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Opinião

3. Sugestões para a melhoria e preservação prolongada da saúde e da qualidade de vida

Por: Arsénio Fermino de Pina

 

Relativamente às gorduras do organismo, há três tipos: a estrutural, que ocupa os espaços entre os órgãos protegendo-os; a gordura de reserva, que se encontra em todo o corpo, de que o organismo lança mão em caso de necessidade de energia calórica e para protecção contra o frio; um terceiro tipo, anormal, das pessoas com excesso de peso. Quando os obesos fazem dietas estrictas, perdem primeiro os dois tipos normais de gordura, ficando com a face um pouco emagrecida, cansados, com fome, mas as suas ancas, cinturas, coxas e braços, pouca diferença acusam. A má gordura permanece quase intacta.

A obesidade pode ter três causas: hereditária, dependente de alterações do hipotálamo/diencéfalo (cerebral) ou então na quebra da capacidade do diencéfalo, antes normal, de controlar o armazenamento da gordura, e um enorme fornecimento de alimentos para além das necessidades do organismo.

O tratamento da obesidade não é fácil, exigindo, além de dieta, nos casos mais renitentes, a intervenções cirúrgicas (banda gástrica e redução de 70% do tamanho do estômago e sua ligação ao intestino) incluindo várias cirurgias estéticas para eliminação da má gordura e excesso de pele. A de origem diencefálica deve ser tratada com hormonas do diencéfalo sob orientação médica por especialista (endocrinologista). O melhor, portanto, é evitar a obesidade por excesso de comida. Ter sempre presente que quando se abusa de farináceos e de açúcares, o nosso organismo utiliza-as para obter energia para o seu funcionamento e guarda as gorduras. Como, actualmente, se introduz açúcar em tudo, até mesmo nas carnes processadas, e se faz pouco ou nenhum exercício físico, não é de admirar a prevalência da obesidade. Nunca tinha visto tantos obesos, sobretudo mulheres, em Portugal! As grandes obesidades começaram nos EUA após a introdução dos “alimentos de plástico”, vulgarização da TV e uso de automóveis, posteriormente exportados para a Europa.

E essa riola de colesterol? Parece-me que o colesterol tem sido responsabilizado por culpas que não lhe cabem inteiramente derivadas de outros factores. Vamos tentar esclarecer alguns pontos.

70%do colesterol é produzido no nosso organismo, sobretudo no fígado. Somente 30% provêm da alimentação, sendo utilizado como verdadeiro cimento na reparação dos músculos, a nível do cérebro na formação de sinapses, na constituição de hormonas, em particular das sexuais, na síntese da vitamina D3, das hormonas da tireoide, sendo que uma pele com níveis insuficientes de colesterol não é capaz de produzir a Vit.D3. Investigações relativamente recentes comprovam que ¾ das pessoas que sofrem um primeiro ataque cardíaco têm níveis normais de colesterol e que muitos tipos de tratamento para combater taxas altas de colesterol acabam por ser bem mais nocivas, sobretudo com Estatinas, pelos seus efeitos secundários (não obstante a sua eficácia no abaixamento do colesterol sanguíneo), inibição da função da desconhecida vitamina K2 necessária para proteger as paredes arteriais de calcificação, danos na mitocôndria prejudicando a produção de ATP (responsável pela energia do músculo cardíaco), interferência com a produção da coenzima Q10 necessária à mitocôndria para a produção de ATP, além de interferir igualmente com a enzima do glutatião e certas proteínas importantes para a prevenção do dano oxidativo do tecido muscular. Afinal, a placa ateromatosa que reduz o diâmetro da artéria e a entope é sobretudo constituída por fibras do músculo liso das artérias, cálcio, ferro e colesterol, sendo este minoritário, funcionando como um penso curativo reparador do desgaste provocado pela inflamação da parede das artérias; esta – a inflamação da parede arterial – é a verdadeira causa da formação da placa ateromatosa e da arteriosclerose. O biomarcador da inflamação é a Proteína C Reactiva (PCR), que deve estar abaixo de 0,5.

