas peias, pé ante pé e sem espaventos. Searas assim, sem armaduras e com liberdade, resultam em frutos bons. Poesia a amadurecer no pé. A Nação fique desperta (e acesa) que o Tchon-poesia, cuja 1ª edição aconteceu no Mindelo, pela capilaridade que promete, veio para “ser grande”…