Médicos Sem Fronteiras consideram que a actual resposta está “a ser tóxica”, a começar pela “crescente militarização” da mesma.
A resposta à epidemia de Ébola na República Democrática do Congo (RDCongo) “está a falhar” o objectivo de controlar o surto e a “aprofundar o clima de desconfiança” nas comunidades afectadas, denuncia a Organização Médicos Sem Fronteiras (MSF).
A actual resposta ao surto de Ébola nas regiões afectadas de Katwa e Butembo, na província do Kivu Norte, está “a ser tóxica”, a começar pela “crescente militarização” da mesma, afirmou a presidente da MSF, Joanne Liu, quinta-feira, 7, numa conferência de Imprensa em Genebra (na suíça) – citada pela Lusa.
Mas um “cocktail” de factores tem contribuído para esta crescente falta de confiança entre as comunidades, o que resulta na “consequência preocupante” de continuarem a surgir “novos casos de pessoas contaminadas exteriores à cadeia de transmissão”, ou seja, “o surto não está circunscrito” e o Ébola “ainda está por cima”.
“No epicentro da epidemia, em Katwa e Butembo, 43 por cento (%) dos pacientes, nas últimas três semanas, foram infectados sem que fossem conhecidas ligações a outros casos”, reforçou a médica.
O Ébola infectou, até agora, 907 pessoas na RDCongo e matou 569, segundo a MSF.
As autoridades congolesas têm que deixar de tratar o surto como “um caso de ordem pública” e devem abandonar “o aumento da força” na resposta, afirmou a activista. “Trata-se de uma epidemia”, reforçou.
Há uma “grande hostilidade” entre as comunidades afectadas “contra a resposta ao Ébola” e os “mais de 30 ataques” contra o pessoal da resposta médica nas últimas semanas ilustram essa hostilidade, afirmou Joanne Liu.
Vários ingredientes estão na origem destas tensões – segundo a MSF, citada pela Lusa -, desde “a canalização massiva de recursos que se focam apenas no Ébola numa região negligenciada, afectada por conflitos e violência e necessidades sanitárias antigas, ao adiamento da realização de Eleições, justificado pelo surto do Ébola, exacerbando as suspeitas de que o Ébola está a ser usado numa conspiração política”.
A resposta à doença “terá que tomar um novo caminho”, afirmou Joanne Liu, explicando que “devem ser dadas alternativas aos pacientes e às suas famílias”.
Por outro lado, a vacinação, que ultrapassa já as 80 mil pessoas, “terá que chegar a mais população e, para isso, são necessárias mais vacinas”.
“A resposta ao Ébola terá que ser centrada no paciente e na comunidade. Os pacientes têm que ser tratados como pacientes e não como uma espécie de ameaça biológica”, concluiu a representante dos MSF.