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Opinião

A pobreza intelectual em Cabo Verde

Por: Olímpio Tavares

A maior pobreza que um indivíduo pode ternos dias de hoje é a pobreza intelectual. Está constatação foi feita há muito tempo por grandes pensadores. A pobreza intelectual é a incapacidade parcial ou total de um indivíduo em analisar, interpretar e compreender um conjunto de conhecimentos, sobretudo científico e filosófico. É também a incapacidade de produzir conhecimentos  ou algo que contribui para o património intelectual da humanidade.

As raízes da pobreza intelectual são várias. Em Cabo Verde tem que ver sobretudo com a herança Cultural, a pobreza material, a religião e o orgulho excessivo dos cabo-verdianos.

A herança Cultural contribui para a nossa pobreza intelectual na medida em que fomos colonizados por um país que no seu gérmen possui uma mentalidade pobre e atrasada. Portugal, como se sabe, é um país pobre do ponto de vista intelectual desde os tempos remotos. Isso pode-se constatar na sua longa história ao não encontramos contributos significativos do ponto de vista científico e filosófico. Essa inércia intelectual dos portugueses contaminou os cabo-verdianos durante a colonização e continua ainda a contaminar nos dias de hoje, como se pode constatar nos vários projetos nacionais nos quais os portugueses estão envolvidos.

Recebemos também uma herança Cultural por parte dos africanos, que contribui fortemente para a nossa pobreza intelectual. Essa influência negativa, nota-se nas crenças populares, como por exemplo: a crença na feiticeira, a crença no finado, a crença no prodígio dos mestres e astrólogos, etc.

A pobreza material constitui um outro elemento fundamental que suporta a nossa pobreza intelectual. A intelectualidade está intimamente ligada à prosperidade económica. Aliás, só quem tem assegurado os bens materiais suficientes está apto a cultivar a sua intelectualidade. Um pobre que não tem os bens materiais suficientes para o seu sustento terá  de colocar em primeiro lugar os bens materiais e a seguir, se houver tempo e possibilidade, dedicar-se-á às outras atividades do espírito.

O terceiro elemento que contribui grandemente para a nossa pobreza intelectual é a religião. Isto porque incute nas pessoas uma ideia negativa da ciência e da filosofia. Chega-se muitas vezes ao cúmulo de afirmar que tais saberes constituem obras de demónio e assim sendo não vale a pena cultivá-los. Essa ideia passa-se facilmente porque o nosso povo, na sua maioria, possui pouca capacidade crítica. Além disso, o fideísmo excessivo incutido desde a tenra idade por entidades religiosas bloqueia qualquer tipo de pensamento crítico e criativo que pretenda ser diferente do pensamento religioso. Muitos “profissionais da fé” chegam mesmo a afirmar que determinados pensamentos não são legítimos, uma vez que não corresponde a vontade divina e nem está escrito na bíblia.

Por fim, há que não esquecer que os cabo-verdianos são, na sua maioria, orgulhosos. Alguns pensadores da antiguidade, nomeadamente Sócrates, chamam a atenção de que o orgulho excessivo contribui para a nossa pobreza intelectual e, consequentemente, para a nossa ignorância. A justificação desse facto é a seguinte: tendo em conta que o orgulhoso pensa que sabe tudo e não está disposto a sujeitar os seus pensamentos à crítica alheia, mesmo que estiver errado na sua posição, nunca o saberá. Porque a consciência do erro provém sobretudo do confronto do nosso pensamento com o dos outros. Ninguém consegue ter um conhecimento sólido se não o sujeitar ao crivo da crítica. Nesse aspeto, os cabo-verdianos têm muito que aprender, porque, ao contrário do orgulho, a humildade parece ser a atitude mais correta de quem pretende diminuir a sua pobreza intelectual.

A pobreza intelectual dos cabo-verdianos é algo que pode ser constatado em nós próprios e nas pessoas com quem confrontamos as nossas ideias no dia a dia. Em todo caso, nada está perdido. O importante é tomar consciência dessa lacuna que, como se sabe, contribui de forma decisiva, para termos uma existência mais pobre. É duro dizê-lo, mas a verdade é que quem não conseguiu desenvolver a sua inteligência pelo menos a um nível médio, teve, lamente, uma existência mais pobre.

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