A decisão de Donald Trump DE retirar as tropas norte-americanas da Síria e reduzir a presença destas no Afeganistão suscita numerosas interrogações sobre a nova estratégia militar e política estrangeira de Washington.
Desde logo, a decisão de sair da Síria provocou a demissão do secretário da Defesa, Jim Mattis, em total desacordo com esta decisão de Trump.
Estas retiradas constituem um virar de costas a décadas de doutrina intervencionista dos Estados Unidos da América (EUA) no Médio Oriente e Afeganistão. Alguns observadores, mais pessimistas, admitem que estas alterações políticas possam provocar novos banhos de sangue.
Para o republicano Mac Thornberry, que preside à Comissão da Câmara dos Representantes para as Forças Armadas, a redução militar no Afeganistão vai permitir que os talibãs “se reforcem e finalmente lancem ataques terroristas contra os (norte-) americanos”.
O senador democrata Tim Kaine, por seu lado, fustigou um Presidente “que dá a prioridade aos seus objetivos políticos à custa da segurança” dos EUA e que “destrói as parcerias forjadas com os aliados” dos norte-americanos.
Mas, para muitos, que não só os apoiantes de Trump, a decisão acaba com uma guerra até agora interminável e custosa.
Cerca de dois mil militares dos EUA estão no Nordeste da Síria, ao lado da coligação árabe-curda que combate o grupo que se designa por Estado Islâmico. A sua saída vai deixar a milícia curda YPG sem apoio militar, quando o Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, ameaça atacá-la, apesar de ter dito hoje que não tenciona fazê-lo imediatamente.
No Afeganistão, os talibãs declaram-se “mais do que felizes” com a retirada parcial dos norte-americanos, que, segundo a imprensa, deve ascender a sete mil militares, o que representa metade do contingente.
Bill Roggio, especialista do Afeganistão no centro de reflexão “Foundation for Defense of Democracies” (Fundação para a Defesa das Democracias), sublinhou a confusão da política dos EUA no Médio Oriente.
A porta-voz da Casa Branca, Sarah Sanders, recorda que a decisão de Trump não é surpreendente. Em declarações na estação televisiva “Fox News”, disse que este já falava do assunto “desde o início da campanha eleitoral” em 2015, com o seu slogan “America First” (Primeiro a América).
Ao sair da Síria, Trump acaba com outra prioridade do seu governo em política estrangeira, anular as intenções expansionistas do Irão, apoio permanente do regime de Bachar al-Assad.
Os aliados internacionais dos EUA na luta contra o Daesh não escondem a sua inquietação.
A ministra de Defesa francesa, Florence Parly, garante que o trabalho não está “terminado”, explicitando que “o risco, ao não acabar este trabalho, é o de deixar perdurar estes grupos, o que lhes permite retomar as suas atividades”.