Por: Edson Santos
Nem por isso.
Estudos indicam que os homens primitivos tratavam os animais de uma forma mais nobre. Em algumas civilizações os animais eram adorados como deuses. Em outras os animais eram enterrados junto com os donos. Atualmente podemos observar sinais desta nobreza em alguns países, por exemplo na Índia, as vacas são adoradas como deuses, havendo até regulamentos especiais ao seu tratamento.
Lamentavelmente em algumas civilizações atuais os animais têm perdido o respeito e consideração que outrora detinham. E, em Cabo Verde, temos verificado o desrespeito à vida dos animais que estão sendo tratados como meras “coisas”, simples “objetos”, susceptíveis a serem descartados ou eliminados a qualquer momento.
Consequência talvez do crescimento económico, de uma pressão para o consumismo, para a posse de bens materiais em detrimento da proteção da vida e do meio ambiente. Observa-se hoje em Cabo Verde a perda de valores e princípios outrora observados. A forma como temos tratado os animais hoje em dia é diferente da forma como eram tratados antigamente.
De acordo com as minhas memórias, era comum haver em cada família, animais de estimação. As vezes um ou dois cães, ou gatos. Eram protegidos, adorados e havia até muita competição de quem tinha o melhor animal. Havia conflitos para escolher o melhor filhote das ninhadas, e era comum as crianças formarem mini matilhas, cada um com o seu cãozinho.
Ao pensarmos no panorama atual em Cabo Verde, e em especifico nos cães de rua, é escandaloso verificar algum destrato. Os cães são capturados em todos os municípios, manipulados de forma cruel e abatidos como inimigos de guerra. Sendo Cabo Verde um país membro de entidades internacionais que ditam diretrizes da forma como a humanidade deve encarar os animais, citamos a OIE (Organização Mundial da Saúde Animal), a FAO (Organização Mundial das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura) e a OMSA (Organização Mundial da Saúde Animal), essas práticas deveriam ser reprovadas no país.
A OIE, através do Código Terrestre para a Saúde Animal, no seu capítulo 7.7, apresenta um conjunto de recomendações baseadas na ciência e na ética humana, mostrando de como os países podem lidar com os cães, e em particular a forma como poderemos controlar a população canina na rua. Através deste guia a OIE aponta que o controlo de cães errantes deverá ser baseado em dois princípios fundamentais:
A promoção da posse responsável de cães pode reduzir significativamente o número de cães errantes e a incidência de doenças zoonóticas.
Como a ecologia dos cães está ligada às atividades humanas, o controle eficaz das populações de cães tem de ser acompanhado por mudanças no comportamento humano.
Ou seja, estes dois princípios indicam que é o nível de responsabilidade dos seres humanos a chave para o controlo da população canina. Através deste guia a OIE apresenta todas as ferramentas éticas para a edificação de um Programa Nacional de Gestão canina, baseada na ética e na ciência:
A OMSA, através do Guia para a Gestão da População Canina, apela a uma tolerância em relação à presença de cães na rua, bastando haver um controlo assertivo da saúde dos animais e a posse responsável dos mesmos. Neste guia é apresentado modelos de classificação da população canina, tais como:
Cães com dono, vivendo em casa;
Cães com dono, vivendo na rua;
Cães de comunidades, vivendo na rua; e
Cães errantes ou cães de rua, sem dono (erroneamente denominados de cães vadios).
Para uma gestão eficaz da população canina bastaria que os cães com dono fossem controlados em termos de saúde, registo e identificação e, que a reprodução fosse licenciada e controlada ao longo do tempo. O modelo de gestão canina da Holanda é um exemplo de sucesso indicado nos dias de hoje, sendo que neste país a presença de cães na rua è quase nula.
A Holanda tornou-se o primeiro país, pois foram estabelecidas sanções duras para quem abandonasse animais na rua, com multas pesadas, e em paralelo foram lançadas fortes campanhas se castração e sensibilização.
Assim como a OMS, também a FAO apresenta documentos orientativos para uma Gestão Ética da População canina, em especifico através do documento “Dog Population Management, by FAO/WSPA and IZSAM – 2011”.
Portanto, sendo um país membro de todas estas entidades internacionais, e com excelentes quadros a dirigir entidades internacionais, como é o caso da Diretora Geral Adjunta da FAO, urge a adoção destas diretrizes para que a imagem do nosso país não seja posta em causa.
Práticas desumanas, como as que têm sido verificadas no controlo da população canina deverão, com urgência, PARAR.
Afinal, “a grandeza de um País e seu progresso podem ser medidos pela maneira como trata seus animais”, segundo Mahatma Gandhi.