Claro que uma taxa elevada de colesterol (o tal mau – LDL – a forma transportadora do colesterol do fígado para os tecidos) é um sinal preocupante que nos indica que estamos a fazer exageros na alimentação com excesso de gordura e a levar uma vida muito sedentária, sem exercício físico. As “Estatinas” são fármacos bastante eficazes para fazer baixar o colesterol por bloquearem a enzima responsável pela sua produção (HMGCoA redutase). Devido aos seus efeitos secundários, as Estatinas deveriam ser limitadas à chamada hipercolesterolemia familiar, doença rara com taxas de colesterol acima de 330, mas sempre acompanhadas do antioxidante CoQ10 ou “Ubiquinol”, e a formas graves de altas taxas de colesterol, mas temporariamente, enquanto não se corrigem os excessos de vida causadores de tal elevação do colesterol.

Relativamente aos triglicéridos, relacionados com níveis altos de insulina, para os fazer baixar, bastará diminuir todos os cereais e derivados, como o pão, massas, bata inglesa, etc. sob todas as formas, e excesso de fruta, sendo a batata frita um dos responsáveis pela obesidade em crianças, bem como os sumos com excesso de açúcar.

Propagandeiam-se muito os suplementos alimentares, com e sem razão. Em Cabo Verde, o esgotamento dos solos devido a exploração intensiva, sem poisio para que possa recuperar qualidades perdidas, não se põe, mas na Europa e EUA é um problema grave que acarreta enorme empobrecimento dos solos em vitaminas e sais reflectido na fruta, tubérculos, cereais e da hortaliça produzidos. Daí a necessidade de suplementação dos alimentos com substâncias sintéticas de boa qualidade.

Além de vitaminas e alguns sais das tradicionais polivitaminas (desconfiar das formas farmacêuticas com dezenas de vitaminas, sabendo que a maioria, com raras excepções, necessitam de pelo menos 100 mgr para terem alguma acção), aconselha-se cálcio, magnésio e a desconhecida vitamina K2 (Menaquinona 7= MK-7) que estimula a produção de duas enzimas: a proteína matriz do ácido glutâmico e a osteocalcina, cuja função é remover o cálcio dos tecidos moles e paredes arteriais para o fixar nos ossos e dentes. A Vit. K2 está presente nos alimentos fermentados e é produzido por algumas bactérias durante o processo de fermentação. A Vit. K2, cálcio, magnésio e vit D3 actuam juntas sinergicamente e devem ser tomados sempre em conjunto. Leon Schurgers, o cientista que mais investigou a Vit.K2, reconhece-lhe outra virtude, a de melhorar a sensibilidade à insulina. O Dr. Pinto Coelho aconselha, da sua prática clínica, 100 micrograma de Vit. K2 por cada 10.000 U.I. de Vit. D3. A Vit. K2, não sendo tóxica, é capaz de barrar com eficácia a inflamação crónica e doenças associadas (artroses, diabetes, Alzheimer, etc.). 100 a 200 microgramas por dia de Vit. K2 é suficiente. As suas melhores fontes naturais são a couve, o espinafre e os brócolos, acompanhados de uma gordura de qualidade, visto ser lipossolúvel, associação em que geralmente é apresentada sob a forma de pérolas. Relativamente à Vit. D3 é uma hormona, e não vitamina, por ser produzida pelo organismo sob a acção dos raios ultravioletas do Sol, por um dos tipos, por sinal o tipo cuja acção a maioria dos cremes protectores solares diminui a acção, em vez de agirem sobre os que produzem cancro da pele (melanoma). Não admira, pois, que o número de melanomas tenha triplicado desde 1972 após o aumento do uso desses cremes protectores. Há cremes realmente protectores, mas mais caros.

São boas fontes de magnésio, o espinafre, brócolos, nabiça, tomate, sementes de linhaça, amêndoas, nozes, caju, chocolate negro, abacate, grãos de sésamo e sementes de girassol. Sintomas de carência em magnésio: fraqueza muscular, cãibras, contraturas musculares, insónia, desmineralização, aumento de gordura no sangue. Dose diária para o homem, 330 mg, e 420 para mulheres.                                           [continua]

Parede, Abril de 2018                                                                 *Pediatra e sócio honorário da Adeco

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