Por: Inelson Costa
Vivemos tempos bastante controversos, de incertezas absolutas e de indecisões. Perante fenómenos, pequenos mas sangrentos, de fundamentalismo islâmico; muitas vezes, perante reações contrárias, também fundamentalistas; perante a necessidade de uma educação para o diálogo e o conhecimento mútuo, faz sentido a disciplina de Educação Moral e Religiosa na escola? E o que é que ela pode fazer por estas situações?
A disciplina de Educação Moral e Religiosa ajuda os jovens a tomarem consciência do património e da cultura sobre o qual se fundamenta a civilização Ocidental. Portanto, não só introduz as interrogações universais sobre a existência humana, como oferece a todos, cristão ou não, a possibilidade de compreender a sociedade e a cultura do nosso país. Neste sentido, a disciplina tem, pois, um alcance cultural e “um valor educativo”. Orienta-se para formar personalidades ricas de interioridade dotadas de força moral e aberta aos valores da justiça, da solidariedade e da paz, capazes de usar bem a própria liberdade.
Do meu ponto de vista, a Educação Moral e Religiosa e a Catequese não são atividades em alternativa: “A relação entre o ensino religioso e a catequese é uma relação de distinção e complementaridade. Cada uma delas tem a intencionalidade própria do seu espaço de intervenção.
A presença, cada vez mais visível, de religiões diferentes daquela católica, são sem dúvida alguma uma riqueza. A Educação Moral e Religiosa na escola ajuda a abrir o diálogo para a sã convivência e o respeito pelas diferenças.
Marginalizar a dimensão religiosa é ingénuo e anti-humano, porque quer privar a pessoa de uma dimensão essencial que se revela indispensável. Hoje ainda mais. As raízes religiosas são um tesouro, direi único, ao qual se deve aceder para evitar a cultura do descarte que vivemos. Riqueza que nos retira do individualismo exasperante e dos conflitos por interesses económicos que destroem apenas por «lucro pessoal ou empresarial».
O objetivo da educação Moral e Religiosa na escola não se reduz à transmissão de informações, mas pretende ajudar os alunos a adquirir uma “sabedoria”, uma tensão constante na procura do conhecimento, acompanhada pela consciência que a verdade está sempre para além da própria compreensão do ser humano. Neste sentido, o trabalho destes professores é de acompanhar os jovens na formação de uma identidade livre e responsável e de um olhar crítico sobre a realidade.
O Papa Francisco, num discurso que fez em 2013 a alunos de escolas orientadas por jesuítas, disse: «A escola é um dos ambientes educativos no qual se cresce para aprender a viver, para nos tornarmos homens e mulheres maduros, capazes de caminhar e percorrer a estrada da vida. Como é que a escola vos ajuda a crescer? Ajuda-vos não só no desenvolvimento da vossa inteligência, mas na formação integral de todas as componentes da vossa personalidade.»
Pegando nas palavras do Papa, vemos que é necessária uma formação completa da pessoa. Não podemos transcurar a dimensão religiosa. Aliás, não se poderiam compreender muitos dos acontecimentos históricos; muitas das obras literárias e artísticas e, sobretudo, perceber e entender a motivação profunda que move tantas pessoas a conduzir a sua vida em nome de princípios e de valores anunciados à dois mil anos por Jesus de Nazaré.
O conhecimento da religião cristã tem um papel fundamental na compreensão da sociedade atual porque permite perceber os aspetos importantes da nossa identidade cultural e ajuda-nos nas relações com as pessoas de culturas e religiões diferentes.
Portanto, podemos afirmar que a disciplina tem em vista a formação global do aluno que permita o reconhecimento da sua identidade e, progressivamente, a construção de um projeto de vida pessoal de vida.
A Concordata assinada entre a Santa Sé e a República de Cabo Verde no ano de 2013 é o suporte jurídico que legítima a Educação Moral e Religiosa nos estabelecimentos de ensino não superior. Neste sentido, esperemos que a disciplina seja oficialmente implementada nas escolas públicas.