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Cultura

KJF: última noite foi mágica para os amantes do Jazz e soube a “Manga”

Chegou ontem ao fim a 11ªedição do Kriol Jazz Festival. Uma noite verdadeiramente mágica para os amantes do Jazz  puro. O lendário Lucky Peterson abriu a segunda noite do festival quando já passavam 20 minutos das 20h da noite. O som do “blues” norte americano invadia assim a Pracinha da Escola Grande já bem composta para ouvir este leão dos palcos.

Ora na guitarra, ora ao piano, a comemorar 50 anos de carreira Lucky Peterson, simplesmente deslumbrou a plateia. Conhecido por dar um toque de “rock and roll” às suas performances, um dos pontos altos da noite foi quando interpretou Johnny B. Goode de Chuck Berry e depois surpreendeu o público ao irromper pela plateia a tocar a sua guitarra. “O feedback do público foi lindo, lindo…não estava à espera”, disse aos jornalistas no fim.

Peterson diz não conhecer nada sobre a música de Cabo Verde, mas defende que toda a música é “liberdade” e que a sua música transparece essa “liberdade”. Em tom de brincadeira diz que mais 50 anos de carreira será um “grande desafio”.

Com o público bem aquecido e o recinto cada vez mais composto já eram 21h45 minutos quando Élida Almeida e Tiloun das Ilhas Reunião subiram ao palco para partilhar experiências sonoras. Tiloun arriscou no crioulo e até deu kutorno. Elida que foi previligiada ao ter actuado no AME na quinta-feira passada, voltou dois dias depois a actuar de no KJF ainda que num registo diferente ao lado de Tiloun.

O Índico e o Atlântico cruzaram-se assim no palco para um encontro de música e culturas. No fim Tiloun, que tinha já actuado também no AME, mostrou-se radiante por estar em Cabo Verde. “Em Cabo Verde toda a gente diz bom dia…O país é lindo, a comida fantástica. Sinto-me mais estrangeiro em França do que aqui…”.

 

O Jazz de Stanley Clark

Já com casa cheia, embora com menos gente que na primeira noite de Zeca Pagodinho, tinha chegado aquele que para muitos era um “sonho” aguardado. Stanley Clark subiu ao palco acompanhado de um excelente naipe de músicos de várias origens. “Viemos de Los Angeles, para tocar para vocês! Espero que gostem!”

E o Jazz voltou assim a invadir o palco, com o público vibrante e rendido ao contrabaixo e à guitarra de Stanley Clark. O músico americano fez uma homenagem a John Coltrane, uma lenda do saxophone e um dos melhores compositores de Jazz de sempre, ao interpreter “Song to John uma música que escreveu em 1974.

“Quando eu era novo tinha uma colecção de discos muito eclêtica, ouvia muita música…ouvia James Brown, Milles Davis, Coltrane, Jimi Hendrix, Led Zeppelling…Mas havia algo de único no John Coltrane, era um músico de Jazz e todos os músicos de Jazz que ouvia eram “cool” fumavam e tinham roupas “nice”. Mas o Coltrane foi o primeiro músico de Jazz que ouvi que trazia um espírito diferente na sua música. O primeiro álbum que comprei dele foi o “Love supreme”.

No fim não escondeu a alegria de estar na cidade da Praia. “Às vezes quando estou nas cidades sinto a Cultura…aqui há uma mistura de portugueses, africanos e até chineses e senti toda essa energia, mas o dominador mais forte é a presença de África. Isso fez-nos tocar ainda melhor. Quando vimos para estar parte do mundo, sentimos mais a essência do continente africano, dos nossos antepassados…é difícil de explicar. Temos mais energia”.

“Go Mayra, go…”

Estava assim quase a chegar ao fim o KJF 2019. Não antes sem subir ao palco aquela que era também uma das actuações mais aguardadas da noite. Mayra Andrade subia ao palco já depois da 1hora da madrugada para apresentar o álbum que marcou uma reviravolta sonora e até pessoal na carreira da artista – “Manga” – lançado em Fevereiro passado.

Com a plateia ao rubro, e um grupo de fãs adolescentes que gritaram e cantaram, do princípio ao fim as suas letras, Mayra Andrade revelou em palco o porquê deste novo álbum estar a fazer tanto sucesso nos palcos da Europa.

“Estou extremamente emocionada. É a primeira vez em Cabo Verde desde que este meu novo filho nasceu…”, disse depois de ter entrado em palco ao som de “Afecto”. Sempre com o público ao rubro, Mayra cantou e encantou ao som das músicas do novo álbum como Vapor di Imigrason e “Manga”. Este último tema, que dá nome ao disco,”impróprio para crianças” como dizia alguém na plateia.

Enérgica, comunicativa e “sensual”, Mayra entoou ainda que, com nova roupagem sonora, alguns dos seus sucessos. “Tunuka”, “Ilha de Santiago” e “Lua”. Houve até espaço para para uma kizomba neste festival de Jazz, ao som de “Nha Baby” o dueto de Mayra com Nelson Freitas.

Mayra disse esperar poder actuar “mais vezes” no arquipélago e levar “Manga” a “todas as ilhas”.

Já quase perto das 3horas da madrugada chegava assim ao fim mais uma edição do KJF.

Segundo a organização no primeiro dia passaram pelo festival 3.100 pessoas com a casa completamente lotada, enquanto na noite de ontem, apesar de ter casa cheia também, já se circulava com alguma tranquilidade no recinto. Orçado em 29 mil contos o festival é já uma referência no circuito de festivais do gênero no continente africano.

Para o ano o Jazz e as fusões de músicas do mundo estão de volta à Pracinha da Escola Grande.

Gisela Coelho

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