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Cultura

Gota d’Arte, um espaço de pequenos talentos

O espaço cultural “Gota d’Arte”, situado na Achadinha, procura incutir nas crianças e jovens a educação pela arte, com foco na dança, música, representação e outras expressões. Este projecto, pensado pela bailarina e coreógrafa Bety Fernandes, e o percussionista Ndu Carlos, também tem um impacto social nas comunidades por trabalhar com crianças e jovens oriundos de meios sociais menos favorecidos.

O Espaço Gota d’Arte é uma associação cultural criada em Janeiro de 2011 para fomentar a educação através da arte nas crianças e jovens, proporcionando-lhes uma experiência de aprendizagem cultural, artística e de autoconhecimento, através da dança, música, representação e artes plásticas. O projecto tem dado, aos mais jovens, ferramentas que lhes possibilitam estar na vida, na música, na dança, na matemática ou na física, com valores internos e de respeito pela sociedade e pelo meio ambiente.

Segundo os mentores, esta tarefa é “árdua, mas facilitada pelo amor” com que esta escola faz este trabalho desde 2011. Ndu Carlos, percussionista angolano que toca com vários artistas e que há dez anos vive em Cabo Verde, juntou-se com a bailarina e coreógrafa do Raiz di Polón, Bety Fernandes, e idealizaram o Gota d’Arte, um espaço aberto, como forma de partilha de experiências.

“Decidimos abrir esse espaço como forma de estar e acompanhar o crescimento das crianças, partilhando a nossa experiência na arte, tanto na música, como no teatro, dança, artes plásticas. Somos um espaço aberto a receber quem quer entrar e estar connosco”, afirma Ndu Carlos.

Nesses cerca de oitos anos, Gota d’Arte já trabalhou com aproximadamente 500 crianças, resultando em já três discos infanto-juvenis: Nôs é tudu pikinoti; No olhar das crianças; e Konbersu di amigus, este último lançado no ano passado, priorizando a inclusão social das crianças e adolescentes carenciados e portadores de alguma deficiência.

“Konbersu di amigus” junta um grupo de crianças e jovens em conversa sobre vários assuntos, tais como a família, educação, direito das crianças, tradição, cultura, arte, amizade, sociedade e, claro, as brincadeiras. Conversas essas que se transformaram em músicas.

Crescimento

Os jovens que tocaram nesses discos foram crescendo e tendo outros interesses, tanto musicais como em todos os aspectos. Por isso, segundo Ndu Carlos, agora um dos projectos em andamento é o que chamaram de “New Generation”, em que consiste em convidar músicos, independentemente de terem formado na Gota d’Arte, de modo a conhecerem-se e criar um ambiente em que daí pudesse sair novos projectos. Dentro desse projecto “New Generation” formou-se a banda do jovem Marino, que tem a particularidade de compor as suas próprias músicas.

“Achamos que seria interessante um projecto mais comercial. Então, falamos com o Marino e ele aceitou a nossa proposta e estamos a dar os primeiros passos na produção de um disco da banda, com jovens que fizeram parte dos discos anteriores”, revela Ndu Carlos.

Gota d’Arte é uma associação sem fins lucrativos e, por isso, teve que se juntar a outras pessoas, parceiros com a mesma visão, e criar uma outra marca. Daí nasceu a marca “Xintidu”, a editora que produz a banda Marino e que está a trabalhar com outros artistas que estão no mercado há já algum tempo mas que ainda não lançaram nenhum disco.

“Já saiu o primeiro vídeo-single da banda Marino, que se chama “Amor pa Cabo Verde”. Agora, estamos a esforçar para que o disco saia no final deste ano. A base do CD é afro-pop”, adianta o percussionista angolano.

Espírito de equipa

A Gota d’Arte também esta á trabalhar com crianças do centro de Lém-Cachoro, sobretudo na transmissão de valores e mudanças de comportamento. Neste momento, o espaço recebe cerca de 50 crianças, inclusive do Instituto Cabo-verdiano da Criança e do Adolescente (ICCA) e da Morabi. Bety Fernandes trabalha na área artística, dança e teatro, mas entende que a associação pode abordar outros valores, como a educação e o comportamento.

“A parte que me dá mais gozo é a convivência, partilha, e desenvolver a capacidade criativa para ajudar-lhes na escola. Um dos objectivos fortes que temos é não só a área artística como também a parte educativa”, afirma a nossa entrevistada.

Neste sentido, Ndu Carlos admite que um dos aspectos importantes, quando se trabalha com crianças, é a comunicação e, através da arte, “tudo fica mais fácil”.

“Se juntas um grupo de crianças e propões que cantem uma música ou toquem alguns instrumentos, eles vão ter de conversar. É um interesse comum. Estamos a desenvolver este projecto para elevar o hábito de perceber quem é que eles são, o quê querem e a importância de cada um dentro de um dado grupo quando há um interesse em comum. A arte ajuda nisso”, garante.

Inclusão social

O Espaço Gota d’Arte tem vindo a priorizar a inclusão social das crianças e adolescentes carenciados e portadoras de alguma deficiência. Um dos casos é do jovem baterista conhecido por Tidey, portador de deficiência visual, mas que sempre esteve ligado à música.

“Conheci o Tidey quando começamos a trabalhar o primeiro projecto ‘Nôs é tudu pikinoti’. Quando vai tocar, ele reconhece onde estão as peças e toca normalmente. É um jovem que está a crescer bem na música, está a evoluir e, continuando a trabalhar, acho que vai ser um bom músico”, afirma Ndu Carlos, perspectivando o futuro do seu discípulo.

Tidey, jovem dinâmico, a sua deficiência visual não lhe impede de fazer aquilo que ele quer. Anda de patins, de bicicleta, joga ‘playstation’ e, por isso, a questão visual em relação a bateria é um simples pormenor.

ACN

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